O presidente Bolsonaro alertou que, se os governadores insistirem nas medidas radicais de isolamento, poderemos virar um país miserável, como na África subsaariana. A imagem é assustadora, mas se o leitor prefere ignorar aquilo que diz o presidente, então pode usar como fonte a Unicef. Para a entidade ligada à ONU, a política indiscriminada de lockdown mundo afora poderá aumentar em 45% a mortalidade infantil, levando ao óbito até 1,2 milhão de crianças.
Assim como já alertou até a OMS, a Unicef lembra que cada país tem sua realidade, e que não faz sentido adotar uma solução única para todos. Isolamento em favelas onde famílias vivem aglutinadas e sem água ou comida simplesmente não funciona. Mas muitos prefeitos e governadores escolheram o caminho da demagogia, e repetem que só a saúde importa nesse momento, a economia ficando para depois. Ignoram que economia é vida!
Como disse o governador de Mato Grosso, que vem remando contra a maré, não se trata de um conceito abstrato, mas de comida na mesa do trabalhador. O estado não pode substituir a atividade produtiva, até porque é ela quem arrecada os impostos que o governo distribui. Muitos embarcaram na falsa dicotomia entre saúde e economia, e podem colocar em risco muito mais vidas com essa atitude intransigente.
Números divulgados pela Anfavea revelam que a produção de veículos do mês passado foi 99% menor que a de março. Em relação a abril de 2019, a queda foi de 99,4%. Esses não são dados abstratos: representam enorme desemprego batendo à porta de milhares de famílias.
O vice-presidente Hamilton Mourão, em artigo publicado esta semana, condenou a postura da imprensa alarmista e dos governadores oportunistas. Para ele, falta espaço para um diálogo sério, voltado ao bem-comum: "Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação".
Infelizmente isso não acontece. A maioria dos jornais dá destaque aos números absolutos de mortes, alegando que o Brasil já é o sexto país com mais letalidade na pandemia, o que ignora nossa população de mais de 200 milhões, a sétima do planeta. Qual o sentido de comparar dados absolutos com a Alemanha ou a França? Ambos tiveram muito mais mortes em termos relativos.
Entre meados de março até meados de maio do ano passado, doenças respiratórias mataram cerca de 80 mil brasileiros, segundo dados do Portal da Transparência. O covid-19 não é uma gripezinha, mas cabe perguntar: será que não há uma histeria coletiva em curso, que terá consequências terríveis à frente, se ficar claro que o remédio foi pior do que a doença?
* Artigo originalmente publicado pelo ND+
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