Luciano Bivar já era velho conhecido na política, e creio que poucos comprariam um carro usado seu. Tem um partido de aluguel, um negócio político, e estava flertando com o Livres, de inclinação "progressista", quando viu em Jair Bolsonaro uma oportunidade mais rentável.
Bolsonaro, por sua vez, buscava uma sigla para abrigar seu nome, depois da passagem por inúmeros partidos. Encontrou no PSL um bom "aeroporto" e pousou ali, com sua trupe. De nanico, o partido se tornou o maior da Câmara, na esteira do bolsonarismo. Claro que o responsável por tamanho crescimento desejaria, também, o controle dos recursos dele provenientes.
Mas aí restaria combinar com o dono do partido. E eis onde a confusão começa. Disputa por poder, recursos, espaço. Não há nobreza em nenhum dos lados. E a novela, ou melhor, a guerra civil ganhou novos capítulos nesta quarta. Cenas vexaminosas, dignas de uma novela mexicana ruim.
Esse tiroteio expôs as vísceras do bolsonarismo. O próprio presidente, não muito afeito às articulações políticas com o Congresso, achou adequado se meter pessoalmente para conspirar contra Bivar e tomar a liderança do PSL para si, por meio de seu filho. Sua ligação foi gravada no Palácio do Planalto por alguém, o que demonstra o grau de desconfiança geral e de intrigas palacianas em torno do presidente.
A ameaça de sair do PSL em bando era um blefe, ao que tudo indica. Até porque nesse caso não levaria a verba, fator principal da disputa. Mas Bivar não piscou, nem mesmo com busca e apreensão em sua casa. Ele preferiu pagar para ver, e Bolsonaro revelou a verdadeira intenção: era mesmo tomar o partido, ocupa-lo com seu grupo de confiança, tirar Bivar.
Bolsonaro também é velho conhecido da política. Deputado de nicho por quase três décadas, do baixo clero, corporativista, com votos contrários às reformas importantes para o Brasil. Mas por algum motivo virou novo personagem, e muitos passaram a acreditar que se tratava de um "mito" abnegado, altruísta, disposto a ir para o sacrifício pessoal e familiar em prol da Pátria. Romantismo não combina com política, mas brasileiro nunca aprende mesmo.
Aí está o presidente priorizando o controle das verbas do seu partido, enquanto o Brasil aguarda ansioso as mudanças necessárias. Há, sim, pautas reformistas positivas no governo, mas vale lembrar que no principal teste, a reforma previdenciária, o presidente jogou para desidrata-la, justamente em nome do corporativismo. E deu provas de que a família acima de tudo, seu slogan de campanha, queria dizer a sua família. Sacrifício pelo Brasil? Conta outra!
Eduardo, com essa coisa de líder do PSL, ganha uma desculpa "honrosa" para desistir, finalmente, da embaixada em Washington, algo que nunca fez sentido mesmo, mas que Bolsonaro insistia de forma absurda. Agora o 03 pode alegar que há uma missão maior que justifica sua permanência no país. Será uma inversão da narrativa, sem dúvida, mas o bolsonarismo nunca ligou para esses malabarismos, desde que continuem preservando o discurso falso.
Até o assessor especial da Presidência, uma espécie de preposto de Olavo de Carvalho no governo, encontrou tempo, no meio de sua cruzada para salvar a civilização ocidental, para fazer uma campanha por seu chefe verdadeiro:
Reparem que a narrativa segue com embalagem nobre - transformar o PSL num "grande partido conservador", sendo que, na prática, trata-se de pura disputa por poder e recursos mesmo. O filho do presidente ser o "líder natural" do partido, pela ótica do rapaz, mostra como a mentalidade bolsonarista foi tomada pelo personalismo dinástico: Bolsonaro não é apenas o presidente, mas o rei que tem direito de espalhar sua prole, os herdeiros do trono, no poder.
E sempre em consonância com os "anseios populares", pois todo populista totalitário jura falar em nome do povo inteiro, como se fosse algo monolítico, coeso. O "mitinho" usou mais de um milhão de reais do mesmo PSL para se promover nesse sentido, como futuro sucessor do líder do povo. E o pai pede maior transparência nos gastos do partido!
Todo mundo é livre para manter crenças ingênuas, naturalmente. O mundo real é duro mesmo, mais feio do que idealizamos. Especialmente na política. Mas ninguém poderá alegar, depois, ignorância ou surpresa, quando ficar evidente que o "patriotismo" dos Bolsonaro ia até certo limite, e a partir dali dava lugar à mais comezinha das paixões humanas: a ambição pessoal.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS