O Estadão publicou um editorial hoje que até Jair Bolsonaro ajudou a divulgar. Entendo: em essência, o jornal tucano condena aquilo que se “transformou” o inquérito das Fake News. E toda ajuda é bem-vinda quando precisamos reverter a situação e frear o abuso supremo. Mas para conseguir isso, acredito ser fundamental voltar às origens, saber onde escorregamos, não onde caímos apenas.
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Nenhum país mergulha no arbítrio sem muitos cúmplices. Não é uma questão de “vingança” contra todos os envolvidos, mas sim compreender como foi possível que um ministro do STF, com alguns cúmplices, fizesse um estrago tão grande no país, rasgando por completo nossa Constituição, da qual deveriam ser os guardiões. E nada disso seria possível sem o apoio da velha imprensa.
O Estadão diz logo no começo: “De lá para cá, como restou notório, uma investigação legítima foi transformada em um instrumento ilegítimo de exercício de poder monocrático pelo ministro designado relator, Alexandre de Moraes, em afronta aos mais comezinhos princípios do Estado Democrático de Direito que o mesmo STF diz defender”. Como assim, uma investigação legítima?
Sim, queremos mais e mais jornais e pessoas condenando o inquérito do fim do mundo, onde cabe absolutamente tudo. Mas não podemos ignorar quem foi cúmplice, tampouco aceitar a premissa fajuta de que tudo começou de forma correta e se degenerou
Vamos refrescar a memória: com base no regimento interno que permite investigar algum atentado dentro das instalações do STF, o ex-advogado do PT criou um inquérito que passou a investigar tudo em todo lugar, dando a relatoria de bandeja, sem sorteio, para o colega tucano Alexandre de Moraes. Vício de origem, para dizer o mínimo. Logo na largada, o único voto dissidente, ministro Marco Aurélio Mello, cunhou a expressão “inquérito do fim do mundo”.
O Estadão, assim como boa parte da mídia, aplaudiu, pois o alvo era o bolsonarismo. Mas o ministro supremo não foi profeta, prevendo o que aconteceria e que o jornal tucano falhou em prever. Ele constatou um fato já vigente, que o jornal ignorou, fazendo vista grossa, pois desejava o abuso de poder desde que concentrado contra seus adversários políticos da direita.
Tanto que o jornal se vangloria desse apoio nefasto: “O Estadão foi o primeiro veículo da chamada grande imprensa a apoiar a decisão de ofício do ministro Dias Toffoli”. Como todo tucano, o jornal acha que precisa pagar pedágio e fazer acenos para poder, depois, tecer críticas pontuais aos “excessos”. É pura covardia, quiçá cumplicidade! Postura bem diferente tem tido a Gazeta do Povo, denunciando os abusos e ilegalidades desde sempre.
O Estadão admite que “Fake news” e “desinformação” passaram a ser “o que o sr. Moraes acha que é”. Mas ora bolas! E como imaginar que seria diferente, se tais “crimes” de espalhar mentiras ou “desinformação” não existem, se não passam de “crimes de opinião”, de uma invenção abjeta que produz total subjetividade onde cabe absolutamente tudo? Como o jornal não foi capaz de vislumbrar isso? Incrível limitação cognitiva dos seus editorialistas ou cegueira ideológica mesmo?
O Estadão diz, em Português cristalino: “Por meio do Inquérito 4.781, o STF, garantidor maior das liberdades constitucionais, tornou-se um órgão de censura”. Mas ali nunca houve qualquer liberdade constitucional respeitada. Foi censura desde o começo, tanto que a revista Crusoé foi alvo de censura quando denunciou o “amigo do amigo do meu pai”, não por acaso o mesmo Dias Toffoli, advogado petista, que instaurou o inquérito. O Estadão conclui:
“E assim, de abuso em abuso, de censura em censura, chega-se a quase 2,2 mil dias de uma investigação que, a despeito de sua legitimidade inicial, há muito já deveria ter sido encerrada com o indiciamento de suspeitos sobre os quais recaiam indícios de autoria e materialidade de crimes ou o arquivamento. É inaceitável, a menos que não estejamos mais sob a égide da ordem constitucional democrática, que um inquérito perdure indefinidamente – seja por sua inconsistência material, seja pela conveniência de seu relator.”
Novamente, a necessidade de se justificar, de passar pano para o próprio erro imperdoável, ao reafirmar que havia uma “legitimidade inicial” que nunca houve. Sim, queremos mais e mais jornais e pessoas condenando o inquérito do fim do mundo, onde cabe absolutamente tudo. Mas não podemos ignorar quem foi cúmplice, tampouco aceitar a premissa fajuta de que tudo começou de forma correta e se degenerou.
Sei disso pois fui um dos primeiros a denunciar em cortes internacionais o troço, ainda em 2019! E hoje sou um dos réus desse monstro sem fim, há dois anos sem redes sociais, contas bancárias ou passaporte. O Estadão, vale notar, jamais saiu em defesa de jornalistas como eu, sob censura prévia. Se os abusos mirassem somente em “bolsonaristas”, o jornal estaria aplaudindo até agora. O nome disso é hipocrisia, casuísmo, oportunismo, falta de princípios republicanos, que o jornal tanto diz nutrir.
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