Paula Lavigne organizou um jantar para arrecadar fundos para a família de Amarildo. Foram levantados R$ 250 mil, sendo que apenas R$ 50 mil vão para a viúva do ajudante de pedreiro, e R$ 200 mil para a ONG do advogado que cuida do caso.
Amarildo virou uma abstração, que usam para atacar a polícia e, por tabela, defender os Black Blocs. Caetano Veloso endossou as táticas criminosas do grupo ao posar para foto mascarado, imitando o estilo dos vândalos. Será que os artistas e intelectuais da esquerda caviar ligam mesmo para Amarildo?
Não é mais um indivíduo, mas um símbolo para toda uma mentalidade revolucionária que condena o “sistema”. E artistas e intelectuais, como sabemos, adoram criticar o sistema, enquanto usufruem de todas as suas vantagens.
Não há novidade aqui. Tom Wolfe ironizou os “radicais chiques” de seu tempo, que se reuniam em coberturas luxuosas de Manhattan, em jantares refinados, para levantar fundos para os terroristas marxistas dos Panteras Negras. A elite culpada precisa expiar seus pecados…
Imagino que a sensação de superioridade moral ao defender essa gente também sirva como forte entorpecente, muitas vezes mais poderoso do que aqueles já conhecidos. É uma onda e tanto se ver como o mais puro dos abnegados que luta pelos oprimidos. Ainda que entre uma Veuve Clicquot e outra.
Tanto que seus eventos “altruístas” costumam ser bem divulgados, saem nos maiores jornais do país. Cristo já alertava, no Sermão da Montanha, sobre a hipocrisia daqueles que fazem barulho com sua caridade, mais preocupados em chamar a atenção dos demais do que com o resultado concreto de sua ação. A fogueira das vaidades!
Não defendo a PM no episódio específico de Amarildo. Os responsáveis devem ser punidos, sem dúvida. Mas, em primeiro lugar, será que Amarildo era apenas ajudante de pedreiro mesmo? Segundo, e aquelas outras centenas de pessoas que morrem nas favelas, muitos por causa dos traficantes financiados, em boa parte, pelo consumo da própria esquerda caviar?
Por fim, nunca vi um único evento beneficente organizado por essa elite em prol dos policiais mortos em serviço. Será que não merecem a consideração dos artistas e intelectuais? Pelo visto, não. Preferem ficar do lado daqueles criminosos que jogam coquetéis molotov na polícia, que quebram vitrines de lojas e bancos, que depredam o nosso patrimônio.
A esquerda caviar busca símbolos, e transforma gente de carne e osso em bandeira ideológica. Foi assim com Trayvon Martin, o garoto que foi morto por George Zimmerman em 2012. Centenas de outros garotos negros foram mortos, a maioria, inclusive, por negros, mas aquele em especial virou um mascote, uma bandeira política que até o presidente Obama sacudiu atrás de votos.
Hipocrisia, uso político da desgraça alheia, vaidade, essas são as marcas registradas da esquerda caviar, que sempre esteve do lado errado na batalha das ideias. Sim, eu disse sempre, pois não passa de um mito que pessoas como Chico Buarque lutavam pela democracia na década de 1960. Nada mais falso!
Lutavam pelo comunismo, que não se mistura com democracia, assim como água não se mistura com óleo. Tanto que muitos deles, até hoje, ainda defendem a mais longa e assassina ditadura do continente: o regime cubano. Que diabo de democracia é essa?
A predileção pela censura, aliás, veio à tona novamente na questão das biografias. A própria Paula Lavigne lidera um grupo, chamado ironicamente de Procure Saber, que tenta impedir o povo de saber mais sobre figuras públicas. Deseja vetar biografias não autorizadas, as únicas que prestam, pois as demais são chapas-brancas, pura propaganda consentida.
Alguns artistas dizem que é pelo direito de privacidade, mas é balela. São os primeiros a buscar holofotes e relatar até intimidades em revistas de fofocas, quando interessa. No mais, a reputação não pertence ao indivíduo, e se há o bônus da fama e do sucesso, inclusive financeiro, também há o ônus por ser figura pública. Nos Estados Unidos são a coisa mais comum do mundo as biografias não autorizadas.
O que querem é impedir que outros ganhem contando mais detalhes de suas vidas. Só eles podem lucrar com sua fama. Nunca conheci gente mais gananciosa do que esses ricos esquerdistas, que posam de socialistas.
Durante muito tempo, gozaram da cumplicidade da grande imprensa. Eram “os intocáveis”. Alguns viraram “unanimidade”. Passaram a se sentir acima do bem e do mal. Mas a máscara caiu. A esquerda caviar, agora, está desnudada e exposta ao público, sem o manto da hipocrisia.
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
Artigo originalmente publicado no GLOBO