Por Carlos Júnior, publicado pelo Instituto Liberal
Na discussão sobre a preferência eleitoral da dita classe trabalhadora, detalhes importantes são omitidos. Este humilde artigo visa a esclarecer como o proletário, uma vez, em tese, pendendo naturalmente à esquerda, passou a dar vitórias acachapantes à direita. Para um melhor entendimento, cabe contar a história de onde tudo começou: a revolução industrial.
A revolução industrial não surgiu por acaso na Inglaterra. O país era um Estado liberal de direito há muito tempo, desde a Carta Magna até a vitória do parlamento na Revolução Gloriosa – quando a coroa finalmente foi obrigada a entender na marra a máxima ‘’o rei reina, mas não governa’’. Com a ausência de amarras estatais, a livre iniciativa foi pioneira na terra da rainha e fez surgirem dali as bases do que hoje conhecemos como capitalismo liberal.
Os primeiros tempos não foram fáceis. Com a baixa produtividade dos trabalhadores, esses eram submetidos a duras condições de trabalho. Jornada de trabalho de 16 horas, baixos salários, crianças e mulheres nas fábricas… Não foi um começo glamoroso, é verdade. Para quem conhece o personagem ‘’Oliver Twist’’, o que digo é de melhor compreensão.
Paralelamente, surgiu o marxismo. Dentre todos os fatores históricos e heranças culturais que prepararam o terreno para o surgimento de tal ideologia – ou conjunto de ideologias –, a péssima condição dos trabalhadores era alegada como a maior delas. O marxismo iria conscientizar o proletariado e livrá-lo da alienação, condição em que supostamente ele se encontrava. Usando da dialética hegeliana, o proletariado era a nova classe revolucionária, e da sua luta contra a burguesia o resultado seria a ditadura do proletariado, fase anterior ao comunismo pleno e o fim de todas as classes.
O marxismo, como toda ideologia revolucionária, pregava a ideia do Estado como meio a ser dominado e usado para um fim específico – no caso, o comunismo. Portanto, a economia deveria ser totalmente controlada pelo Estado para que duas coisas acontecessem: o fim da exploração, explicada pela teoria da mais-valia, e aniquilação da burguesia como classe através de expropriações ou até mesmo a aniquilação física dos integrantes da classe dominante.
A causa revolucionária ganhou adeptos em uma Europa ainda marcada pelas péssimas condições de vida dos trabalhadores. Com um capitalismo ainda frágil, ainda não era observado um aumento significativo da qualidade de vida da população. O discurso socialista era atraente aos trabalhadores e num primeiro momento o proletariado estava – ou parecia estar – dominado pela esquerda.
Veio o século XX e os comunistas acreditavam ser a Primeira Guerra Mundial a chance perfeita de a revolução acontecer. Com o seu internacionalismo, a causa nacionalista de guerra era fortemente rejeitada pelos comunistas. Era a hora certa para a revolução, certo? Errado. Com a guerra, o proletariado foi lutar por valores como família, pátria e religião, que são partes da denominada superestrutura de dominação burguesa. Com isso, sobrou ao comunismo tomar a Rússia de assalto, país agrário, sem proletariado urbano e com forte tradição patrimonialista.
Uma vez na Rússia, os comunistas quiseram nela implementar à risca a economia socialista. Porém, sua tentativa falhou miseravelmente. E ninguém mais ninguém menos que Ludwig Von Mises para demonstrar a inviabilidade da economia nos moldes comunistas com um raciocínio simples: com os meios de produção estatizados, não há preços. Sem preços, não há cálculo de preços. Sem cálculo de preços, não há planejamento econômico. Sem planejamento econômico, não há economia estatizada. Sem economia estatizada, não há socialismo. ‘’Comunismo’’ deixa de ser uma possibilidade, sendo agora algo que não pode ser realizado.
Os líderes comunistas, por mais burros que fossem, sabiam que a conclusão do economista austríaco era irrefutável. Permitiram então um capitalismo clandestino travestido de socialismo econômico – fato que não exime o comunismo de seus inúmeros crimes. Paralelo a isso, o avanço do sistema capitalista permitiu uma melhoria considerável na qualidade de vida dos trabalhadores. Com isso, suas aspirações revolucionárias iriam para o saco. Tais constatações não vieram de um liberal clássico, mas simplesmente de Herbert Marcuse, um dos membros da Escola de Frankfurt e ícone do esquerdismo americano.
Com a Escola de Frankfurt e o gramscismo, surge o ‘’marxismo cultural’’, a ideia de que a sociedade está numa permanente luta de classes: negros e brancos, gays e héteros, homens e mulheres, americanos e terceiro-mundistas. Sempre há um opressor e um oprimido. A ideia do marxismo cultural era dar continuidade à revolução, mas jogando na lata de lixo o proletariado. Como classe revolucionária, ele não servia mais. Seus interesses não eram mais revolucionários.
Se os valores da contracultura e do progressismo moral são agora os nortes revolucionários, o que resta ao proletariado? A sua maioria é conservadora, quer uma vida confortável e certamente tem religião – no caso ocidental é o Cristianismo. O caminho seguido pela classe trabalhadora foi óbvio: virar à direita. Tanto trabalhadores urbanos quanto rurais começaram a votar em partidos direitistas.
Daí que o proletariado, o mesmo a inicialmente dar apoio a partidos de esquerda, passou a votar na direita. Ele foi a base de apoio a Donald Trump, por exemplo – principalmente os trabalhadores de Michigan e da Pensilvânia. A classe trabalhadora é sim conservadora e quer mais livre mercado, não o contrário. O resultado disso vem sendo visto nas urnas.
Referências:
2.https://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=1923
3.https://www.youtube.com/watch?v=FGS2-A3MdcI
*Carlos Júnior é jornalista.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS