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A "treta" desta semana aqui nos Estados Unidos ficou por conta do fracasso nas negociações entre o humorista Steven Crowder e o Daily Wire, de Ben Shapiro. Crowder gravou um vídeo posando de conservador puro preocupado com os jovens iniciantes no movimento, contra os "tubarões" gananciosos representados supostamente pelo Daily Wire.

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Como "prova" de seu purismo, Crowder revelou que declinou uma oferta de $50 milhões por quatro anos, pois os termos seriam draconianos demais e poderiam prejudicar novos nomes do movimento de direita. Para corroborar sua narrativa, Crowder divulgou trechos de uma conversa por telefone que teve - e gravou - com Jeremy Boreing, co-fundador do Daily Wire.

A atitude de ter gravado a conversa já levanta suspeitas éticas, mas divulgar trechos foi realmente algo muito feio. Boreing reagiu lendo letra a letra da minuta do contrato, que era confidencial, mostrando assim o teor integral da oferta. Crowder, com apenas 35 anos, receberia uma fortuna digna de celebridades e atletas famosos, mas havia uma cláusula que previa a queda da remuneração caso ele fosse desmonetizado nas redes sociais. Crowder tem seis milhões de seguidores no YouTube, é uma grande estrela na plataforma.

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Isso teria incomodado Crowder, que passou a falar em subserviência às Big Techs e "escravidão", como se o DailyWire passasse a ser "dono" dos contratados. Em seu vídeo, Crowder disse que abriu mão da montanha de dinheiro por idealismo e por se preocupar com os jovens ainda em ascensão na carreira. Mas essa postura não se sustenta.

Como disse Ben Shapiro no programa de sexta, tocando no assunto com repulsa, a oferta é padrão e o próprio Crowder toma cuidado para não ser banido da plataforma, utilizando a autocensura e enviando o público para seu site quando o tema é mais sensível para o YouTube. O que o DW ofereceu, portanto, faz todo sentido: se o comentarista contratado perde receita, deve receber menos da firma, já que ela não é caridade, mas sim um negócio.

E é aqui que a coisa ganha relevância para nossa reflexão e debate. Deixando de fora o fato de que Boreing e Shapiro eram amigos de Crowder e o ajudaram diversas vezes antes, e que a forma de agir do comediante foi execrável, a narrativa de que focar no lucro e na gestão do DW como um negócio seja algum pecado é inaceitável. Esse "purismo" é prejudicial ao movimento conservador no longo prazo.

Crowder está de saída do The Blaze, e como não fechou com o DW, parece ter criado a imagem de único conservador legítimo contra as Big Techs. Mas acusar o DW de capacho das Big Techs é patético, uma enorme injustiça. O DW é apenas pragmático e precisa ser lucrativo para sobreviver e investir para continuar crescendo. Simples assim.

É graças a essa visão de negócio que o DW consegue manter cerca de 300 funcionários, jornalistas investigativos que dão importantes furos de reportagem, atrair gigantes como Jordan Peterson para o time, produzir documentários magníficos como "What is a Woman" do Matt Walsh, contratar Candace Owen etc.

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Quando a esquerda condena o lucro e o capitalismo, isso é esperado, ainda que hipócrita. Mas quando um conservador faz isso, defendendo uma visão romântica do movimento conservador, isso é bem preocupante. Que a direita viva lavando roupa suja em praça pública já é algo recorrente e muito triste, mas que o motivo para isso seja a denúncia da suposta "ganância" de quem toca um negócio tão bem-sucedido como o DW, aí passa de todos os limites. Crowder deveria se arrepender desse papelão e reconhecer seu grave erro.

PS: A Gazeta do Povo é um jornal com valores e ideais, mas para fazer mais por eles, contratar colunistas como eu e tantos outros, investir em reportagens sérias, precisa ter dinheiro. É por isso que os cem mil assinantes são cruciais, e seria melhor ainda dobrar essa base. Para continuar fazendo o ótimo trabalho que faz, a Gazeta precisa de recursos. Isso não é óbvio?