Alguns pensam que direita e esquerda são conceitos ultrapassados. Normalmente, são de esquerda. Não creio que tais conceitos estejam obsoletos. Apenas acho que merecem qualificação e mais cuidado, pois rótulos, se servem para simplificar nossa compreensão, também podem servir para confundir.
No Brasil, a situação é ainda pior. O que é ser de direita aqui? Defender o regime militar? Os coronéis nordestinos? Os evangélicos fanáticos? Detestar pobres? Aparentemente, essa é a visão de muita gente de esquerda. Assim é fácil derrotar o adversário, não é mesmo?
O que essa turma gosta de fazer é monopolizar as virtudes. Ser “progressista” é ser modernos, a favor do avanço, enquanto ser conservador é ser reacionário. Ser de esquerda é estar do lado dos pobres, enquanto ser de direita é ficar ao lado dos ricos e poderosos. Não se debate meios, mas fins. Só a esquerda é sensível, ungida, iluminada, moderna. Nada mais falso!
Se direita é ditadura militar, pastores evangélicos ou fazendeiros machistas do interior, então não sou de direita. Só que isso não é direita. É um espantalho criado pela esquerda, para não ter que debater com a verdadeira direita.
Que tal falarmos, por exemplo, de toda a linha do pensamento conservador da Inglaterra e da Escócia? Que tal debatermos com filósofos como Roger Scruton? Ou com historiadores como Paul Johnson? Ou com historiadores econômicos como Niall Ferguson? Enfim, há várias alternativas, totalmente fora da caricatura criada pela esquerda brasileira.
Que tal resgatarmos o legado de Ronald Reagan e Margaret Thatcher? No caso brasileiro, que tal falarmos de Joaquim Nabuco ou José Bonifácio? Mais recentes? Que tal debatermos as ideias de Roberto Campos? Há alguma semelhança com essa imagem da direita pintada por seus detratores?
Os “progressistas” adoram o progresso, mas suas ideias, que têm mais de um século e cheiram a naftalina, só trazem atraso, retrocesso. São tão avançadinhos no âmbito cultural que desejam para a humanidade a volta dos tempos em que o homem era mais animal instintivo e menos humano. São “humanistas” que adoram ditaduras assassinas. Vamos falar dos fatos?
A esquerda defende as cotas raciais e as esmolas estatais para os pobres. Isso é o mesmo que defender os negros e os pobres? Só na cabeça oca da esquerda! Isso é fomentar a segregação e o privilégio, e criar dependência sem porta de saída, voto de cabresto. Quem defende o coronelismo nordestino mesmo?
Adriano Codato, pesquisador da UFPR, um dos tantos que vendem essa caricatura da direita, defende o Bolsa Família: “Essas pessoas (eleitores pobres) são governistas, não são petistas. Elas votam de forma pragmática e racional. Se há alguém que sabe votar neste país é o pobre”. Sério?
A direita, ao contrário da esquerda, não precisa glamourizar a pobreza; quer reduzi-la. Como pode votar melhor e com mais razão quem tem menos instrução e depende de esmolas estatais? À medida que o grau de escolarização e renda aumenta, a tendência é o populista PT perder votos. O pesquisador acha que isso é votar mal…
Na verdade, a esquerda adora a retórica bonita, o discurso inflamado, o monopólio dos fins nobres. Mas não liga para os resultados concretos de suas ideias, sempre opostos ao pregado. Não adora os pobres; adora a pobreza que permite a aura de defensora dos fracos e oprimidos que ostenta. Imagem é tudo.
A esquerda ama a Humanidade. Só não suporta muito o próximo, de carne e osso, diferente. Para manter as aparências, precisa detonar uma direita mitológica, fictícia, inventada pela gauche, um espantalho criado para ser destruído em praça pública e evitar o verdadeiro debate de ideias.
E então? Vamos deixar o pastor Feliciano um pouco de lado, o Bolsonaro lá no seu canto atendendo seu nicho político, e vamos debater de verdade com a direita, aquela que defende os valores morais mais sólidos, o ceticismo em relação a toda forma de utopia política, e um estado com escopo limitado justamente para não prejudicar os mais pobres?