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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

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Establishment democrata busca desesperadamente alternativa menos radical

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Eis como a Folha abre sua reportagem sobre a política americana hoje: "As primárias desta terça-feira (11) em New Hampshire devem sinalizar quem ganha força como candidato moderado na disputa com o progressista Bernie Sanders pela vaga democrata à Casa Branca". Não é bem assim.

Vamos de tecla SAP: o establishment democrata está apavorado com a chance concreta e cada vez maior de ter como candidato o comunista Bernie Sanders, que seria o adversário dos sonhos de Donald Trump. O "crazy Bernie" é o típico socialista caricato, que encanta as bases democratas cada vez mais radicais com seu papo de "tudo grátis".

O público de Sanders é a garotada universitária, que normalmente já flerta com utopias e que vem sendo alvo de doutrinação ideológica há anos nas salas de aula. Os artistas e "intelectuais" também adoram Sanders, pois nunca perdem uma oportunidade de defender revolucionários insanos.

Mas o establishment democrata, que ainda não perdeu totalmente o juízo, sabe que isso seria dar um tiro no pé e entregar de bandeja a reeleição a Trump, que odeiam patologicamente. E é daí que vem o desespero de tentar inventar um nome mais "moderado", ou seja, menos radical.

Joe Biden era essa grande aposta, mas o homem parece um tanto senil, não diz coisa com coisa, carece de energia e o escândalo ucraniano que deveria arrastar Trump para o pântano serviu apenas para resgatar fantasmas do passado, como as suspeitas ocupações muito bem remuneradas do filho do senador, Hunter Biden.

Elizabeth Warren, a Pocahontas, foi outra grande aposta, mas se mostrou fraca, pois radicalizou o discurso tentando imitar Sanders, e para ir com o socialismo, melhor ficar com o "raiz" em vez de sua versão "Nutella". O ex-prefeito Pete Buttigieg surge, então, como nova possibilidade. Encaixa melhor no rótulo de moderado, em que pese seu tom mais inflamado contra os cristãos, num país repleto deles. No mais, o fato de ser homossexual assumido, casado com outro homem, pode ser uma barreira para o eleitor democrata dos subúrbios. Boa sorte ao testar o quanto descolado está esse público...

É aí que entra o multibilionário Michael Bloomberg. Diz a reportagem da Folha: "Correndo por fora, o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg tenta se aproveitar do caos em Iowa, que desgastou os competidores, e da briga entre Biden e Buttigieg. Ele entrou na disputa tardiamente e tem usado uma estratégia pouco ortodoxa, cujos resultados ainda são pouco previsíveis. Bloomberg não participa das primárias de fevereiro e disse que vai concorrer somente na Super Terça, em março, quando diversos estados fazem as primárias ao mesmo tempo. Especialistas estão céticos quanto à estratégia, mas pesquisas nacionais o mostram em quarto lugar, com 11,2%, depois de Biden, Sanders e Warren, mas à frente de Buttigieg, que tem 9%."

Dizem que Bloomberg já torrou quase $200 milhões em publicidade, e realmente é impossível ligar a TV ou navegar em redes sociais por aqui sem cruzar com alguma campanha do bilionário. Bloomberg seria, de fato, um nome preocupante para Trump, pois tem "deep pockets", é conhecido, moderado e já foi um prefeito testado em Nova York, como republicano inclusive.

Seu grande desafio é mesmo romper os preconceitos dos democratas, cujas bases radicais olham com certo desprezo para o bilionário, tido como muito pouco alinhado às causas "progressistas". O nome que representaria o maior desafio à reeleição de Trump, portanto, é também o que sofre mais resistência interna nas primárias.

A aposta de Bloomberg é no desespero democrata. Ele conta com o ódio irracional a Trump. Se ficar claro que todos os demais nomes são inviáveis do ponto de vista prático, pode ser que os delegados democratas tampem o nariz e aceitem a ideia de que vale tudo para derrotar o "terrível fascista" que ocupa a Casa Branca. É esse o trunfo de Bloomberg, e talvez a única chance real de vitória dos democratas.

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