"Lula está preso, babaca". Foi a resposta de Cid Gomes quando alguém gritou da plateia o nome do ex-presidente petista. Lula não está mais preso. Nem inelegível. Tudo graças aos companheiros supremos, que vêm rasgando a Constituição da qual deveriam ser os guardiões. Lula está é em campanha, dando "entrevistas" para militantes disfarçados de jornalistas, que querem o PT de volta.
Quem não gostou nada disso foi Ciro Gomes. Ele pensou que o nicho mais à esquerda estaria disponível para si. Com Lula no páreo, Ciro Gomes não tem chance. Em desespero, Ciro teve uma "ideia brilhante": sugerir que Lula demonstre generosidade e aceite ser o vice numa chapa liderada... por ele mesmo, Ciro Gomes!
Até os petistas acharam graça e apontaram para o desespero do ex-ministro de Lula, que já passou por inúmeros partidos e hoje se encontra no PDT. Seria mais sincero - e ao estilo da família - se Ciro tentasse passar com um trator ou retroescavadeira em cima do petismo. Mas ele sabe não ter espaço enquanto Lula for candidato. E por isso apela para o caso argentino.
Foi lá que Kirchner saiu como vice, colocando seu poste Alberto Fernández como candidato. A ex-presidente estava toda enrolada na Justiça, e conseguiu se livrar da prisão, mas achou mais prudente não exagerar na dose. Deu certo, com a ajuda da mídia e dos "moderados", que lançaram o nome de Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia, como candidato de "centro", para evitar os "extremos" entre Kirchner e Macri. Garantiram assim a volta do Foro de SP ao poder.
Ciro já disse que na Venezuela há democracia tanto quanto no Brasil e nos Estados Unidos. Não chegou ao limite do escárnio como fez Lula, ao afirmar que há "excesso de democracia" no país comandado por Maduro. Mas isso mostra bem o compromisso de Ciro com os valores democráticos. Por isso ele aponta para a Argentina como exemplo de sucesso a ser seguido pelo Brasil. A Argentina, que teve o pior resultado econômico na pandemia, além de óbitos por habitantes acima do Brasil. A Argentina, que caminha em direção ao modelo venezuelano.
O que Ciro está dizendo, em essência, é que o PT deveria flertar com o purgatório, já que não seria viável chegar ao "paraíso" de uma vez. O "paraíso" sendo a Venezuela, do ponto de vista da esquerda. Ciro acha que o petismo carrega um legado pesado, manchas sujas no currículo, e que faria mais sentido estratégico usarem um preposto, um "poste", como fez Kirchner. Ele se coloca como esse "poste".
Para tanto, conta com a "generosidade" de um corrupto safado do Foro de SP. Ciro sabe que Lula não é generoso, e tampouco conta mesmo com qualquer generosidade. Sua fala é sobre tática pérfida e calculista de oportunistas, na esperança de que Lula saia convencido de que esse seria o melhor caminho para resgatar o poder. Mas Lula não vai aceitar algo assim, claro.
E, portanto, a fala de Ciro serve só para mais uma humilhação em praça pública, de quem sempre se sujeitou a ser um capacho de Lula, ainda que alguém da família, de vez em quando, demonstre irritação com a lembrança desse fato. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré - ou serpente dominante, no caso.
Em tempo: o quão lamentável é uma figura como João Amoedo, fundador do Novo, assinar carta em "defesa da democracia" em conjunto justamente com Ciro Gomes, que passa pano para a ditadura venezuelana?
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