Por Lucas Sampaio, publicado pelo Instituto Liberal
Nascido em 14 de outubro de 1973, George Floyd era um afro-americano que trabalhava como segurança em Minessota (emprego este que perdeu durante a pandemia).
Na semana passada, no dia 25 de maio, Floyd estampou as manchetes do mundo inteiro. O motivo? George teria sido detido em uma lanchonete após o uso de uma nota de 20 dólares falsificada; no entanto, ao invés de ser conduzido e julgado normalmente como seria qualquer acusado, George foi algemado e preso de bruços no chão, enquanto o policial o asfixiava se ajoelhando em seu pescoço. As últimas palavras de Floyd foram “eu não consigo respirar”.
Casos arbitrários e de abuso policial não são incomuns na realidade americana. O Estado americano tem um longo histórico de injustiças, principalmente quando tratamos da questão racial, visto que é um país em que até 1964 a segregação racial ainda era institucionalizada pelas leis Jim Crow. Casos como a pena de morte de George Stinney em 1944 ou quando 3 americanos foram assassinados pela Ku Klux Klan em 1964 são manchas que ficarão eternizadas na história americana.
Os afroamericanos estão sujeitos a penas maiores ao cometerem delitos similares aos dos brancos. O risco de ser morto por um policial é ainda maior para um afro-americano, como indica estudo da Academia Nacional de Ciência Norte-americana. Negros condenados por assassinato têm 50% mais chances de serem inocentes, além da guerra às drogas, que possui origens racistas e segregacionistas nos EUA e surge com o intuito de aumentar a população carcerária negra.
O caso George Floyd é sem dúvida um caso lamentável; no entanto, também está servindo para que autoritários mostrem sua faceta oportunista. Desde o ocorrido, manifestantes de grupos como o Antifa e o Black Lives Matter tomaram a cidade por meio de protestos violentos. Grupos radicais e identitários como os mencionados em nada representam a população negra e muito menos o combate contra o racismo. São movimentos violentos que incitam o ódio e resultam em ainda mais segregação.
O racismo é um problema e deve ser combatido, mas o identitarismo não é de forma alguma uma alternativa a esse problema. Em casos como o assassinato brutal e motivado por razões racistas cometido contra o afro-americano George Floyd, é normal e justificada a revolta popular contra o Estado e suas arbitrariedades. Embora a maior parte dos manifestantes seja pacífica, muitos manifestantes, motivados pelos grupos já citados, optam por abraçar um discurso identitário e métodos violentos. Lojas e supermercados foram saqueados, vidraças quebradas, ruas em chamas, 5 pessoas já foram a óbito e a cidade de Minneapolis foi tomada pelo caos, que desonra totalmente a memória do George Floyd, que teve seu próprio irmão Terrence Floyd pedindo o fim dos protestos violentos, deixando claro que seu irmão lutava pela paz. Disse ele: “Não destrua a sua cidade. Tudo isso não é necessário porque se a própria família, sangue dele, não está fazendo isso, por que você está?”
Tais grupos, que em nada contribuem no combate ao racismo (além de distorcerem o conceito de fascismo) e que costumam usar grupos minoritários como massa de manobra, são movidos pelo identitarismo. O grande problema é que a realidade nos mostra o quão ineficazes são o identitarismo e seus movimentos no combate ao racismo, não sendo de forma alguma uma alternativa ao mesmo; pelo contrário, todo esse caos que estamos vendo agora é a prova definitiva de que o identitarismo apenas aumenta a segregação e o conflito. O racismo é por definição identitário; achar que vencerá algo identitário usando mais identitarismo é ingenuidade pura.
Martin Luther King foi o grande herói que extinguiu as leis de segregação nos Estados Unidos e fez isso justamente combatendo o identitarismo e fazendo uso da via pacífica, rejeitando completamente a violência, o ódio e medidas revolucionárias. Ao mesmo tempo em que Malcolm X e movimentos como o Panteras Negras buscaram combater o racismo com mais identitarismo. Resultado: Aumentaram as tensões raciais, a segregação e ódio entre os povos e em nada contribuíram para a resolução do problema.
Hoje movimentos como o Black Lives Matter e o Antifa seguem os métodos do segundo ao invés do primeiro, optam pelo caos e pelo identitarismo exacerbado ao invés da única via real e concreta (e que deu resultado) no combate ao racismo, que é o combate ao identitarismo. Tais movimentos identitários na prática servem tão somente para agravar o problema.
Isso é muito bem representado na história em quadrinhos dos X-Men. O professor Charles Xavier (inspirado no Luther King) e Magneto (inspirado no Malcolm X) concordam em que o combate ao preconceito e discriminação é necessário. A diferença está no método. Xavier e os X-Men entendem que para combater o preconceito contra os mutantes é necessário combater o identitarismo e a segregação, fazendo com que mutantes possam ser reconhecidos e inseridos na sociedade, não odiando todos os seres humanos, que não os discriminam por maldade, mas sim por viverem em uma sociedade preconceituosa. Enquanto isso, Magneto e a Irmandade dos Mutantes fazem uso do ódio como método, utilizando o ódio para combater o ódio e aumentando a segregação entre humanos e mutantes. Magneto não visa a acabar com o ódio ou com o preconceito, mas sim radicalizar contra ele, sendo também preconceituoso com todos aqueles que são diferentes.
O resultado não poderia ser outro. Enquanto os mutantes passaram a ser cada vez mais aceitos graças aos X-Men, Magneto e a Irmandade só aumentaram o ódio e preconceito contra eles. Muitos não percebem, mas X-Men é justamente uma animação crítica ao identitarismo e ao movimento negro contemporâneo, além de propor vias concretas de combate ao preconceito.
Ódio e violência só geram mais ódio e violência, o racismo é a expressão máxima do identitarismo e não será derrotado caso o outro lado também adote o identitarismo e a radicalização como meio. Em resumo, mais Martin Luther King, mais professor Xavier e menos identitarismo e segregação.
Todo tipo de violência deve ser repudiado; tanto o assassinato bárbaro de um afro-americano quanto os atos de terrorismo promovidos por grupos que fingem lutar contra o fascismo ou em defesa da população negra.
Casos como o de George Floyd infelizmente não são uma exceção na realidade americana e servem para mostrar o quão preconceituoso um Estado pode ser e os problemas de dar poderes ilimitados para que o mesmo regule sua vida e a vida em sociedade.
Finalizo com a frase do grande Martin Luther King: “Apesar das vitórias temporárias, a violência nunca traz paz permanente”.
*Sobre o autor: Lucas Sampaio é um liberal radicalmente pragmático, defensor da polarização e adepto dos métodos da Guerra Política de David Horowitz e Saul Alinsky. Estudante de Direito e Presidente da Juventude Libertária de Sergipe, membro da Rede Liberdade. Faz análises políticas sob um viés liberal/libertário e escreve sobre realpolitik, Guerra Política, Guerra de Narrativas, táticas de persuasão, como debater e como difundir as ideias de liberdade de maneira prática e sem ideologismos.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião