Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal
Eu gosto de analisar certas histerias sociais. Acho engraçadas e pitorescas manifestações cujos adeptos, se gastassem uns 10 minutos de sincera reflexão sobre o modus operandi da turba e as consequência das ideias defendidas, com certeza diminuiriam pela metade.
Certa vez, na Avenida Paulista ― minha primeira vez na avenida mais famosa do país ― me deparei com uma manifestação vegana; moças e rapazes estavam panfletando suas ideias de amores aos animais em um teatro bizarro que envolvia um homem representando uma vaca no matadouro, só que com um detalhe: ele não era uma vaca. Ao mesmo tempo em que rolava a representação do abate do minotauro, uma menina de no máximo 20 anos tentava religiosamente me convencer de que o veganismo era o próximo estágio da evolução humana.
Tal afirmação apaixonada me pôs a pensar: a evolução humana estaria evidenciada, então, num prato de alfafa temperada com sal do Himalaia, e não ― por exemplo ― na obra Vênus e Marte de Sandro Botticelli? Então os nossos ancestrais chegaram ao Partenon e às catedrais góticas; 9ª sinfonia de Beethoven e 4ª sinfonia de Brahms; Suma Teológica e Divina Comédia; Pietà e La disputa del sacramento por mero desvio de propósito(?), pois segundo a vegana evolucionista o pico do progresso humano e civilizacional estaria, na realidade, em comer couve em vez de frango.
Por incrível que pareça, eu não tenho nada contra o veganismo, acho até fofo, apesar de contentemente preferir um churrasco mal passado a um pote de salada. Eu apenas não concordo com certas causas, meios e fins buscados por certos grupos. Tal discordância parece estar gerando mal-estares irreconciliáveis na modernidade; não é mais permitido, por exemplo, não achar que a igualdade social seja o remédio para a sociedade sem que tal opinião gere afoitos e violentos contrapontos e até boicotes.
No entanto, para azar de alguns, eu sou aquele tipo preconceituoso que separa o joio do trigo quando o assunto versa sobre princípios morais e políticos, que sorridentemente discrimina a burrice aclamada pelas massas, que abertamente é hostil a ideologias que aclamam ditadores e ditaduras progressistas. Eu sou aquele que, em uma escala de prioridades de consertos a serem realizados na humanidade, deixa o veganismo abaixo da volta da TV Globinho no lugar do programa da Fátima Bernardes. E aqui está o assunto de hoje: o uso da razão na escolha das batalhas que travamos.
A razão é a arte de escolher e elencar as prioridades de nossas vidas, traçar meios para alcançar objetivos e, também, de negar futilidades em busca de avanço ético e espiritual. Segundo Jordan Peterson, em 12 Regras Para a Vida: Um Antídoto Para o Caos, o nosso avô “macacão” pré-histórico só evoluiu quando percebeu não ser nada inteligente comer 10% da carcaça de um animal ― posso imaginar veganos assustadíssimos nesse momento ― e deixar 90% para apodrecer, sendo que mais tarde ele e os demais de seu bando sentiriam fome novamente e consequentemente ele teria que caçar de novo. “Mor trampo”, pensou o macacão. Foi aí, num insight quase milagroso, que o Homo Sapiens descobriu que seria inteligente guardar aquele pedaço de zebra para o jantar, poupando-o de ter que caçar novamente ― o Ifood, aliás, é apenas uma evolução desse processo de encurtamento da caça. O avô macacão pensou, projetou, analisou e mudou sua conduta após a análise do que precisaria daqui a algumas horas, organizou suas ideias, ponderou os meios necessários, estabeleceu regras a serem seguidas no projeto, calculou as possibilidades, e descobriu a arte de poupar esforço e comida. Tudo isso, historicamente dizendo, quase que “numa paulada só”. O Homo Sapiens, agora, pensava; e porque pensava, podia escolher e, por poder escolher, também podia ser livre.
PS: Sou apenas um filósofo, não leve o parágrafo acima tão a sério biológica e antropologicamente dizendo, foque na metáfora.
O homem, como é de seu feitio, conseguiu usar sua capacidade racional de escolha e priorização para livremente escolher as prioridades erradas. isso, sinceramente, nem é um problema real, afinal, desde quando o homem passou a pensar ele também começou a pensar errado. É assim mesmo, os homens falham. Ver a realidade não significa entender a realidade, diria Eric Voegelin em A Nova Ciência Política; entretanto, nunca na história humana os indivíduos trabalharam com tanto afinco e paixão a fim de justificar as suas escolhas erradas.
Sêneca dizia em seu estoicismo que o homem deve organizar seu interior através das virtudes, antes de propor mudanças na urbe através da política; o famoso: “arrume sua cama antes de tentar arrumar o mundo”. E não é que o romano acertou na mosca? Quase todos os problemas sociais dos homens, se examinarmos de maneira mais detida, não passam de uma desordem do espírito e, por consequência, da corrupção de suas capacidades de análise.
Na faculdade em que me formei “filósofo” ― segundo o MEC, eu não tenho culpa disso ―, vi professores defenderem a URSS dizendo que se a ditadura genocida “tivesse durado mais, teria funcionado melhor”. Um determinado professor convidado, que ministrava uma palestra sobre o jovem Marx, esforçava-se numa labuta real e até louvável para mostrar como o comunismo, na verdade, tinha sido bom apesar das cordilheiras de corpos deixadas como espólio da “revolução do proletariado”; dizia ele que a igualdade entre os homens só se tornou política oficial com os soviéticos. Dizia tudo isso apesar de ser consciente da verdadeira carnificina promovida pelo governo bolchevique; o poder de análise moral desse professor era menor que o de um primata; nem um babuíno consegue alienar sua percepção da realidade tal como os militantes conseguem. Paradoxalmente analisando o matadouro teatral que visitei na Avenida Paulista, devo salientar que a URSS foi de fato um matadouro, só que de dissidentes políticos e de toda sorte de pessoas que não se encaixavam nos padrões bolcheviques ― seja lá o que isso significasse ―; essas pessoas, segundo a ética bolchevique, portavam uma dignidade inferior à das vacas.
Na mesma linha de desordem humana e confusão racional, os Black Lives Matter ― união de militantes usados por milionárias organizações progressistas a fim de desestabilizar politicamente o EUA ― juram que conseguirão apreço popular para a justa causa da luta contra o racismo, ateando fogo em propriedades alheias, espancando transeuntes de pele clara, ameaçando a polícia e opinadores divergentes. Se os analistas políticos refletissem de forma sincera, tirando de seus reflexos racionais as sanhas de defender ideologias apesar do que elas realmente buscam e causam, aí então estariam aptos a perceberem que tal protesto não passa de engodo midiático impulsionado por poderosos que querem retomar o poder político da mais poderosa nação do globo. Não estou aqui falando de teoria da conspiração, estou falando de política, aquilo que Maquiavel resumiu como: “a busca eterna pelo poder temporal”.
Como lutar contra o racismo praticando o racismo contra brancos e ainda considerar isso razoável? Como denunciar uma polícia despreparada e excessivamente truculenta jogando coquetel molotov na nuca de indivíduos que nada têm a ver com os atos racistas perpetrados por terceiros? O que se vê é uma dominância cega da demência consentida, um passo anterior à razão. Jornalistas, artistas e esportistas anulam o que os neandertais conseguiram a duras penas evolutivas: raciocinar. Veem os absurdos indefensáveis realizados pelos militantes, mas abolem em suas consciências morais “tais disparates” como se fossem quimeras bobinhas. Antes vagava a tese de uma espécie de “apagão moral” na esquerda; agora estou mais tendente a acreditar que eles mesmos deliberadamente desligam o interruptor para cometerem suas chicanas sem reprovações, nem mesmo a de suas consciências. No final das contas, nós que criticamos é que somos moralistas e racistas, nós que não percebemos que “há uma causa maior que justifica” as irracionalidades executadas.
Mal percebem tais amantes da humanidade que estão pensando como Hitler, Stálin e Mussolini trocando apenas os objetos e desculpas ideológicas. No entanto, o resto é CTRL-C > CTRL-V. Hitler justificou o holocausto dizendo que era por “uma causa maior”; Stálin criou os Gulags por “uma causa maior”; Fidel justificou os paredóns dizendo a mesma coisa. Hoje assistimos orgulhosos a grupos revolucionários usando a reta causa da luta contra o racismo para enfeitar suas tiranias ideológicas, para cometer crimes sob os afagos dos progressistas. Adivinhem qual o argumento que eles usam após fazerem desmaiar um branco com uma pedrada na nuca? “É por uma causa maior”. Aí a jornalista politizada, o colunista empoderado e o comentarista sabichão pensam: “aaaaaah sim, ufa, é pela causa”. E mais, reclame da pedrada na nuca para ver se você não se torna nazista e membro de algum grupo supremacista até o fim do dia; afinal, você deixará os militantes negros matá-lo por ser branco, ou você é racista?
Separar o joio do trigo não é algo instintivo, tal como construir catedrais e defender valores civilizacionais não são tarefas inscritas nas cognições dos hipopótamos. Somente os homens podem escolher entre lutar ou declinar de uma batalha, somente os homens traçam estratégias para conquistar reinos ou corações; somente os homens são capazes de gerar prosperidade e diminuir as misérias materiais e espirituais, somente o homem é capaz de gerar riquezas e praticar virtudes; só nós podemos ser deliberadamente maduros, centrados e racionais.
É verdade que foi este mesmo homem que um dia justificou e escravizou negros em nome de um conforto fétido e espúrio, mostrando assim que ser racional não significa usar a razão com inteligência e integridade; no entanto é esta mesma razão do homem que hoje constrói milhares de colunas argumentativas e entorpece a sociedade de críticas, análises e estudos contra tal postura discriminatória. Agora é consenso entre os razoáveis que o racismo foi (e é) uma mácula na história da humanidade, e que posturas e ideias desse tipo são cancros a serem expurgados através dos caminhos da lei e da exposição social dos criminosos. A melhor solução para desmoralizar um racista é deixa-lo se expor.
Tal maturidade para condenar ideias e atitudes erradas passa por nossa inteira capacidade de escolher os bons combates, os meios dignos e morais para defender valores condizentes com a ordem natural e com a evolução histórica da civilização; ao homem cabe ser o melhor que puder, praticando as virtudes que o educam e recusando os vícios que o degradam. Protestar é um direito humano, assim como recusar ideias torpes e condenar atitudes criminosas é um dever dos homens.
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