Leio nos jornais sobre o casamento de Bruno Dantas com Camila Camargo, filha do empresário João Camargo. O evento movimentou São Paulo - e muitos recursos públicos. Em reportagem de Tácio Lorran no Estadão, consta que 13 ministros do governo Lula estiveram presentes na festa para cerca de 700 pessoas, e que muitos foram ou de carona com o presidente, "esticando" a agenda, ou solicitaram aviões da FAB.
Ricardo Lewandowski solicitou um jato do Comando da Aeronáutica para ir de Brasília a São Paulo. O recém-empossado ministro da Justiça viajou para o estado às 12h20 de sexta-feira. Naquele dia, participou de uma solenidade no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). No dia seguinte, foi à festa.
O ladrão voltou à cena do crime, como diria Alckmin. E a elite está em festa! O amor venceu, e o Brasil voltou. Qual Brasil? Esse aí, da festança com os figurões de Brasília, todos blindados do povo.
Múcio, da defesa, também solicitou avião da FAB. Para solicitar as aeronaves, Múcio e Lewandowski alegaram questões de segurança. Um voo de FAB para São Paulo, segundo o repórter, chega a custar R$ 70 mil aos cofres públicos, valor bem maior se comparado a uma passagem de avião comercial, até mesmo na classe executiva.
Na reportagem de Gabriel de Arruda Castro na Gazeta do Povo, há mais detalhes sobre a festa em si. Entre os presentes estavam o vice-presidente, Geraldo Alckmin; sete ministros do STF e os governadores do Pará, Helder Barbalho, e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro. Eles dividiram espaço com grandes empresários. A lista incluía também o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS, e o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ex-presidente José Sarney e o senador Randolfe Rodrigues, que enfrentou o clã de Sarney no Amapá quando ainda era do PSOL. A lista foi publicada pelo site Poder 360.
É a casta que adora o poder, que de certa forma define os rumos do país - e não há nada a se comemorar com esses rumos, principalmente se você for do povo.
O pai de Camila, o empresário João Camargo, trouxe a filha pela mão e não pelo braço, segundo o repórter. O secretário de Governo do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab, sorria cordialmente. Ao lado dele, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, parecia menos animado.
Bruno Dantas, que foi citado como um dos potenciais candidatos de Lula para o STF, foi citado na delação do ex-governador Sérgio Cabral, em 2021. Segundo o ex-governador do Rio de Janeiro, Dantas recebeu uma mesada de R$ 100 mil de um empresário carioca. A delação foi anulada no mesmo ano pelo STF, que viu problemas jurídicos no processo. Em 2023, o ex-governador se retratou da acusação.
Ao ler sobre o casamento, a lista de presentes, o uso de aviões da FAB, temos a imagem da fina flor do sistema, da elite brasileira que adora políticos - e governos, especialmente de esquerda. Muitos nomes ali seriam perfeitos para ilustrar os tais "monstros do pântano", de que falava Paulo Guedes. É a casta que adora o poder, que de certa forma define os rumos do país - e não há nada a se comemorar com esses rumos, principalmente se você for do povo.
Quando fui verificar os comentários na reportagem do Estadão, o primeiro em destaque chamou a minha atenção por resumir perfeitamente a situação: "E o povo vai comer o quê? O povo, ora, o povo que coma brioches!" A menção à suposta fala de Maria Antonieta é adequada, pois retrata bem o abismo entre "corte" e povo, isso na véspera de uma revolução contra a monarquia francesa.
Outro comentário também captura bem o sentimento geral diante desse tipo de evento: "Uma super dose de puro patrimonialismo, que é irmão do clientelismo, pragas nativas nessa terra brasilis". No "capitalismo de laços" que temos, as conexões políticas são tudo, pois o Estado é hipertrofiado e controlador. Empresários se lambuzam em esquemas e subsídios estatais, e se no comando estiver um corrupto comunista, ainda melhor para eles!
O ladrão voltou à cena do crime, como diria Alckmin. E a elite está em festa! O amor venceu, e o Brasil voltou. Qual Brasil? Esse aí, da festança com os figurões de Brasília, todos blindados do povo, fechados em suas bolhas, a ponto de sequer precisar dividir com a classe média um voo comercial. Questão de segurança!, dizem. E claro, ninguém é de ferro...
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