O ministro Alexandre de Moraes interrompeu um colega durante sua fala num julgamento que tem a Jovem Pan e eu como réus para fazer uma "ironia", como a velha imprensa está chamando, e dizer que em Nárnia não há democracia, e sim um rei, o leão Aslam. Deixando de lado a estranha concepção de que monarquia e democracia são antagônicas, e que Aslam simbolizava Cristo na obra do conservador cristão C.S. Lewis, não um poder temporal absoluto, o ministro, em seguida, chamou-me de "agressor".
E é essa parte que mais nos interessa. Nunca fui sequer denunciado por agressão – até porque jamais agredi alguém. Que um juiz de inquérito em que sou réu faça tamanho prejulgamento, rotulando uma parte de "agressora", já é algo absurdo que, em qualquer país sério, colocaria imediatamente o magistrado em suspeição. Mas meu ponto central aqui é outro, pois sabemos que Moraes não se considera suspeito para julgar nem quando ele mesmo é supostamente a principal vítima do processo.
O cerne da questão é a confusão deliberada que tem sido feita, por Moraes e tantos outros colegas do STF e seus assessores informais na velha imprensa, entre crítica e agressão. O truque chinfrim consiste em chamar críticas de "ataques às instituições democráticas". Ora, um jornalista é pago para emitir opinião, um comentarista precisa se posicionar, e as autoridades, aliás, são servidores públicos, que devem prestar contas ao povo, o patrão.
Que um comentarista seja impedido, portanto, de emitir sua opinião crítica contra quem quer que seja, em especial figuras no poder, é algo impensável numa democracia. Criticar a postura, as decisões, as excessivas opiniões pessoais de quem deveria proteger a Constituição e não o faz, por mais veementes que sejam as críticas, jamais seria confundido com "ataque à democracia" numa democracia de verdade. Já na "democracia relativa" que o consórcio PT-STF-mídia prega, tudo se inverteu: censura é combate às Fake News, arbítrio é defesa da democracia, e perseguição a jornalista é resguardar a imprensa. Guerra é paz!
Ao tentar explicar o que se passa com o Brasil para um gringo, fica evidente como normalizamos o absurdo. O deputado Eduardo Bolsonaro e o jornalista Paulo Figueiredo tentaram fazer justamente isso numa excelente entrevista para Tucker Carlson, e foi quase missão impossível. O apresentador interrompia o tempo todo os entrevistados, incrédulo com o que escutava. "Mas isso não é coisa de país livre, democrático", dizia Tucker. Exatamente. Em ditaduras, críticas de jornalistas são tratadas como "agressões" que precisam ser punidas...
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