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Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

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Esta semana foi peculiar para os estudiosos da moral social, para cristãos de ego frágil e para os demais opinadores moralistas que hoje vagueiam sem estadia pelas redes sociais; o saldo da “contra-inquisição”, até o momento, é um padre denunciado por corrupção ativa e lavagem de dinheiro na administração da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe); uma pastora, Flordelis, acusada pela Polícia Federal de ter arquitetado o assassinato de seu marido com a ajuda dos filhos adotivos; e, para “sextar” de vez: o Pastor Everaldo, ex-candidato à Presidência da República pelo PSC, acordou com a Polícia Federal fungando em seu cangote, dizendo que ele estava sendo preso pelo recebimento de valores em espécie provenientes de corrupção no governo do Rio.

A esquerda está se deliciando nas imoralidades dos líderes cristãos; lambuzam-se nas críticas tal como os porcos se refrescam na lama de suas próprias fezes. Se juntar a esse contexto que a Flordelis parece ter apoiado fortemente a candidatura de Bolsonaro, ter fotos com a Primeira Dama e com a “terrivelmente evangélica” Damares, nossa Senhora... Ao mesmo tempo, para continuar nas delícias da esquerda, Bolsonaro parece ter um apoio maciço da comunidade católica ― apesar das “comunices” dos bispos da CNBB; e é claro, como já sabemos, vale usar tudo para atacar Bolsonaro, e se neste processo podemos também desacreditar o Cristianismo… parece um sonho…

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Nem perderei muito tempo para dizer que uma pessoa sincera e madura saberia, naturalmente, separar o Cristianismo e seu legado das fraquezas e “demonices” humanas que desde Adão são constantes, seja em parábolas, seja na biografia humana documentada. A ética não depende das pessoas que a expressam, e ainda que seja preferível e quase urgente que os discursos morais se aconcheguem às vidas das pessoas, sempre haverá uma inconformidade ontológica entre as concupiscências da queda e a centelha de Deus no homem.

A verdadeira luta do homem na realidade jamais será aquela existente entre ricos e pobres, proletários e burgueses, mulheres e homens, cães e gatos, mas sim entre a centelha do eterno e as rachaduras limitadoras do nosso caráter; limitações essas, aliás, que deveriam ser claras e óbvias para os homens. A ideia, no entanto, independe dos homens limitados que tentam praticá-la. a verdade não se esfarela porque alguém a usa para o mal.

Se fosse possível que um santo aconselhasse a mentira, e o demônio a verdade, ao homem restaria imitar a vida do santo e acolher a verdade do encardido, pois a verdade e a justiça são o que são. Desta maneira, os exemplos vergonhosos que esses religiosos hoje ostentam em suas biografias não diminuem a essência daquilo que deveriam, por vocação, perpetrar em suas vidas e discursos.

Para além de uma ideologia que fustiga a alma dos homens em uma prisão mental ― como pensava Diderot sobre a religião ―, o Cristianismo prega uma libertação do caráter humano para um transcendente que virá. Aqui, cabe salientar, não se trata de um transcendente “de faz de conta” da Teologia da Libertação; Cristo veio pregar o céu do além da vida terrena mesmo, sem metáforas, nem ajustes marxistas às verdades judaicas. Cristo falou de uma libertação do erro ético, não em vista de uma Jerusalém política constituída de homens sem erros; Ele falava de um conserto moral profundo, de um arrependimento sincero ante os atos e pensamentos que nos levam ao descontrole existencial diante de nossa própria natureza.

Não se viu em Jesus qualquer promessa de inerrância para aqueles que ostentassem placas com seu nome, músicas lindíssimas em sua honra ou pregações gloriosas sobre seus ensinamentos; e essa verdade serve para os pseudo-santos que pensam que uma Bíblia no sovaco garante a salvação e para aqueles que depositam neles qualquer tipo de esperança tola de perfeição. Pelo contrário, Jesus deu a maior dica política de todos os tempos quando Ele, Deus, em sua condição divina, fez-se livremente homem, e, feito assim, demonstrou padecer da angústia tipicamente humana, enquanto sofria Nele mesmo o dilaceramento do pecado da humanidade em seu grau máximo. Nem o filho de Iahweh foi poupado da injustiça humana, da mesquinhez moral dos homens, nem o Todo Poderoso deixou de sentir o escárnio do erro da índole das criaturas. A dica, para ficar mais claro, foi a seguinte: o homem erra, o tempo todo, e vai errar de novo, por mais devoto e fiel que ele seja; seja um erro que gera apenas uma coceira na consciência, seja um erro que gera o assassinato de uma pessoa ― Caim e Flordelis que o digam.

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O uso político dessa situação por parte da esquerda é o suprassumo da hipocrisia, pois, ao contrário do Cristianismo, a ideologia comunista que hoje samba com escárnio sobre o Cristianismo já nasce do erro mais óbvio de todos: a crença de que o homem é capaz de perfeição, seja antropológica, seja política; mas se a perfeição social e a vitória sobre as limitações mais basais da natureza humana são de fato impossíveis na história ― como diz o Cristianismo ―, então as promessas das ideologias progressistas deixam de ser importantes e sedutoras para se tornarem tolinhas e mentirosas. Por isso manter acesa a ilusão de um domínio perfeito sobre a natureza é o combustível da pregação da esquerda.

Tal erro natural no homem não se trata de um erro de ajuste – é um erro incutido no ente. Isso é fato inegável na pregação cristã, mas também é a premissa mais apaixonada das ideologias modernas; por isso que as ideologias são inegavelmente diferentes e distantes do Cristianismo – e por isso, também, que diminuir a pregação de Cristo ao terreno puramente político, antes de tudo o mais, é uma prostituição ideológica bobinha, oca de qualquer realidade evangélica, que sobrevive de paralelos hermenêuticos e distorções teológicas apaixonadas.

Aqueles que acordam todos os dias crendo que a desigualdade humana será resolvida quando mudarmos as letras nos finais das palavras; ou que a paz mundial será alcançada após todos transarem com todos os gêneros possíveis; os que acreditam em que a humanidade só encontrará redenção e paz eterna depois que os ricos lançarem das janelas de seus suntuosos apartamentos as suas fortunas, estes não estão preparados para admitir a regra mais subentendida do Cristianismo: o homem jamais será capaz de perfeição, pois o que lhe falta não é deste mundo!

Sequer passa nas mentes desses ideólogos que brincam de Lego com a humanidade, tal como uma criança que testa as peças de um quebra-cabeça na construção de seu prédio de plástico, que o homem já nasce doente da limitação e por isso condicionado ao erro e que o Cristianismo é justamente um tratamento para essa doença, tratamento que só acaba após a morte. O que resta, ao final das contas, como diz Jesus, é a prudência e o discernimento; a inteligência para separar o joio do trigo.

O Cristianismo é uma proposta de conserto da alma. Os socialistas delirantes e festivos, por sua via, têm uma proposta social que visa a uma humanidade nova, assentada nos dogmas de filósofos e pensadores que, em tardes de tédio, brincam com seus ratinhos de seu laboratório político.

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No fim, ninguém duvidará das heranças boas que o Cristianismo deixou como espólio civilizacional, apesar dos incontáveis e inenarráveis erros de seus expoentes; não duvidarão do maravilhoso legado cristão, pois, são visíveis, tateáveis e evidentes; e, se assim não veem, aconselho a leitura sincera e desapaixonada de Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental, do historiador Thomas Woods Jr.

O Cristianismo parece ter um projeto viável e confiável para o Homem – e quem diz isso são as multidões de homens e mulheres que praticaram virtuosamente suas premissas e hoje formam aquelas estantes de exemplos humanos que figuram em altares, estátuas, quadros e, para quem crê, na Cidade de Deus. O que as ideologias revolucionárias, por sua vez, têm a mostrar para a humanidade como espólio além de mãos ensanguentadas, sorrisos amarelos e montanhas de corpos?

Enfim a hipocrisia...