Volto ao tema da entrevista do ministro Paulo Guedes, em que diz para não se assustarem se alguns defenderem o AI-5 no caso de radicalização dos protestos, como aconteceu no Chile. A fala gerou muita polêmica e forte reação, inclusive de gente que respeito.
Martim Vasques da Cunha, por exemplo, foi bastante duro com liberais que "passaram pano" no teor "golpista" da entrevista:
O jornalista Pedro Doria também viu postura inaceitável do ponto de vista liberal:
Em seguida, ele rechaçou o oportunismo de uma esquerda radical que afeta virtudes democráticas para atacar o ministro e o governo:
O ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, também não aceitou qualquer contemporização ou contextualização da fala de Guedes:
Entendo a reação e, como disse, vem de gente que respeito e admiro. Outros também enfatizaram o tom inaceitável numa democracia. Mas, por mais que considere desastrosa a menção do AI-5 por parte de Guedes, por mexer em vespeiro desnecessário e por atiçar os ânimos golpistas que ala do bolsonarismo de fato possui, insisto que estão deturpando o que ele disse, confundindo análise com defesa.
"Ficam soltando assassino, alimentando a impunidade, depois não se assustem com gente defendendo o linchamento de marginal em praça pública". Essa fala seria a DEFESA do linchamento; ou uma ANÁLISE realista de causa e efeito, de que uma ação costuma levar a certa reação?
Lembram do que aconteceu com a apresentadora Rachel Sherazade? Foi exatamente isso: ela fez uma ANÁLISE dessas e foi massacrada pela esquerda, na época, como se tivesse DEFENDIDO a coisa em si. Mas isso foi injusto com ela, como é injusto com Guedes agora essa interpretação que estão fazendo, em minha opinião.
Acho que o seguro morreu de velho e é preciso manter a vigilância, sempre. Acho que bolsonaristas já deram sinais de pouco apreço pelas instituições democráticas e que alguns buscam sim um pretexto para endurecer em nome da ordem e do combate aos baderneiros comunistas. Acho até que os mais radicais adorariam um incêndio como o do Reichstag, parlamento alemão, que foi produzido pelo próprio Goering ao que tudo indica, para poder avançar sobre as instituições. Mas não acho que é disso que se trata o teor da fala de Guedes.
Concordo com a análise de Janaína Paschoal sobre o assunto:
Em suma, da mesma forma que quem enxergou tom golpista na fala de Guedes está levando em conta o contexto do bolsonarismo, quem está defendendo sua fala está levando em conta o contexto do alerta, sabendo do que a esquerda radical é capaz e já demonstrou desejar para o nosso país.
Contextualizar, portanto, é algo que ambos os lados fizeram. Uns acham que o bolsonarismo é autoritário em essência e vão ver golpismo em cada fala; outros acham que o lulopetismo é golpista e incitam o caos, e por isso o alerta contra a baderna é legítimo e necessário. Estou no segundo grupo. Não quer dizer que aceito mensagens efetivamente golpistas, que faço vista grossa aos supostos anseios ditatoriais do ministro, e sim que não vi golpismo algum nessa mensagem.