Antes de começar esse texto propriamente dito, faz-se necessário reafirmar coisas que já afirmei antes com bastante frequência. No Brasil, infelizmente, isso passou a ser uma obrigação, para não ser distorcido pelo tribalismo binário.
Em primeiro lugar, a imprensa tem claro viés de esquerda, a Folha de SP nem se fala, e a jornalista Patricia Campos Mello é esquerdista assumida, petista mesmo. Ou seja, achar que se trata de uma repórter imparcial em busca da verdade, e não de alguém que adoraria encontrar um furo contra Bolsonaro, é dar atestado de ingenuidade. Essa imagem de isenção da mídia é falsa, e a má vontade com direitistas salta aos olhos.
Em segundo lugar, a invertida que o PT tomou na CPMI das Fake News foi linda de se ver. O tal do Hans River foi convocado pelo petista Rui Falcão, e acabou afirmando que não disparou mensagens para Bolsonaro ou Doria, e sim para o próprio PT. O tiro saiu pela culatra. O lacre apodreceu e virou mitada para os antipetistas, com toda razão. Esse poderia ter sido o resumo da sessão desta terça, representando enorme embaraço para a esquerda.
Mas o depoente preferiu "mitar" ainda mais, e contou com o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro. Ele disse que a repórter da Folha se insinuou sexualmente para ele, enquanto o deputado disse não duvidar dessa falta de escrúpulos para conseguir uma matéria contra seu pai. Tudo muito tosco, muito feio. É coisa baixa, vil, e carece de provas.
A jornalista da Folha, por outro lado, mostrou as conversas com Hans, e nelas fica claro que não há esse oferecimento carnal em momento algum. Ele a convida para um encontro pessoalmente após um show, e ela sai pela tangente. Bolsonaristas chegaram a afirmar que a jornalista havia adulterado as mensagens, pois numa delas há um hífen inexistente em outra versão, só que isso foi explicado do ponto de vista técnico também, e pode acontecer.
É preciso traçar uma linha divisória da qual não estamos dispostos a cruzar, nem mesmo pelo nobre intuito de atacar o petismo. É onde acaba a civilização e começa a barbárie, onde nos confundimos com o monstro que pretendemos derrotar. E essa mania que bolsonaristas têm de atacar toda mulher crítica ao governo como se fosse uma vadia, uma puta, é algo asqueroso e que denota profunda misoginia.
Os bolsonaristas dizem que a mídia corporativista foca nisso como uma cortina de fumaça para não lidar com o essencial, que foi a denúncia do depoente de que a reportagem produziu Fake News e que o próprio PT fez uso dos robôs para disparar mensagens na campanha. Pode até ser, mas se for o caso é culpa dos próprios bolsonaristas, que acharam adequado dar trela para o aspecto sexual, detonando a jornalista nas redes sociais.
Os que saíram em sua defesa não foram apenas outros jornalistas, ou esquerdistas em geral, e sim gente que não aceita compactuar com esse jogo sujo típico de ala bolsonarista. O baixo nível é inaceitável, tal como fizeram com Joice Hasselmann e outras. Esses bolsonaristas podem ser um tanto "lisos" e, por isso, ressentidos com mulheres em geral, mas deveriam lembrar que possuem mães e irmãs.
O que era para ser um trunfo bolsonarista, portanto, acabou se voltando contra o bolsonarismo virtual. Não fosse esse aspecto sexual abjeto, a mensagem seria a de que o PT deu um tiro no pé e a Folha forçou a barra para atacar Bolsonaro. Mas como o pessoal perde a linha, o foco acabou sendo o baixo nível dos ataques à jornalista. Parabéns aos envolvidos!
Dito isso, esse tipo de baixaria é algo que revolta muitos, em especial na mídia, mas que não interessa de fato ao povo. O mundo não é o Twitter. Isso serve para expor a ala tosca do bolsonarismo, mas o barulho nas redes sociais é desproporcional ao impacto nas ruas. O seu Zé e a dona Maria estão pouco se lixando para isso!
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS