Estátuas de figuras históricas seguem sendo derrubadas nos Estados Unidos e na Europa, e nem Winston Churchill ou Cristóvão Colombo resistiram ao ímpeto revolucionário dos jovens birrentos. Tudo os ofende, e eles se sentem no direito de apagar a história, para reescreve-la.
Vindo de jovens mimados dá para entender, mas a passividade de lideranças políticas e jornalistas na grande mídia é assustadora. Curvam-se diante da patrulha da patota, e tentam ficar bem na foto nesse julgamento de quem lacra mais para sinalizar virtudes. Em nome da tolerância, alimentam a intolerância.
Alan Ghani resgatou um trecho de George Orwell que mostra como sua distopia é atual, e também expõe o risco de tolerarmos essa intolerância em nome de "reparos com injustiças passadas":
Leandro Narloch foi outro que teve coragem de remar contra a maré e apontar o absurdo dessa postura intransigente dos "mimizentos":
O duro é um floquinho de neve desses se achar melhor e mais corajoso do que Colombo, que desbravou mares para se aventurar em empreitadas extremamente arriscadas, só porque derrubou sua estátua. Haja Toddyinho! Será que são do MBL esses rapazes rebeldes?
O passado é um reservatório de ações politicamente incorretas, capaz de chocar as almas mais sensíveis do mundo moderno. Passando os acontecimentos e os personagens de outros tempos pelo filtro da atualidade, poucos escapam da inquisição. Esse revisionismo tem gerado situações delicadas nas universidades. Nomes de prédios e monumentos devem ser trocados para que os jovens não se sintam “ofendidos”. E o pior é que muitas demandas têm sido atendidas!
Incomodado com esse clima persecutório, Anthony Kronman escreveu The Assault on American Excellence. Ele fala da importância de tolerarmos mementos de um passado imperfeito como lembrança de que somos, nós também, seres falíveis. Ele usa o conceito de “mente expandida” de Hannah Arendt para justificar a importância de não tentarmos apagar ou reescrever o passado por lentes modernas, limitando assim o escopo de visões possíveis de mundo.
“Na medida em que permanece vivo entre nós, o passado tem o poder, talvez mais do que qualquer outra coisa, de sacudir-nos do torpor bovino que o espírito do politicamente correto induz – alargar nossas mentes a possibilidades que estão fora da faixa de alcance de uma imaginação cada vez mais empobrecida”, escreve o autor. Ou seja, conviver com esses resquícios do passado nos torna mais capazes de aceitar a ambiguidade da vida, até mesmo desenvolver um apreço por ela, algo fundamental dentro dos muros universitários.
O passado é particularmente desafiador porque nos confronta com o espetáculo de homens e mulheres cujos valores, hábitos e crenças eram muito diferentes dos nossos e, no entanto, eles eram seres humanos como nós. Esta é uma tensão frutífera, segundo Kronman.
Mas a garotada rebelde não quer saber de nada disso. Quer mudar o feriado do Columbus Day para "Homenagem aos Indígenas", e só restará estátua de Atahualpa e Montezuma se depender dessa turma. Não importa que ambos tenham sido líderes autoritários e cruéis, já que são representantes das "minorias".
Trocando em miúdos: antes de organizar um protesto para derrubar uma estátua de algum “pai fundador” por ele ter tido escravos, numa época em que a escravidão era a norma no mundo, caberia ao jovem ser menos arrogante, tentar compreender o contexto da época, observar aqueles acontecimentos históricos com uma lente mais imparcial, tentar se colocar dentro daquele cenário.
Isso levará a uma abordagem bem mais humilde, evitando o constrangimento pela estupidez de se julgar moralmente superior a um Thomas Jefferson, digamos, só porque gritou palavras de ordem numa manifestação enquanto matava aula fumando maconha.
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