Muitos intelectuais atribuíram ao nacionalismo os males causados pela Segunda Guerra Mundial. O nacional-socialismo passou a ser visto como simplesmente nacionalismo, o que é um grave equívoco, ignorando o lado socialista na ideologia de Hitler, seu fanatismo totalitário, o antissemitismo, o dirigismo estatal na economia etc.
Poucos pensadores se deram conta que a reação ao nazismo, em especial a inglesa, foi graças ao nacionalismo britânico. Churchill usou desse sentimento patriótico com frequência para mobilizar o povo. Nesse sentido, existiria o nacionalismo ruim e o bom, um patriotismo saudável. O nacionalismo fanático imperialista seria uma degeneração do patriotismo louvável.
Afinal, a vida se dá em círculos concêntricos. Primeiro, valorizamos o núcleo familiar, depois a nossa "tribo", a vizinhança, pessoas que compartilham de uma cultura e uma história comuns. O estado-nação parece ser o maior tamanho territorial capaz de manter indivíduos unidos como cidadãos, com lealdade uns com os outros.
Os "progressistas", porém, sonham uma utopia romântica ilustrada na música "Imagine" de John Lennon, em que as fronteiras nacionais seriam abolidas e todos viveríamos unidos e felizes como cidadãos do mundo. Mas isso é ingênuo e perigoso.
Nem as elites cosmopolitas "liberais" que se dizem "cidadãos do mundo" se consideram assim de fato. O que eles querem dizer é que se identificam com outras elites cosmopolitas ocidentais, que adotam costumes muito semelhantes ao redor do mundo. O banqueiro indiano que mandou seu filho para Harvard é mais parecido com o banqueiro brasileiro que fez o mesmo do que ambos com seus respectivos povos. O "mundo de Davos" fala uma só língua, mas é uma bolha.
E quando esses globalistas exageram na dose, produzem uma reação forte. O Brexit foi um grito de liberdade dos britânicos contra o excesso de poder de burocratas e tecnocratas sem voto em Bruxelas. Trump foi uma resposta ao globalismo de Obama. Quando os povos sentem que a própria soberania nacional está ameaçada, eles se voltam para líderes nacionalistas, ainda que populistas.
É o que parcela considerável da França faz ao votar em Marine Le Pen. Além dos cerca de 20% dela, tem mais 7% de um candidato ainda mais nacionalista e até xenófobo. Le Pen tem moderado seu discurso, tentado se afastar do radicalismo de seu pai, apagar os elogios feitos a Putin. Ela não é uma conservadora legítima, e sim uma populista defensora do dirigismo estatal na economia. Mas ao acrescentar a forte pitada nacionalista, seduz aqueles cansados com o secularismo globalista de Macron e sua turma.
Le Pen quer restrições para refugiados, especialmente os muçulmanos que se espalham pela França sem necessariamente aderir aos seus valores laicos. Le Pen quer fortalecer as fronteiras nacionais, quer a retirada da França da OTAN, quer declarar guerra ao globalismo de Macron. E a disputa está acirrada, com pequena vantagem para o atual presidente.
Por isso Macron deverá dar uma guinada ainda mais à esquerda. O apoio mais importante pode estar entre os eleitores de Jean-Luc Mélenchon, comunista que ficou em terceiro, com 21,95% dos votos. Os defensores do candidato da França Insubmissa, no entanto, há muito nutrem antipatia em relação ao atual presidente, acusado de governar com pouca sensibilidade social e para os ricos. Como resultado, segundo uma pesquisa do canal TF1Info divulgada no domingo, 33% dos eleitores de Mélenchon pretendem votar em Macron, 44% planejam se abster e 23% querem votar em Le Pen, que fez uma campanha baseada principalmente no custo de vida.
Não acho que conservadores devam morrer de amores por Le Pen, mas tampouco devem simpatizar com Macron. Com seu globalismo e sua política social-democrata, Macron é um típico democrata americano, cada vez mais "progressista" nos valores. Isso assusta, com razão. Virar-se para uma líder nacional-populista como Le Pen pode não ser a solução ideal, mas é um grito de desespero compreensível. E é fruto justamente do crescente radicalismo dos globalistas.
Se o intuito for evitar a chegada da "extrema direita" ao poder, então os "liberais" do Ocidente deveriam levar em conta o apelo natural do nacionalismo, em vez de repudiar qualquer sentimento patriótico como se fosse um renascimento do nefasto nazismo. Isso é absurdo!
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