Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal
Quais os países que mais cresceram no século XXI? Quais os que menos cresceram? Neste artigo, uso dados do Banco Mundial no período de 2001 a 2019 para responder a essas perguntas. Como o objetivo é crescimento e não comparação entre renda, calculei a taxa de crescimento do PIB per capita em valores constantes da moeda de cada país. Dessa forma elimino problemas com câmbio e com medidas de paridade de poder de compra. Na média dos países em 2019, o PIB per capita era 65,5% maior do que em 2001, mas essa média esconde variações importantes entre os países. Na China, país com maior crescimento, o PIB per capita em 2019 foi 334% maior que o PIB per capita em 2001; no Zimbabwe, país com pior desempenho, o PIB per capita em 2019 era quase 20% menor do que em 2001. Milagres e desastres continuam existindo no século XXI.
Considerei apenas países com mais de cinco milhões de habitantes e com dados disponíveis para 2001 e 2019 – a amostra ficou com 101 países. Para facilitar a apresentação dos resultados, dividi os países em quatro grupos de acordo com o crescimento do período. O primeiro grupo reúne os 25 países com maior crescimento – na média, o crescimento do PIB per capita desses países entre 2001 e 2019 foi de 148, 8%. Nesse grupo estão um país avançado, cinco países da Comunidade de Países Independentes, dez países emergentes da Ásia, quatro países emergentes da Europa, dois países da América Latina e Caribe e três países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.
Como pode ser visto na figura, dos campeões de crescimento no século XXI, nada menos que 20 países apresentaram crescimento de mais de 100% do PIB per capita entre 2001 e 2019, ou seja, os habitantes desses países, em média, dobraram suas rendas no século XXI. Desses países, três cresceram mais de 200% e dois cresceram mais de 300%.
O grupo seguinte é formado por 25 países com crescimento entre 53% e 92% entre 2001 e 2019. Nesse grupo de países com crescimento médio-alto, a média de crescimento foi de 68,4%. O maior crescimento ocorreu na Sérvia, 91,5%, e o menor no Paraguai, 52,9%. Oito países desse grupo cresceram mais que 75% no período. No grupo estão três países avançados, dois da Comunidade de Países Independentes, quatro países emergentes da Ásia, dois países emergentes da Europa, quatro países da América Latina e Caribe, dois países do Oriente Médio e oito países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.
Na sequência aparece o grupo formado por 25 países onde o PIB per capita cresceu entre 26,3% e 50% no período 2001 a 2019 os países com crescimento médio-baixo. O país com melhor desempenho do grupo foi o Egito, crescimento de 49,5%, e o país com pior desempenho foi o Brasil, 26,3%. É isso, menos um pouquinho e estaríamos “comemorando” o melhor desempenho entre os países de pior desempenho em termos de crescimento. A média de crescimento do grupo foi de 35,3%. No grupo estão quatro países avançados, seis países da América Latina e Caribe, cinco do Oriente Médio e dez da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.
O último grupo é o de países que cresceram menos de 26,3% entre 2001 e 2019 – o grupo dos países de crescimento baixo. O melhor desempenho do grupo foi um crescimento de 26,2% na República do Níger, o pior desempenho foi uma queda de 19,2% no Zimbabwe. O crescimento médio dos países desse grupo foi de 11,8%. O grupo é composto por quinze países avançados, três países da América Latina e Caribe, três países do Oriente Médio e cinco países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.
A concentração de países avançados no grupo de baixo crescimento não causa espanto, vários modelos de crescimento apontam a relação inversa entre PIB per capita e crescimento, ou seja, ao contrário da crença popular, países ricos crescem menos do que países pobres. A validação empírica dessa proposição está (muito) além do objetivo desse post, o tema é objeto de pesquisa, vários autores encontram que a relação inversa vale para grupos de países homogêneos. A figura abaixo apresenta a distribuição dos grupos de países de acordo com o FMI – esse que estamos usando no post, segundo o grupo de crescimento.
É fácil observar a concentração de países avançados no grupo de crescimento baixo; isso não chega a ser um problema, afinal esses países já são ricos. Mais preocupante é o baixo número de países da África subsaariana e da América Latina e Caribe no grupo de países de alto crescimento. Outro fato notável é a ausência de países emergentes da Ásia, da Europa e da Comunidade de Países Independentes no grupo de países com crescimento baixo e médio-baixo. Com todos os problemas na Europa Oriental, países como a Rússia, 75,3%, e a Ucrânia, 60,7%, cresceram mais do que a média dos países da América Latina e Caribe, 44,5%, e bem mais que os 26,3% do Brasil.
Dos países da América Latina e Caribe apenas o Peru, com crescimento de 101,3%, conseguiu dobrar o PIB per capita entre 2001 e 2019; a República Dominicana, com 95,7% de crescimento, completa a participação dos países de nuestra América no grupo de alto crescimento. Com crescimento médio-alto aparecem Bolívia, 61,5%, Colômbia, 61,1%, Chile, 56,8%, e Paraguai, 53%. A maior concentração de países da América Latina e Caribe ocorre no grupo de crescimento médio-baixo: Honduras, 39,4%, Equador, 36,2%, Nicarágua, 34,3%, El Salvador, 33,7%, Guatemala, 33,03%, e Brasil, 26,3%. No grupo de crescimento baixo estão Argentina, 25,1%, México, 13,1% e Haiti, -2,8%.
A figura abaixo mostra a relação entre crescimento e PIB per capita para todos os países da amostra; a classificação de cada país de acordo com o FMI está destacada pelas cores. Na figura estão destacados os cinco países de maior crescimento, os cinco com menor crescimento, os países da América Latina e Caribe com crescimento acima do esperado considerando apenas o PIB per capita (os países acima da linha), o Brasil, o México, os Estados Unidos e a Suíça. Reparem a forte presença de países avançados no canto inferior direito da figura – alta renda e baixo crescimento -, e de países emergentes da Ásia na parte de cima do gráfico. De fato, o único país deste grupo abaixo da linha é Papua-Nova Guiné.
A figura acima traz duas preocupações que merecem destaque. Uma é a dificuldade dos países da América Latina e Caribe de saírem da faixa de renda-média. Os países mais ricos da região, como o México e a Argentina (que está no “z” do Brazil), crescem muito pouco; mesmo o Chile, tradicional “campeão” da região, não consegue um desempenho nível Ásia. A outra dificuldade é a presença marcante dos países da África subsaariana na parte de baixo da linha. Se em termos locais o grande desafio do século XXI é tirar a América Latina e o Caribe da renda-média, em termos globais o grande desafio é tirar os países da África subsaariana da renda baixa.
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