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Por João Cesar de Melo*
Durante a Guerra Fria, a União Soviética e os Estados Unidos mantiveram protocolos de uso de armas nucleares para que elas só fossem usadas em resposta a ataques desse mesmo tipo.
Na última semana, a Rússia praticamente destruiu esse protocolo. A partir de agora, Vladimir Putin pode autorizar o uso de armas nucleares mesmo que o território russo não esteja sob ataque. Basta ao presidente ter convicção de que o país está sob ameaça. Pode fazê-lo também caso alguma base militar russa no exterior ou algum país aliado seja atacado.
Para compreendermos a dimensão do perigo, precisamos ver o que o Vladimir Putin está fazendo no mediterrâneo:
O ditador sírio Bashar al Assad só continua no poder devido ao apoio do presidente russo. Em 2011, Putin começou a fornecer suprimentos. Em 2014, apoio militar, utilizando aviões para bombardear forças rebeldes apoiadas pela ONU, União Europeia e Estados Unidos. Em 2017, construiu uma grande base militar na Síria para consolidar sua presença no país. Graças a isso, Bashar al Assad reconquistou a maior parte do território que havia perdido.
Ainda em 2017, a Rússia assinou um tratado de cooperação militar com o Egito, para uso de suas bases militares.
Vladimir Putin já vinha desde 2014 apoiando as forças que tentam derrubar o primeiro-ministro líbio Fayez al-Sarraj (também apoiado pela ONU, União Europeia e Estados Unidos) empregando naquele país cerca 2 mil mercenários russos do temido Wagner Group.
Na semana passada, caças SU 35 (os principais da força aérea russa), começaram a operar na mais importante base das forças rebeldes.
Em 1972, Estados Unidos e União Soviética assinaram o Acordo Bilateral de Incidentes no Mar, que impunha normas de convivência pacífica em espaço aéreo e marítimo internacional, o que foi primordial para evitar conflitos entre os dois países. Porém, Vladimir Putin vem ignorando o acordo, com navios e aviões russos manobrando agressivamente contra forças americanas, como o ocorrido no último dia 26 de maio. (links no final do texto)
Em 1992, o presidente americano G. Bush e o presidente russo Boris Yeltsin assinaram o tratado Open Skies, que regulava voos de reconhecimento de um país sobre o outro, e também de mais 34 países. Com a chegada de Putin ao poder, mais esse acordo foi violado, com a Rússia negando permissão de sobrevoo em seu país, o que levou Donald Trump, duas semanas atrás, a sair do acordo.
Lembremo-nos ainda das ocupações russas na Abecásia, Ossétia do Sul e Criméia; do apoio de Putin ao Irã, que há 40 anos jura a destruição de Israel e que vinha promovendo ataques e sequestros a navios no Estreito de Ormuz; os esforços para afastar a Turquia da OTAN e dos Estados Unidos; a participação cada vez mais ativa na Venezuela, onde já controla bases militares e refinarias.
A situação atual é a seguinte: se um país como o Irã atacar um navio mercante americano, por exemplo, a retaliação dos Estados Unidos àquele país pode ser respondida pela Rússia, com armas nucleares.
Tem mais:
No último dia 11 de março, o parlamento russo aprovou a possibilidade de reeleição de Putin até 2036, sendo que ele já controla o país desde o ano 2000. O resultado da votação: 383 votos a favor, 0 contra.
Vale lembrar que Vladimir Putin, ex-chefe da KGB, interrompeu o processo de democratização da Rússia após a queda da União Soviética. Assim que chegou ao poder, iniciou a reconstrução das forças armadas russas e tomou o controle da imprensa, do judiciário, do legislativo e dos setores mais importantes da economia. Tornou-se um ditador obstinado em expandir a influência russa não por meio de empresas e pela cultura de seu país, mas pela força. O argumento dele é aquele que escutamos dos comunistas há mais de um século: impedir o “imperialismo americano”, como se a influência americana nos causasse algum mal.
O fato é que não há outra razão para o avanço da Rússia além da obsessão de Putin em dominar o mundo, tal qual Xi Jinping, ditador chinês. Rússia e China são duas ditaduras que querem acabar com o protagonismo da maior democracia do mundo. Querem substituir os princípios de liberdade que ainda predominam no ocidente por um modelo rígido de controle social, político e cultural.
Quem já viu alguma matéria na grande imprensa sobre as tensões entre China e Índia, que estão a um triz de entrar em guerra? Pois é...
Enquanto a velha e a nova esquerda brasileira se descabelam com as frases e os trejeitos de Jair Bolsonaro, ou porque ele está distribuindo cargos de 2° escalão para o “centrão” e blá blá blá, é isso o que está acontecendo no mundo.
Tenham certeza de que 90% do antibolsonarismo na imprensa e na política não passa de cortina de fumaça para encobrir as verdadeiras ameaças às nossas liberdades.
* João Cesar de Melo é artista plástico, militante liberal/conservador com consciência libertária, e autor do livro "Comunidade Progresso"