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A batalha é cultural. Ou: A simbiose entre artistas e governo e o outono do PT
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Bosco, presidente da Funarte: governo usa nossos impostos para financiar artistas engajados. Fonte: Folha

Muitos liberais ignoram o debate cultural, achando que tudo se resume à economia (“é a economia, estúpido”) ou à política. Os conservadores raramente cometem o mesmo erro. Entendem que a batalha ideológica, no final do dia, é decidida pelo ambiente cultural do país, pelos valores disseminados pela população por meio de livros, filmes, novelas e peças teatrais. O peso dos artistas como formadores de opinião não deve ser negligenciado, e Lenin nunca o fez.

A simbiose entre artistas e governantes vem de longa data. O natural seria o artista ser um dissidente, mais uma espécie de rebelde crítico do que um bajulador do governo e do “sistema”. Mas muitos, especialmente os mais medíocres, curvam-se diante do poder, em busca de migalhas estatais, de patrocínio cultural garantido pelo governo e independente do público. Esses artistas que se tornam propagandistas do governo recebem em troca verbas públicas para suas obras, ou cargos públicos.

Um dos maiores bajuladores do governo petista na imprensa era, sem dúvida, Francisco Bosco. Em sua coluna no GLOBO, o filósofo defendia barbaridade atrás de barbaridade, sempre aliviando a barra do governo e adotando o discurso oficial em defesa de suas falcatruas. Bosco foi recompensado: foi convidado para assumir a Funarte.

É verdade que a entidade anda mal das pernas, mas não podemos imaginar que a recompensa seria grande, já que pouca gente lia (e os que liam não entendiam muito) as colunas arrastadas e verborrágicas de Bosco. Comentei algumas delas aqui, sempre desmascarando o embuste, espremendo o palavrório rebuscado para mostrar que nada havia de conteúdo por trás, ou quando havia era pura defesa do indefensável. Mas, em entrevista à Folha, Bosco confessa algo importante e que diz respeito ao tema desse texto:

Por que você aceitou o convite do ministro?
Temos uma piada interna no núcleo estratégico do MinC que diz que ele é uma espécie de Islândia do governo brasileiro. O nosso governo de esquerda do PT tem mil dificuldades de implementação de uma agenda de esquerda. Credito essas dificuldades decisivamente a forças que são exteriores às intenções do partido. Mas, no caso da cultura, até por um relativo abandono do conjunto de forças conservadoras que regem a sociedade brasileira, é possível fazer avanços significativos. Considero uma oportunidade inestimável poder contribuir para uma gestão da coisa pública orientada por esses valores de ousadia, experimentação e aprofundamento da experiência democrática da sociedade brasileira. É isso o MinC conduzido pelo Juca.

Os grifos são meus, e mostram como a esquerda, ao contrário dos liberais, dá mais valor à cultura como mecanismo de transformação da sociedade. Bosco erra muito, mas acerta ao afirmar que há relativo abandono da cultura por parte dos “conservadores” (liberais também estão incorporados nesse rótulo no Brasil). O espaço ficou por muitos anos livre para a doutrinação ideológica esquerdista. Eles dominaram tudo referente ao aspecto cultural do país, e deu no que deu.

É hora de mudar isso, de reagir, de ocupar espaços, de rebater as falácias e a subversão de valores morais e tradicionais embutida nas “artes” nacionais, boa parte com recursos públicos. Não podemos mais aceitar calados e passivos a imposição de uma agenda cultural podre, subversiva, “progressista”, bancada com nossos impostos, distorcendo nossos valores, doutrinando nossos filhos e netos. O PT é mais um sintoma do sucesso da esquerda nessa área do que causa.

Em excelente coluna na Folha hoje, Luiz Felipe Pondé fala do outono do PT, da fase decadente do partido. A fadiga do poder tem muito a ver com isso, assim como a evidente incompetência do governo e dos infindáveis escândalos de corrupção. Mas há uma mudança de mentalidade no ar, um clima de reação ao antigo monopólio das virtudes por parte da esquerda. E é essa mudança cultural o pilar mais importante para derrotar não só o PT, como a esquerda. Diz Pondé:

O Brasil perdeu o medo do PT e da esquerdinha pseudo. As pessoas descobriram que o mal-estar com essa turminha não é coisa de “gente do mal” (não é coisa de gente do mal, é coisa de gente bem informada), como a turminha pseudo diz, mas sim que somaram 2 + 2 e deu 4: o PT é incompetente para governar. Afundou quase tudo em que tocou, seja municipal, estadual ou federal (e a Petrobras). Mas essa morte do PT significa mais do que o fim de um partido que será esquecido em cem anos.

O fim do PT significa que o ciclo pós-ditadura se fechou. No momento pós-ditadura, a esquerda detinha a reserva de virtude política e moral, assim como de toda a crítica política e social. Ainda que a história já tivesse provado que todos os regimes de esquerda quebram a economia (como o PT quebrou a nossa) ou destroem a democracia (como os setores mais militantes do partido gostariam de fazê-lo).

[…]

É verdade que ainda muitos professores, estudantes, artistas, jornalistas e intelectuais permanecem sob a esfera de influência da “estrela mentirosa”. Mas isso também vai passar na hora em que muitos deles perderem o medo de serem chamados de “reacionários”. Reacionário hoje é quem se fecha ao fato de que a história andou e as pessoas já não têm mais medo do PT e da sua turminha.

Perder o medo de ser acusado de “fascista”, “neoliberal”, “coxinha” ou “reacionário” por quem não tem argumentos e prefere tentar monopolizar as boas intenções é um passo fundamental na batalha intelectual contra o socialismo e em defesa da liberdade. A mobilização política é importante, mas é mais uma consequência do que a causa da mudança. É preciso mudar o ambiente cultural, derrotar a esquerda no campo das ideias.

O governo reage, usa nosso dinheiro para financiar artistas engajados, os que ainda estão à venda para defender o mais corrupto e incompetente governo das últimas décadas. Mas cabe ao povo brasileiro reagir também, desmascarar essa turma pseudo-intelectual, esses sujeitos que embalam um conteúdo podre numa verborragia afetada que simula inteligência e profundidade, mas que não passa de uma rasa defesa do que há de mais abjeto e nefasto.

Rodrigo Constantino

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