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Que a turma comunista use o tal "mercado" como bode expiatório preferido é algo já comum e conhecido. Para a esquerda radical, o mercado é basicamente uma entidade maligna, formada por meia dúzia de "agiotas" que manipulam os preços dos ativos para boicotar governos populares. A dicotomia criada é similar àquela da luta de classes marxista: o mercado oprime o povo!
Essa ladainha pela esquerda não assusta muito, pois é antiga. Mas há uma novidade: o ataque pela direita. Vem de uma turma que se diz conservadora, mas também gosta de demonizar o mercado. Para dar um respaldo técnico, esse pessoal aponta para problemas reais: a tentativa de se criar barreiras ao livre funcionamento do mercado por uma elite globalista.
Essa 'direita' antiliberal adota o mesmo discurso da esquerda socialista e passa a tratar o mercado de capitais como estéril, como um cassino de apostas em que uns ganham e outros perdem, sem qualquer relevância para a economia real
A agenda ESG, por exemplo, constitui um esforço de alguns poderosos players para impor barreiras à entrada, como o selo ambientalista. O BlackRock vem à mente, e muitos leigos confundem a custódia das ações na empresa com sua propriedade, achando que ela é dona de fato de quase todas as empresas no mundo. A coisa é bem mais complexa na realidade.
Que alguns investidores grandes tentam manipular os mercados é algo evidente, mas isso ignora o peso da maioria silenciosa que compõe o mercado. Este, em essência, é um processo dinâmico de interação entre milhares de agentes do mundo todo, muito bem pagos e preparados, que precisam acertar mais do que errar para realmente ganhar dinheiro.
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Isso inclui os tais "especuladores", considerados os principais inimigos dessa turma antimercado. Escrevi um texto antigo sobre a função dos especuladores que explica melhor como eles agregam valor, especialmente pela liquidez gerada e pela arbitragem. O grande economista liberal austríaco Ludwig von Mises já dizia: "Sem especulação não pode haver nenhuma atividade econômica alcançando além do presente imediato". Especular é tentar antecipar o futuro, e isso é a base do capitalismo.
Mas essa "direita" antiliberal adota o mesmo discurso da esquerda socialista e passa a tratar o mercado de capitais como estéril, como um cassino de apostas em que uns ganham e outros perdem, sem qualquer relevância para a economia real. Esses "conservadores" não entendem o papel dos mercados, sua importância para financiar projetos produtivos, seu mecanismo de funcionamento que serve também como um termômetro para a saúde fiscal de um país.
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Todo país desenvolvido tem um mercado de capitais robusto, e os Estados Unidos são o melhor exemplo. O povo trabalhador é dono de ações por meio de suas aposentadorias 401K, e as empresas costumam ser corporações, sem um dono específico, mas com o capital pulverizado. É comum o maior acionista de uma empresa grande ter menos de 5% do seu patrimônio (Equity).
Peter Drucker chegou a escrever um livro sobre essa "revolução invisível" que transformou trabalhadores em capitalistas na América. Mas esses "conservadores" repudiam isso tudo, tratam o "mercado" como um inimigo inútil, caindo na ladainha socialista. Eles rejeitam a liberdade econômica e preferem o Estado nacionalista tocando os investimentos "produtivos". Não são contra os meios dos esquerdistas, portanto; apenas querem controlá-los. Amam o BNDES, mas não querem ele nas mãos de petistas. Se ao menos um patriota estiver no comando...
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Quando o dólar dispara, as ações brasileiras despencam e as taxas futuras de juros abrem, isso sinaliza que os milhares de investidores estão com medo e antecipando a catástrofe adiante. Os petistas preferem culpar o "mercado" em vez de enxergar a realidade. E eles contam com os aplausos dessa "direita" ignorante, que também aceita a premissa de que o "mercado" é uma conspiração maligna.
Mas o "mercado" sempre vence no final, pois não há como burlar a lei da gravidade para sempre. A menos, claro, que o governo quebre todos os termômetros, como acontece em países socialistas. E ai o povo fica na miséria...
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos