Uma das piores coisas nessa pandemia foi a morte da ciência, ou melhor, a forma arrogante como muitos, inclusive jornalistas, passaram a lidar com o assunto. A complexidade da coisa foi jogada na lata do lixo em troca das "certezas" arrogantes de quem nada entende do tema. A politização chegou ao ápice do absurdo.
"Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas", disse Voltaire. Em ciência, então, nem se fala. O método científico é aquele que clama para se refutar uma hipótese, não para confirmá-la. Até porque sabemos das fraquezas humanas, das paixões que também acometem cientistas, e é preciso tentar evitar o viés de confirmação.
Desde o início da pandemia venho mantendo a mesma postura coerente de humildade e de fazer mais perguntas do que trazer respostas definitivas. O tratamento precoce funciona mesmo? Não sei, mas não faz sentido politizar o tema e tratar como veneno remédios amplamente conhecidos e inofensivos só porque o presidente os defende. As vacinas são uma panaceia? Não sei, mas é legítimo desconfiar de processos que foram atropelados ou questionar sobre a diferença de qualidade entre elas, suspeitando mais das que têm origem em ditaduras sem transparência. O lockdown salvou vidas? Há clara controvérsia aqui, e sabemos com mais convicção dos estragos que ele causou na economia. E por aí vai.
Infelizmente essa não tem sido a postura da maioria dos meus pares na imprensa. Eles adotam um tom de especialista, selecionam as autoridades que interessam para confirmar o que já querem concluir, usam a errática OMS só quando é conveniente, fazem "Cherry Picking" nos dados e fogem das perguntas incômodas que enfraquecem suas narrativas, suas "certezas absolutas" provenientes da arrogância.
A arrogância dos jornalistas assusta! Eis um exemplo entre tantos. Em vez de simplesmente reportar o fato, a notícia, o jornalista do Estadão afirma categoricamente que o prêmio Nobel mente deliberadamente, engana o público, está claramente errado. Empáfia pura!
O tema central dessa CPI circense, tratada com seriedade apenas por nossos jornalistas militantes, é a cloroquina vista como veneno e a suposta omissão federal nas vacinas. Mas eis o que a patota ignora: tudo aquilo que joga ducha de água fria nesse discurso politizado e previamente decidido. Não há uma investigação, uma busca pela verdade, apenas uma demonização do presidente e um prejulgamento sem ciência verdadeira. É por isso que vizinhos como Argentina e Uruguai desaparecem do mapa, pois seus casos dificultam muito a sustentação dessas narrativas.
Com Lula tudo estaria melhor no Brasil, a culpa é do Bolsonaro negacionista que não respeitou a ciência, não apoiou o lockdown, não quis comprar vacinas e... ops! Aí vem a notícia que enterra de vez esse discurso, e ela é ignorada pela oposição:
"Até o momento, a Argentina já aplicou uma dose da vacina em 19,6% da população, e duas doses em apenas 5,4%." Mas, segundo nossos "especialistas", o Brasil já poderia ter vacinado 100% dos mais de 200 milhões de cidadãos! Isso sem falar que o governo esquerdista argentino endossou com vontade o lockdown. Deu certo? Já o Uruguai possui uma vacinação de fato bem mais acelerada, mas isso não o impediu de passar o Brasil em mortes por habitante com essa nova onda e variante mais agressiva.
Mas nossa mídia em geral ignora tudo isso pois investe pesado na narrativa que condena Bolsonaro por tudo de ruim. Virou uma imprensa abutre, que só muito a contragosto divulga notícias positivas. E quando o faz, às vezes sai num ato falho como o da apresentadora da CNN Brasil, que disse que "infelizmente" teria de falar de coisas boas:
Comparando os Estados Unidos com o México, novas questões sobre vacinação surgem. Preparei um gráfico com dados oficiais dos EUA para trazer as perguntas necessárias, pois assim se faz ciência. Talvez nossos jornalistas pudessem explicar o "mistério". Com vários estados já sem lockdown, ainda sem vacina no começo do ano, e mesmo assim as hospitalizações seguiram em queda contínua e acelerada. Como?
Talvez nossos jornalistas, que manjam tanto de ciência, possam explicar esse outro dado oficial. A curva de morte per capita dos EUA é basicamente igual à do México, cujo presidente esquerdista foi acusado de "negacionista" também. Mas o México não vacinou nem a quarta parte dos EUA. Quem explica?
O jornalista Guga Chacra, do Globo, chegou a atacar Obrador, comparando-o a Trump: "Uma desgraça a performance do trumpista Lopez Obrador. Negacionista como o ídolo dele", escreveu. Deixando de lado o absurdo de chamar o esquerdista de "trumpista", será que a performance foi tão ruim assim mesmo? Então por que as curvas de óbito são tão parecidas?
Mas o México não vacinou nem a quarta parte dos EUA. Quem explica?
Alguns jornalistas acusam o México de testar pouco, e por isso poderia estar subestimando as mortes com Covid. Pode explicar parte do quebra-cabeça. Mas tudo? O México esquerdista estaria escondendo três quartos das mortes com Covid? Quando os dados vão contra minha teoria, pior para os dados?
Outra comparação incômoda para os isolacionistas arrogantes é entre Suécia e Reino Unido. A Suécia não decretou lockdown, chegou a apostar na imunidade de rebanho, vacinou bem menos do que o Reino Unido, e mesmo assim as curvas de óbito são rigorosamente iguais!
Talvez o vírus siga um curso independentemente de restrições ou mesmo de vacinas? Talvez variantes expliquem mais do que os jornalistas querem admitir por questões políticas? Talvez desconheçamos mais do que aceitamos reconhecer sobre toda essa pandemia?
Não obstante, você traz essas perguntas difíceis e é recibo com escárnio, mudança de assunto, rótulos ou fuga pela tangente. Justamente pelos que te acusam de ser "negacionista", só por não repetir as "verdades" reveladas por quem não apresenta qualquer evidência científica do que afirma. É tudo muito tosco. E também perigoso. Hayek alertou para o risco da "arrogância fatal" de quem acha que entendeu tudo, mas no fundo não conhece quase nada da coisa toda. Mais humildade, senhores e senhoras da mídia!
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