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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Dificuldades do liberalismo brasileiro

Por Carlos Junior, publicado pelo Instituto Liberal

O Brasil é um país deveras singular. Seus desenvolvimentos históricos na política, na cultura e nas suas estratificações sociais dão à nossa amada nação um vigor ímpar, uma trajetória própria e incomparável com qualquer outra pátria neste mundo. Conhecer o Brasil é encontrar respostas para os mais diversos questionamentos que por ventura podem surgir ao estudá-lo.

Uns dos questionamentos frequentemente surgidos é: por que o liberalismo praticamente nunca logrou êxito no Brasil? A resposta pode ser encontrada na história de nossa pátria; os fatores brasileiros hostis ao liberalismo são de aspectos culturais, ideológicos e de formação e povoamento.

O liberalismo político tem na Inglaterra uma boa vitrine. Afinal, desde a Carta Magna de 1215, o rei nunca cantou de galo para cima do povo e do parlamento. Com as tribulações religiosas resultantes do rompimento feito por Henrique VIII da Igreja inglesa com a Santa Sé romana, a soberania do parlamento frente ao executivo real foi reafirmada com as ‘’revoluções’’ puritana e gloriosa. Um poder estatal diminuto e bem estabelecido foi sem dúvida um terreno fértil para o liberalismo econômico ali encontrar morada.

Além disso, o iluminismo britânico foi um fator importante no campo cultural para tal desenvolvimento liberal. John Locke era defensor de que o homem tem direito natural à vida, à liberdade e à propriedade e que o organismo governamental não pode interferir em tais direitos. O iluminismo ali foi diferente de seu semelhante francês, o que explica a brutal diferença de destino da Inglaterra e da França. A conservação dos direitos naturais do homem foi a base do liberalismo inglês e isso foi a base para o desenvolvimento do capitalismo liberal na terra da rainha.

Se na Inglaterra o liberalismo encontrou condições propícias para o seu desenvolvimento, no Brasil foi totalmente diferente. A primeira coisa a pensar é o fato de que as navegações portuguesas descobridoras do Brasil foram um empreendimento estatal realizado pela Coroa portuguesa. Já em 1549 tivemos um governo-geral, com Tomé de Sousa como nosso governador-geral. Mas que sentido havia estabelecer governo em uma região praticamente desabitada e com apenas o litoral povoado?

Esse é o ponto central da questão: tivemos governo antes de ter povo. Tivemos executivo antes de existir um corpo político propriamente dito. Tivemos a máquina estatal antes de uma população organizada. Essa constatação aparece no livro do historiador João Camilo de Oliveira Torres, intitulado Interpretação da Realidade Brasileira. Com isso, o poder estatal é sempre o agente de transformação no campo econômico, social e político, e não o contrário. Esse fato é permanente em nossa história, o que explica a visão tipicamente brasileira do governo como solução dos problemas e motor do progresso – mesmo que a realidade mostre exatamente o contrário.

Ora, em um país colonizado por uma metrópole decadente e com péssimas gestões em todos os sentidos – a pior delas a do Marquês de Pombal –, não havia ambiente para o surgimento do capitalismo liberal. Em solo tupiniquim, o povoamento era escasso, os indivíduos viviam isolados uns dos outros e as comunicações eram péssimas. A arrecadação das províncias era pequena, a maioria da população era analfabeta e sem afeição aos negócios. A garantia de liberdades e direitos era precária pela própria dificuldade de fiscalização e aplicação da lei. Como possuir capitalismo em um ambiente como esse?

Somem tais fatores ao golpe republicano de 1889. O advento da República era um misto de positivismo com americanismo, correntes intelectuais completamente estranhas ao nosso país. Fragilmente estabelecida, tal forma de governo trouxe duas coisas: aumento do tamanho do Estado e uma permanente instabilidade política. Com instituições frágeis e pouco respeito às leis, não há como estabelecer um Estado liberal de direito, como em outras nações.

A partir daí, pipocaram os mitos antiliberais. Primeiro veio o varguismo. De inspiração fascista, antiliberal e trabalhista, Getúlio Vargas governou o país com mão de ferro, em uma ditadura estranhamente lembrada por seus supostos benefícios aos trabalhadores brasileiros. A CLT – consolidação das leis trabalhistas – até hoje vigente é uma herança do nefasto período. As bases da indústria nacional também tiveram na Era Vargas a sua gênesis. O protecionismo danoso travestido de nacionalismo econômico também surge daí. Com esses três pilares, o varguismo fincou raízes na política e no imaginário brasileiro de forma duradoura.

Falamos dos entraves ao liberalismo no âmbito cultural. Mas não posso deixar de destacar a Constituição de 1988. Ela também explica a dificuldade de o liberalismo lograr êxito por aqui. A Constituição de 88 é de inspiração socialista, progressista e também trabalhista, fato admitido pelos ex-presidentes Lula e Michel Temer. Até mesmo o ex-presidente José Sarney admitiu o óbvio: a CF de 88 tornou o país ingovernável. Incutiu mais ainda a ideia do Estado como provedor de direitos e serviços gratuitos, sem que o povo tenha nada a dar em troca.

Com esse quadro, não é surpresa alguma o domínio político dos sociais-democratas do PSDB e do PT, partido que juntou a nata do gramscismo. Com esses dois partidos no poder, o estatismo foi intensificado a níveis elevadíssimos, em uma situação de difícil conserto. A tradição antiliberal do Brasil justifica em grande medida a hegemonia esquerdista nos campos políticos, culturais e imaginários brasileiros.

Se no conhecimento do passado é possível encontrar respostas no presente, a história brasileira não foge à regra. O liberalismo no Brasil sempre encontrou dificuldades para estabelecer morada, e não foi por acaso. As dificuldades não são pequenas, e só o futuro irá mostrar se serão superadas ou não.

Referências:

1.https://jus.com.br/artigos/55942/do-absolutismo-de-hobbes-ao-liberalismo-de-locke-do-estado-natureza-ao-estado-civil

2.https://www.youtube.com/watch?v=Io3N-GPOrws

3.https://www.institutoliberal.org.br/recente/temer-admitiu-influencias-socialistas-na-constituicao-de-88/

4.https://www.conjur.com.br/2008-set-14/constituicao_88_tornou_pais_ingovernavel_sarney

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