Uma nova controvérsia tomou conta dos Estados Unidos neste fim de semana. O entrevistador mais famoso do país, Joe Rogan, entrevistou o polêmico RFK Jr., que pretende disputar as primárias democratas com Joe Biden. Com suas acusações contra as vacinas, RFK Jr. desafiou o cientista Peter Hotez para um debate no programa.
Hotez, figura conhecida durante a pandemia, por ter se tornado o "Sr. Vacina", defendendo inclusive a vacinação de crianças, negou-se a debater, e foi para a mídia esquerdista destilar arrogância. Usou, em suma, o "argumento de autoridade", desqualificando RFK Jr. Mas a postura pegou muito mal, e a entrevista de RFK Jr. já teve mais de 25 milhões de visualizações.
Eis o ponto central: os cientistas não podem simplesmente ignorar gente como RFK Jr. e tentar desqualificá-los com apelo de autoridade, falando em nome da ciência. Isso não é mais possível após a pandemia. Se é verdade que a ciência trouxe incríveis avanços para a civilização nos últimos séculos, também é verdade que, na última década, a arrogância somada aos evidentes equívocos de muitos "cientistas" demanda uma resposta.
Fugir do debate e acusar os detratores de "negacionistas" não é um bom caminho. Há basicamente duas razões para se evitar um debate: o oponente é alguém relativamente desconhecido querendo surfar numa onda de holofotes; o debate terá baixa audiência, então não faz sentido se dar ao trabalho de estudar para rebater os pontos do desafiante. Nenhum dos casos se aplica a RFK Jr.
Ele é bem mais famoso do que Hotez, e como vimos, a audiência de Joe Rogan é fenomenal. Se RFK Jr. se tornou uma voz incômoda que faz denúncias graves - e muitas vezes sem fundamento - às vacinas em geral, não só da Covid, então algum cientista terá de ter o trabalho de debater com ele para refutar seus pontos. A comunidade científica deve isso à população, pois esta vem perdendo a confiança na "ciência", por bons motivos.
A ciência jamais pode ser autoritária. Não há dogmas na ciência, uma palavra final e definitiva que encerra qualquer debate ou questionamento. Não obstante, esta foi justamente a postura de muitos na pandemia, ou antes na questão climática. Isso não é ciência, mas política, e essa mistura tem sido muito prejudicial. O método científico clama por debate, e quando a mídia e alguns "cientistas" populares buscam interditar esse debate, isso gera desconfiança no povo. Quando eles erram grosseiramente suas previsões, como ocorreu na pandemia, aí a perda de credibilidade pode ser fatal.
O economista liberal austríaco Hayek foi um duro crítico do que chamava de cientificismo. Para Hayek, a razão humana não pode prever ou deliberadamente desenhar seu próprio futuro. O avanço consiste na descoberta do que fizemos de errado. Uma restrição grande à liberdade individual reduz a quantidade de inovações e a taxa de progresso da sociedade.
Não temos como saber anteriormente quem irá inventar o que. O conhecimento é disperso, e também evolui. Nenhum ser seria capaz de concentrar algo perto da totalidade do conhecimento existente, e ainda assim, este está sempre aumentando. Somente a redução drástica da coerção estatal pode garantir a evolução do conhecimento humano e consequente progresso. Quanto mais o estado planeja as coisas, mais difícil o planejamento fica para os indivíduos.
Hayek considerava que a liberdade fica muitas vezes ameaçada pelo fato de que leigos delegam o poder decisório em certos campos para os “experts”, aceitando sem muito questionamento suas opiniões à respeito de coisas que eles mesmos sabem apenas um pequeno aspecto.
Adotar uma postura de maior ceticismo, questionando até mesmo os especialistas nos assuntos, é fundamental, portanto. É a preocupação com o processo impessoal da sociedade onde mais conhecimento é utilizado do que qualquer indivíduo ou grupo organizado de pessoas pode possuir que coloca os economistas em constante oposição às ambições de outros especialistas que demandam poderes de controle porque sentem que seu conhecimento particular não é levado suficientemente em consideração. A humildade é fundamental. A arrogância pode ser fatal.
Voltando ao caso RFK Jr., pode ser que suas declarações sobre vacinas causarem autismo ou o Wi-Fi causar câncer sejam desprovidas de embasamento, mas então alguém sério do meio científico precisa, com argumentos e dados, demonstrar isso. Simplesmente ignorar suas denúncias e fugir do debate vai apenas alimentar a visão crescente contra a comunidade científica. Ele vence por default, por W.O. Não dá para ignorar quem tem 25 milhões de visualizações! E a censura nas redes sociais durante a pandemia só gerou mais desconfiança.
Os cientistas precisam descer de suas Torres de Marfim e demonstrar maior humildade. A politização da ciência tem sido nefasta para a própria. Os fatos não ligam para seus sentimentos ou ideologias. E o fato é que muitos cientistas coloraram suas vaidades, paixões ou interesses acima da própria ciência, desejando calar os críticos e controlar toda a sociedade. Daí o crescente desconforto popular com esses "cientistas" arrogantes.
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