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Muitos já disseram - entre eles Janaina Paschoal - que certa ala bolsonarista parece com o petismo de sinal trocado. De fato, partindo da premissa de que estamos numa "guerra cultural" de vida ou morte, olavistas pregam cada vez mais o uso de métodos similares aos do inimigo.

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Não devemos, por exemplo, criticar "nosso" presidente, pois isso seria dar munição ao adversário. E não podemos abrir mão do aparato estatal nessa batalha, naturalmente. Se há a EBC controlando a TV Brasil, conhecida como TV Lula, então que seja transformada na TV Bolsonaro logo de uma vez!

Essa mentalidade tem afastado cada vez mais o bolsolavismo do liberalismo ou mesmo do conservadorismo, calcado em princípios que são logo abandonados em nome dessa guerra. Se você simplesmente elogia algo louvável como a economia feita por deputados do Partido Novo, a turma sente imediatamente cheiro de ameaça no ar, e passa a te atacar por ser "assessoria de imprensa" da "nova esquerda". É sério: aconteceu quando dei RT em mensagem de João Amoedo comemorando a economia do partido:

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Tudo passa a ser resumido por essa lógica binária: favorece ou não o projeto do "nosso" presidente? E para a cucuia com o resto! É nesse clima que o cineasta que fez um filme sobre Olavo de Carvalho se sente confortável para, ao lado de petistas, pregar a reserva de mercado dos filmes nacionais, uma cota protecionista abjeta que ignora o direito de propriedade dos donos de cinemas e a liberdade de escolha dos consumidores:

Ele ainda insistiu: "Experimenta deixar para o mercado regular o patrimônio histórico, os teatros municipais, as orquestras sinfônicas..." Ou seja, o "mercado" não presta, e devemos delegar ao estado os cuidados da "arte", o que inclui filmes nacionais. Mas não qualquer um, claro! Aquele sobre Bruna Surfistinha não presta e deve ser até censurado; já o filme sobre o guru de Virgínia... bem que poderia estar compulsoriamente em todas as salas de cinema do país, não é mesmo? Já pensou que maravilha para essa guerra cultural?

O discurso do cineasta olavista se parece tanto com o de um petista que mal consigo distinguir quem é quem. Defesa de reserva de mercado para seu produto? Chama-se oportunismo no meu dicionário...

Em tempo: eu era contra cotas em 2014 e sigo contra hoje. Não mudo por conveniência ou afinidade ideológica. Isso se chama valorizar princípios. Algo tido como "ingênuo" ou coisa de "otário liberal" pelos olavistas. Afinal, temos um só objetivo, que é derrotar o PT. E quem se importa se no processo ficarmos praticamente iguais ao monstro que pretendíamos derrotar?

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Foi Orwell que captou bem essa imagem em A revolução dos bichos. Após toda aquela revolta "popular", não dava mais para dizer quem era porco e quem era humano. Ambos desfrutavam das benesses e privilégios garantidos pelo poder, à custa dos "otários liberais"...