O filósofo Luiz Felipe Pondé tem sido um grande crítico da paranoia geral com a “autoestima” de todo mundo. Hoje, tudo gira em torno disso: como expandir a autoestima das pessoas, especialmente das crianças? O resultado é um mundo artificial, politicamente correto, de muitas mentiras, em que as pessoas acabam “protegidas” da dura realidade – e de suas importantes lições.
Em sua coluna de hoje, Pondé usa a derrota do Brasil na Copa como exemplo desse fenômeno. A seleção simplesmente “amarelou”, sucumbiu diante da pressão de lutar pelo “hexa” em casa, em um país onde o futebol toma contornos de fanatismo religioso.
Claro, há as limitações técnicas, a falta de grandes talentos individuais (à exceção de Neymar), os equívocos de Felipão e Parreira, tudo isso que foi reiteradamente apontado pelos críticos. Mas Pondé traz um ponto de vista alternativo (ou complementar), de que aos jogadores faltou a coragem de bater no peito e assumir o fardo da responsabilidade perante a esperança de milhões de torcedores.
O chororô constante, até para bater pênalti, comprova isso. Os jovens jogadores não suportaram a pressão, e isso não costuma ser perdoado facilmente. Diz Pondé:
A inflação do afeto tornou-se valor. Esses exageros têm um valor evidente: escondem, como todo mundo sabe, o medo. Isso nunca dá certo na vida real. E a seleção amarelou mesmo. Não aguentou a pressão. E o povo esperava apenas uma coisa: sucesso. Não se perdoa o fracasso, ainda que um monte de gente diga o contrário, e diga isso por mau-caratismo ou porque quer vender autoestima.
Sempre que escuto o típico discurso da autoestima, de que o importante é competir, que todos são iguais e não importa o resultado, lembro do filme “Entrando numa fria maior ainda”, quando Jack, o personagem de Robert De Niro, entra no quarto em que os pais de Greg, personagem de Ben Stiller, guardavam suas “conquistas”. Ao se deparar com um “troféu” de sétimo lugar em algum esporte, Jack pergunta: por que vocês celebram a mediocridade?
Estou citando de memória, mas foi algo assim. E retrata com humor o mundo politicamente correto de hoje, em que a mediocridade foi alçada ao patamar de deusa apenas para não magoar os perdedores e não ferir sua autoestima. Mas na prática o “povo” não tolera bem essa coisa de perdedor, ainda mais se a derrota teve, entre suas causas, o fator “amarelar” dos envolvidos. Diz Pondé:
E nesse sentido, o futebol, como o grande Nelson Rodrigues dizia, é uma tragédia grega. Cai bem chamar os estádios de arenas, já que os jogares são um pouco como gladiadores. E o comportamento da torcida é um pouco como o da torcida que assistia aos gladiadores na antiga Roma: o povo podia passar do desprezo à misericórdia, ou o inverso, em segundos, caso julgasse que um gladiador ou outro merecia uma das duas atitudes. Um dia a seleção brasileira é inspiração para os jovens, outro dia é alvo de laranja podre. O fã é um infiel por excelência.
O povo, ao contrário do que a esquerda mentirosa e os marqueteiros dizem (ambos dizem isso por interesses comerciais, só que os marqueteiros são honestos e confessam), nunca foi de confiança.
Diante da visível falta de coragem dos jogadores, o povo não perdoa. E nunca antes na história deste país a virtude da coragem teve tão pouco valor. Após tanta gente vendendo manual de autoestima para perdedores (autoajuda, como diz o nome, só ajuda o autor), acabamos com um mundo de perdedores “amarelões”. Resume Pondé:
A seleção foi bem representativa da cultura brasileira dos últimos tempos. Chorona, ressentida, delirante, sem resultados.
Com a era Lula, muitos acreditaram mesmo que sairíamos do buraco com a “bolsa-voto”, casas de graça, carros sem impostos e outras invenções baratas.
A palavra “autoestima” foi muito ouvida nos últimos tempos, principalmente na Copa. É comum hoje as pessoas acharem que todo mundo (e a mídia também) deve se preocupar antes de tudo com a autoestima das pessoas. Discordo. É este mundo da autoestima que forma os amarelões.
Rodrigo Constantino
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