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Brasília (DF) 14/08/2024 Ministro do STF, Alexandre de Moraes, participa do seminário “A necessidade de regulamentar as redes sociais e o papel das plataformas na economia digital”, dia 14 de agosto
Brasília (DF) 14/08/2024 Ministro do STF, Alexandre de Moraes, participa do seminário “A necessidade de regulamentar as redes sociais e o papel das plataformas na economia digital”, dia 14 de agosto| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente.

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Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama, porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes. Continuou seu reinado de terror até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu, que, em sua última aventura, prendeu Procusto lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que infligia aos seus hóspedes.

Na cama de ferro de Xande, toda realidade se deita para ser amputada e se encaixar perfeitamente no script criado pelo ministro e seus cúmplices

Procusto significa "o esticador", e a cama de Procusto passou a significar a insistência a negar a realidade, cortá-la em pedaços até que se encaixe em sua visão preconcebida de mundo. Não importam os fatos, mas sim a ideologia, a narrativa. Para preservá-las, vale tudo, como amputar os "excessos" até que o tamanho fique exato, ajustado para o desejo do sujeito.

Lembrei dessa passagem da mitologia grega ao ler a decisão da turma alexandrina no STF, que endossou seu banimento monocrático do X do Brasil. A determinação de Moraes se deu com base na investigação policial que constatou "participação criminosa e organizada" de inúmeras pessoas para ameaçar e coagir delegados federais que atuam ou atuaram nos procedimentos investigatórios contra milícias digitais e a tentativa de golpe no 8 de Janeiro.

De acordo com a investigação, “as redes sociais – em especial a X – passaram a ser instrumentalizadas com a exposição de dados pessoais, fotografias, ameaças e coações dos policiais e de seus familiares". Eis a narrativa que "justificou" o injustificável, a censura. Na realidade, alguns bolsonaristas simplesmente expuseram o nome do delegado que vem agindo como capanga de Moraes, tornando-o figura pública. Não teve "doxxing", divulgação de endereço ou ameaça de qualquer tipo. Mas Alexandre cortou as pernas da realidade e pronto.

Como ele faz desde sempre no que resolveu chamar de "ataques antidemocráticos". Nessa vaga linguagem cabe absolutamente tudo que ele quiser! Críticas ao comportamento do ministro? Um "ataque contra a instituição do STF". Procusto aparando as arestas, degolando uma cabeça para ter seu discurso prévio intacto. Na cama de ferro de Xande, toda realidade se deita para ser amputada e se encaixar perfeitamente no script criado pelo ministro e seus cúmplices, que serve de pretexto para perseguir os conservadores.

A presença de Maduro ao lado é um incômodo para os verdadeiros golpistas no Brasil. Afinal, as semelhanças são tão gritantes que fica impossível de ignorar. Maduro realizou uma "eleição" claramente fraudada, depois prendeu quem ousou protestar, disse que cobranças externas eram "interferência" na "soberania nacional" e, por fim, mandou prender o principal opositor, aquele que efetivamente venceu. Para justificar, disse que ninguém está acima das leis. Poderia ser Alexandre repetindo cada gesto e palavra...

Paulo Guedes cantou a pedra: se a turma do PT voltar à cena do crime, como diria Alckmin, em um ano e meio o Brasil vira a Venezuela. Um ano e meio depois e estamos quase lá. Para concretizar a profecia, os comparsas de Lula contam com a cama de ferro de Xande, o Procusto moderno, que corta tudo que enxerga pela frente até restar o figurino exato que ele desenhou: somente ele está protegendo a democracia, e todos que insistem em criticá-lo estão atacando as instituições e precisam ser detidos.

Ao término do trabalho exaustivo, a democracia brasileira será tão relativa e desagradável quanto aquela do companheiro Maduro. E ninguém ouse falar em comunismo, pois o próprio Alexandre já disse que isso é bobagem de quem quer curtida em rede social...

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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