Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Cancelar assinatura de jornal de forma arbitrária denota mentalidade autoritária do presidente

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta quinta-feira (31) que determinou o cancelamento de todas as assinaturas da Folha no governo federal. Em tom de ameaça, o presidente também disse que os anunciantes do jornal "devem prestar atenção".

"Determinei que todo o governo federal rescinda e cancele a assinatura da Folha de S.Paulo. A ordem que eu dei [é que] nenhum órgão do meu governo vai receber o jornal Folha de S.Paulo aqui em Brasília. Está determinado. É o que eu posso fazer, mas nada além disso", disse, em entrevista à TV Bandeirantes.

"Espero que não me acusem de censura. Está certo? Quem quiser comprar a Folha de S.Paulo, ninguém vai ser punido, o assessor dele vai lá na banca e compra lá e se divirta. Eu não quero mais saber da Folha de S.Paulo, que envenena o meu governo a leitura da Folha de S.Paulo."

Mais tarde, em live nas redes sociais, Bolsonaro voltou ao tema e ameaçou anunciantes do jornal. "Não vamos mais gastar dinheiro com esse tipo de jornal. E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?", disse.

Para começo de conversa, Bolsonaro está apenas copiando Trump - e ele insiste em copiar os erros em vez dos acertos do presidente americano. Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou que as agências federais do país cancelassem as assinaturas dos jornais The New York Times e The Washington Post por discordar da cobertura que as duas publicações fazem de seu governo.

Governo cancelar assinatura de jornal não é necessariamente um ato de censura ou ditadura. E o presidente tem todo direito de se sentir alvo de perseguição por parte de certos veículos da imprensa. Muitos deixam transparecer seu viés, sua má vontade, seu preconceito ideológico mesmo.

Mas visto o conjunto da obra, o que assusta é a mentalidade autoritária: foi eleito, então o presidente tem o poder de comandar tudo do governo de cima para baixo, decidir filmes que levam verbas, quais jornais cada órgão do governo federal deve assinar etc.

Aí vem uma senadora do PSL propor levar "A voz do Brasil", isso sim ditatorial, para a TV, pois é preciso forçar as emissoras a mostrar o que o governo vem fazendo de bom. Eis aí a mentalidade da turma. Esquecem que, um dia, poderá ser a esquerda novamente no poder.

Getulio Vargas comemorou lá do inferno! E se o governo continuar errando tanto nesses aspectos, rachando a direita, a volta da esquerda ficará mais fácil ainda. E não adianta culpar o "liberalismo" de Macri pela volta do Foro de SP na Argentina, e depois poupar Bolsonaro se o mesmo ocorrer aqui. Ou pior: culpar os liberais por falta de apoio.

Os bolsonaristas precisam entender que a vitória nas urnas não é uma carta branca para decidir cada mínimo detalhe com base nas preferências pessoais e ideológicas do presidente. Se eles adotarem essa premissa, terão muitos problemas quando a esquerda estiver no poder.

Imaginem como reagiriam se um Lula determinasse que todos os órgãos do governo federal precisam assinar só a CartaCapital. Claro que uma decisão dessas seria repudiada, com toda razão. Por isso é preciso abraçar princípios republicanos, em vez de olhar só para qual lado o poder aponta.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros