Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
A humanidade está diante de um grande desafio: um inimigo invisível que pode até não ter um potencial assassino tão elevado por si só, mas que amontoa vítimas e impacta os sistemas de saúde a tal ponto que, se tratado como brincadeira de criança, pode provocar um enorme estrago.
O Brasil, quer queira, quer não, toma sua parte nesse desafio. Estamos sofrendo sua ação depois de diversos outros países – especialmente os da Ásia e do Velho Mundo. Não há desculpa para não aprendermos com a experiência difícil que está sendo vivida por eles e não nos prepararmos adequadamente para enfrentar esse problema.
Estou muito triste por não estarmos apenas discutindo a relevância das reformas estruturais, a melhor configuração de uma reforma na tributação ou na administração, os passos fundamentais que poderíamos dar para sairmos do atoleiro em que os desgovernos vermelhos nos mergulharam e nos recuperarmos economicamente. Em vez disso, a economia mundial sofrerá consequências inimagináveis e nós já nos vemos forçados a declarar estado de calamidade pública, dando ao governo prerrogativas para aumento de gastos públicos para o enfrentamento da crise.
Pelos desígnios da Providência, um grande problema imponderável vindo da China acabou por comprometer aquilo tudo por que ansiávamos. Até mesmo de nossa liberdade de circulação, mesmo que voluntariamente, vemo-nos forçados a abdicar, no interesse de evitar a superlotação de hospitais e minimizar os danos causados ao bem mais precioso: a vida humana.
Não há como perdermos tempo com lamentos, mas deploro profundamente ao constatar que alguns amigos liberais e libertários estão desdenhando do trabalho e das recomendações de médicos e cientistas em virtude de todos os sabidos prejuízos econômicos daí decorrentes, por mais sérios que eles efetivamente sejam. É preciso saber identificar as prioridades impostas pela quadra histórica ora vivida. Não podemos agir como terraplanistas e afetar nossa augusta sapiência contra os especialistas da área. Menos dogmas, mais realidade.
Igualmente, é preciso entender que o coronavírus tem um aliado poderoso, outro inimigo importante que precisa ser enfrentado: a insensatez. Roberto Campos teve permissão divina para deixar este mundo antes de o PT chegar ao poder, mas gostaria de saber como seriam suas célebres frases sobre o passado glorioso e o futuro promissor da burrice nos dias de hoje.
Insensatez das esquerdas, a exemplo da Pastoral Carcerária, ligada à CNBB, aproveitando-se do momento para defender que a proibição de visitas a presos não é suficiente para protegê-los do vírus e que o certo seria colocá-los todos na rua – e que se dane o cidadão honesto!
Insensatez de quem não conseguiu impedir que 1500 criminosos escapassem das prisões em São Paulo, enquanto concedia entrevistas sobre seu arrependimento pelo voto que deu nas eleições de 2018, o que não interessa a ninguém – entendeu, João Doria? Não é hora para isso! E pensar que dizia que não era um político…
Insensatez do presidente do Senado, que cancelou a sessão do Congresso em cima da hora, depois de já ter feito vários parlamentares pegarem avião, circularem e viajarem para comparecer – para no fim ele mesmo, Davi Alcolumbre, testar positivo para o coronavírus.
Insensatez de quem não quer abrir mão dos milhões do fundão eleitoral em benefício do combate ao impacto do coronavírus, mesmo sabendo que a doença já chegou ao Parlamento e que todos caminhamos sobre a mesma terra e respiramos o mesmo ar.
Insensatez de quem insiste em convocar manifestações de rua, qualquer que seja o motivo, achando que há heroísmo em se arriscar – menosprezando o fato de que tornar-se vetor da doença não é problema apenas para si próprio, mas para todos que o cercam, especialmente os mais vulneráveis.
Insensatez do presidente da República Jair Bolsonaro, que teve nos últimos dias o seu momento mais triste à frente do cargo. Depois de fazer pouco caso de uma pandemia, sendo basicamente o único líder mundial a enfatizar que tudo não passa de histeria e fantasia, Bolsonaro fez um pronunciamento protocolar recomendando que as pessoas se abstivessem de ir às ruas. Ele mesmo teria que se submeter ainda a um segundo teste para verificar se portava o coronavírus e estava em isolamento. Dois dias depois, como se nada houvesse dito, saudou e divulgou as manifestações de rua a seu favor, foi até uma aglomeração na Esplanada, cumprimentou as pessoas com apertos de mão, segurou seus celulares para tirar fotografias e concedeu entrevista desafiando Alcolumbre e Rodrigo Maia a irem às ruas a seu lado – num momento em que o que mais as pessoas foram aconselhadas a evitar foi justamente irem às ruas. Com essa postura irresponsável, Bolsonaro sofreu seus primeiros “panelaços” e viu muitos de seus eleitores repreenderem o indefensável. O que se espera é que a pressão imprevista seja a voz da razão para o presidente e que ele assuma o papel que deve assumir em momento tão grave, antes que mais uma oportunidade preciosa para o Brasil, aberta com a sua eleição e a nomeação de seus quadros ministeriais, seja completamente perdida.
Insensatez, também, por fim, de quem acha que o momento é de disputas políticas e de tentar colher dividendos eleitorais. Neste momento, todos, do Oiapoque ao Chuí, de Seul a Ottawa, estamos no mesmo barco. Não me somarei à insensatez e apelo a que todos coloquem a mão na consciência, repensem suas atitudes e se disponham a trabalhar para vencermos a grande batalha de 2020.
Com espírito cívico, investimento privado e das autoridades públicas no estudo e enfrentamento da doença, com a aceitação dos sacrifícios momentâneos que nos permitirão sorrir de novo mais adiante, poderemos atravessar esse mar tempestuoso e nos reerguer.
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