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Por Marcel Balassiano, publicado pelo Instituto Liberal

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Após a forte recessão que o Brasil passou entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016, segundo o CODACE, a recuperação tem sido bastante lenta e gradual. No triênio pós-recessão (2017-19), o PIB cresceu, em termos reais, 1,3% em 2017 e 2018 e 1,1% em 2019. No ano passado, ocorreram alguns choques que impactaram negativamente a atividade econômica, como Brumadinho, a crise argentina e o aumento da incerteza mundial, fruto da guerra comercial entre EUA e China. Segundo estimativas do Banco Central, esses três eventos tiraram 0,67 pontos percentuais (p.p) do PIB de 2019 (Argentina, 0,18 p.p; choque global, 0,29 p.p; e Brumadinho, 0,20 p.p). Ou seja, ao invés de ter crescido 1,1%, o PIB de 2019 poderia ter aumentado 1,8%, de acordo com essas estimativas.

Durante a recessão inteira (segundo trimestre de 2014-quarto trimestre de 2016), houve uma perda acumulada de 8,1% do PIB. Com a recuperação, no quarto trimestre de 2019, a perda acumulada está em 3,1%. Ao se olhar o PIB per capita, na recessão inteira, houve uma perda acumulada de 10,2%. Com a recuperação, no quarto trimestre de 2019, a perda acumulada está em 7,5%.

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Pelo lado da oferta, no ano passado, a agropecuária cresceu 1,3%, a indústria manteve a mesma taxa de crescimento de 2018 (0,5%), pois foi impactada por Brumadinho, e os serviços, principal setor da economia, cresceram 1,3%, praticamente a mesma taxa de 2018 (1,5%). Pelo lado da demanda, o consumo das famílias apresentou o pior desempenho dos últimos três anos de recuperação (lenta e gradual) da economia, com um crescimento de 1,8%, após crescer 2,0% em 2017 e 2,1% em 2018. Já os investimentos cresceram somente 2,2% no ano passado. Reverter esse quadro de baixo investimento é de fundamental importância para que a economia possa crescer mais e de forma mais sustentada. Numa comparação internacional, mais de 90% dos países do mundo apresentaram taxas de investimentos maiores do que a brasileira no ano passado.

Com isso, a década atual (2011-2020) foi (está sendo) mais perdida do que a década de 1980, em termos de crescimento do PIB, em função da forte recessão que o país passou entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016 e da recuperação lenta e gradual da economia nos três anos após a recessão, com taxas reais de crescimento próximas de 1%. Para que isso não ocorra, o PIB brasileiro teria que crescer 10% em 2020, cinco vezes mais do que as projeções indicam atualmente.

Só para ter noção de como foi muito grave a recessão por que o Brasil passou recentemente, segundo a série histórica das taxas reais de crescimento do PIB brasileiro do Ipeadata, com início em 1901, o biênio 2015-2016 foi o pior da história brasileira! Com exceção do período atual, a única vez em que o Brasil apresentou dois anos seguidos de taxa real de crescimento do PIB negativa foi em 1930 e 1931, logo após a Crise de 29. Em 1930 a queda foi de 2,1%, e, em 1931, o recuo foi de 3,3%. Ou seja, a queda do biênio 2015-2016 (-3,4% ao ano, em média) foi maior do que o recuo do biênio 1930-1931 (-2,7% a. a., em média).

Quando comparamos com o resto do mundo, a situação também é bem precária. Essa forte recessão foi a pior/uma das piores quando se compara com a história do Brasil, mas também quando se compara com o resto do mundo, a situação é bem ruim, já que mais de 80% dos países do mundo apresentaram um desempenho econômico melhor do que o Brasil na década.

E, finalmente, a pior consequência dessa crise toda na vida da população foi no mercado de trabalho. Ao se somarem as pessoas desocupadas (11,6 milhões) com as pessoas que compõem a força de trabalho potencial (desalentados + aquelas que realizaram busca por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar, por diversos motivos, que são 4,6 e 3,1 milhões, respectivamente), chega-se a um número de 19,4 milhões de pessoas sem nenhum tipo de trabalho no final do ano passado no Brasil. Se adicionarmos as 6,8 milhões de pessoas que trabalham, mas menos do que 40 horas semanais e gostariam de trabalhar mais, o número sobe para 26,2 milhões. Juntando com a informalidade (41,2 milhões), chega-se num número de quase 70 milhões de pessoas (67,4, para ser mais exato) numa situação mais precária do mercado de trabalho (dados do final de 2019).

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Para 2020, as perspectivas são mais positivas, de o crescimento ser por volta de 2%, que seria o melhor resultado desde 2013, quando o PIB cresceu 3,0%. Porém, há algumas questões, como o coronavírus, além da alta incerteza, tanto no Brasil quanto no exterior, que podem frustrar (mais uma vez) o crescimento do PIB deste ano.