“As regiões mais sombrias do inferno estão reservadas para aqueles que permanecem neutros em tempos de crise moral”. (Dante Alighieri)
A entrevista nas páginas amarelas da Veja desta semana, com a pianista venezuelana Gabriela Montero, resume bem a postura daqueles que se fingem neutros em tempos de crise: imoralidade. Alguém ficaria neutro diante de Hitler? Pois é. Mas quando se trata de ameaças socialistas, igualmente terríveis, os artistas e “intelectuais” acham que a neutralidade é louvável, quando não endossam o próprio socialismo.
Pensei nisso ao ler a coluna de Verissimo no GLOBO de hoje. O escritor, que sempre que pode defende o socialismo, tenta agora posar de neutro, como se fosse a postura mais correta diante, por exemplo, da ditadura cubana. Diz ele:
Cuba, por exemplo, está no centro do debate esquerda/direita no país há anos. É um exemplo admirável de resistência à prepotência americana e de sociedade solidária em que saúde e educação públicas são prioritárias ou um exemplo lamentável de país totalitário que prende seus críticos e cujos benefícios sociais não compensam a falta de liberdade, dependendo do seu lado. A polarização das opiniões não permite que se torça pelo meio-termo, também conhecido como a visão de cima do muro: admirar o admirável e lamentar o lamentável, sem esquecer que o que se vê de longe são as versões e não os fatos.
Ora, será que Verissimo se esforçaria em uma próxima coluna para enxergar o “lado bom” do nazismo? O filho de Érico apela para esse pseudo-neutralismo para, no fundo, vender um lado, que é justamente o lado podre. Quem é que ainda acredita nas “conquistas sociais” cubanas? É preciso ser muito alienado para isso. A saúde cubana é um lixo, faltam remédios básicos, as instalações são precárias e Fidel, quando precisa se tratar, chama médicos espanhóis (e exporta mais de 10 mil escravos para o Brasil).
Educação? Qual? O que há em Cuba é uma doutrinação ideológica completa. Aprendem a ler, mas não podem ler. George Orwell e seu clássico 1984, para dar um único exemplo, jamais poderiam ser lidos pelos cubanos. A imprensa é monopólio estatal e atua como máquina de propaganda do regime ditatorial. Prostitutas são diplomadas, mas continuam prostitutas. Educação? Qual?
Cuba tinha indicadores sociais melhores do que a América Latina quando Fidel tomou o poder, e hoje a ilha é uma total miséria. Mas Verissimo pretende convencer seus leitores desatentos de que tudo não passa de um “Fla x Flu”, de uma questão de ponto de vista, de qual versão você escolhe, uma vez que não são fatos. O que se vê de longe é, na verdade, a hipocrisia de Verissimo. O que se vê de perto é a escravidão e a miséria de Cuba. E Verissimo apela para a mesma tática quando se trata da Venezuela:
Muitos vibraram com a ascensão de Allende ao poder no Chile como se ele tivesse chegado ao Palácio do Planalto, e vê-se que, hoje, muitos acham que o que o Brasil precisa é de um bom pinochetaço. Também vivemos vicariamente na Venezuela, onde a história acontece em extremos tais que tornam difícil sequer identificar os lados em conflito, quanto mais escolher um para torcer.
Será que é difícil identificar os lados em conflito? Será que é mais difícil ainda escolher um para torcer? Só mesmo para alguém como Verissimo (o filho, claro, não o pai). Então Verissimo acha difícil escolher entre Maduro, um tirano inspirado em Castro que usa agentes cubanos para atirar na própria população civil venezuelana, ou aqueles que querem uma democracia de verdade? Será que Verissimo teria tanta dificuldade assim em escolher para quem torcer entre Hitler e Churchill?
Como podemos ver, o colunista usa seu humor e a leveza na escrita, com contornos futebolísticos, apenas para enganar os trouxas e defender o indefensável: o socialismo autoritário que ele, no fundo, tanto admira. Para quem identifica a tática pérfida, resta apenas sentir vergonha alheia, ainda mais quando lembramos de quem o homem é filho…
Rodrigo Constantino
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