Dou muita importância aos conceitos, aos rótulos, por entender que é em sua deturpação que começam inúmeros problemas políticos. Sempre lutei, com base nisso, para resgatar o termo liberal da esquerda, que o havia usurpado para si. Agora é crucial fazer o mesmo com o termo conservador, sequestrado por reacionários.
Ao escrever sobre o assunto, citando o ótimo editorial do Estadão, um leitor publicou uma imagem que contrasta os 10 princípios do conservadorismo com aqueles do reacionarismo. O "conservadorismo" à brasileira foi dominado pela figura do "filósofo" Olavo de Carvalho, que não tem nada de conservador. Desconheço a autoria do texto, mas por endossa-lo na íntegra, reproduzo aqui seu teor:
- O conservador crê em uma ordem moral duradoura e rejeita qualquer engenharia social; o reacionário acredita num único valor "moral", a submissão, já que está certo quem se submete integralmente ao grupo, e errado que ousa se opor de alguma forma;
- O conservador prioriza a continuidade em vez de a ruptura, enquanto para o reacionário a meta é uma só: a ruptura pelo meio do caos, detonando o "sistema" e flertando com "soluções mágicas", como mandar "um cabo e um soldado" para fechar o STF e o Congresso;
- O conservador valoriza o conhecimento consolidado, já o reacionário quer fé num grupo de "ungidos" para determinar a moral de toda a sociedade;
- O conservador se guia pelo princípio da prudência, em vez de assumir altos riscos; o reacionário considera prudência algo como demência ou fraqueza, e todos os riscos são aceitos quando convém;
- O conservador respeita a variedade de visões de mundo, em vez de aceitar "fórmulas prontas" para todos; para o reacionário não há espaço para variedade, mas sim uma fórmula pronta e única da sociedade ideal;
- O conservador aceita que a natureza humana é falha, que não existem grupos ou pessoas "ungidas" para salvar a humanidade; o reacionário seleciona um grupo ou mesmo uma pessoa considerados capazes de salvar a humanidade;
- O conservador quer promover a liberdade e a propriedade, em vez de permitir a gestão estatal sobre isso; para o reacionário vale a lógica de ocupação de espaços, e nenhum direito está garantido se for para tal "nobre" meta;
- O conservador prioriza comunidades voluntárias, rejeitando o coletivismo; o reacionário adere ao coletivismo e defende que só importa a "vontade do grupo";
- O conservador quer conter o poder e as paixões humanas, em vez de ceder poder enorme ou absoluto a alguns; o reacionário parte da premissa de que um grupo está livre dessas paixões, é "incorruptível", e deve acumular bastante poder o suficiente para mudar o mundo;
- O conservador reconhece o valor da estabilidade junto com a mudança, em vez de defender o reacionarismo radical ou o progressismo extremo; para o reacionário há uma utopia garantida e ela trará um passado maravilhoso, idealizado, que salvará a civilização ocidental.
Com esses diferentes princípios em mente, fica mais fácil identificar quem efetivamente fala em nome do conservadorismo em nosso país, e quem apenas usa o rótulo para, na prática, pregar um caminho reacionário, revolucionário, autoritário.