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A banalização do sexo. Ou: Somos como os cachorros?
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O caso da masturbação liberada em praia sueca ainda ecoa em minha mente. Estamos diante de um absurdo completo, filhote das ideias progressistas que são disseminadas desde a década de 1960. Nelson Rodrigues, que combateu tanto essa maldição, costumava lembrar em seus artigos que o ser humano não é um cão. A vergonha, o pudor, até mesmo os tabus são formas de restrição comportamental cruciais para preservar a civilização.

Considero o direito à privacidade e à discrição um dos mais importantes do mundo moderno. Paredes erguidas em casas para separar a intimidade dos casais foram um passo e tanto para a liberdade. A separação entre público e privado se faz totalmente necessária, se desejamos viver em um mundo livre. A politização de cada detalhe de nossas vidas é um dos grandes males da atualidade.

Com isso em mente, considero realmente abominável um juiz dar um parecer favorável a um senhor que se masturbava em plena praia, para quem quisesse ver. O que parece “avançadinho” e “moderninho” não passa de um retrocesso aos tempos em que o público e o privado se misturavam mais. Cachorros fazem necessidades e sexo na frente de todos, sem problema algum.

É isso que os progressistas consideram de vanguarda? Regredir à vida puramente animalesca, instintiva, sem freios? Vivemos na era da banalização do sexo, tratado como algo simplesmente mecânico e prazeroso, tal como comer e dormir, e isso mesmo em idade cada vez mais precoce.

Quer dizer que o “avanço” progressista é retornar aos tempos em que homens andavam pelados e satisfazer os “desejos” fisiológicos era tudo que importava? Olha que até nos primórdios, como sabia Freud, os homens criaram tabus para se preservar da autodestruição. Será que quebrar todos os tabus quando o assunto é sexo é algo desejável? Com a palavra, Dom Rigoberto, personagem do excelente livro Os cadernos de Dom Rigoberto, de Mario Vargas Llosa:

Meu ódio à Playboy, à Penthouse e congêneres não é gratuito. Esse espécime de revista é um símbolo do acanalhamento do sexo, do desaparecimento dos belos tabus que costumavam rodeá-lo e graças aos quais o espírito humano podia rebelar-se, exercendo a liberdade individual, afirmando a personalidade singular de cada um, e o indivíduo soberano criar-se pouco a pouco na elaboração, secreta e discreta, de rituais, condutas, imagens, cultos, fantasias e cerimônias que, enobrecendo eticamente e conferindo categoria estética ao ato do amor, desanimalizaram-no progressivamente até transformá-lo em ato criativo. 

[…]

A pornografia despoja o erotismo do conteúdo artístico, privilegia o orgânico sobre o espiritual e o mental, como se o desejo e o prazer tivessem por protagonistas falos e vulvas e esses adminículos não fossem meros servos dos fantasmas que governam nossas almas, e segrega o amor físico do resto das experiências humanas.

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