Uma reportagem na Folha este domingo mostra que empreendedores estão unindo o lucro ao fim social de ajudar os mais pobres. É importante mostrar que é possível ter esta finalidade louvável e, ao mesmo tempo, obter lucros. Mas há, em minha opinião, um erro de premissa na largada: lucrar no livre mercado, quase sempre, já é exercer uma função social. Volto a isso. Antes, alguns trechos da matéria:
A Saútil, empresa dona de site que dá informações sobre onde encontrar medicamentos fornecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), faturou R$ 250 mil em 2012 e prevê receita de R$ 1,5 milhão neste ano.
O caso da companhia de São Paulo é uma mostra de que é possível buscar resolver um problema da sociedade e ser bem-sucedido financeiramente ao mesmo tempo.
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Claudio Sassaki, 39, que é formado em administração e pedagogia e trabalhava em um bancos de investimentos, diz que resolveu montar um negócio assim mais por realização pessoal do que pela percepção de uma oportunidade de mercado.
Com um sócio, criou um sistema de “aprendizagem adaptativa”, oferecido pela empresa Geekie.
Trata-se de uma ferramenta on-line que indica as melhores formas de apresentação do conteúdo de uma matéria. Isso é feito a partir de uma prova de diagnóstico e de atividades realizadas pelos estudantes.
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Para Sassaki, isso permite, ao mesmo tempo, dar uma missão social ao negócio e permitir que ele cresça.
“Se não houver sustentabilidade financeira, lucro, não há sonho que se sustente sozinho”, afirma.
Ok, tudo isso é legal, bonito. Na verdade, o “banqueiro dos pobres”, Muhammad Yunus, já tinha mostrado que é possível lucrar e voltar as energias para a ajuda aos mais carentes, em uma quase filantropia. Mas agora volto ao meu ponto de discordância: e todos os demais negócios lucrativos que atendem as classes mais baixas? Ora, essa já é a realidade de boa parte do mercado!
A Wal-Mart, maior varejista americana, vende mais barato que a concorrência. Tornou-se um império, herdeiros estão entre os mais ricos do mundo, mas quem diria que não exerce incrível função social? Como ela, temos inúmeros exemplos.
No Brasil, a Casas Bahia cresceu bastante focando no crediário para os mais humildes. O mercado livre é uma máquina de lucrar quando capaz de beneficiar os mais pobres. Eles exercem trocas voluntárias com essas empresas, só comprando aquilo que consideram vantajoso. E, pelo ganho de escala, milhões de consumidores, ainda que humildes, podem gerar bilhões em lucro.
Sempre que escuto um empresário bem-sucedido falar que quer praticar filantropia para devolver aquilo que a sociedade lhe deu, tenho calafrios. Se quer praticar filantropia, legal, é legítimo. Mas não precisa desse discurso culpado. O que a sociedade lhe “deu” já é contraparte daquilo que sua empresa “deu” à sociedade.
A Apple vale bilhões de dólares porque os consumidores adoram seus produtos. A fortuna que Steve Jobs amealhou em vida, portanto, é justa; não há exploração alguma envolvida no processo. Só na cabeça de marxistas tacanhos que, infelizmente, ajudaram a deturpar a mentalidade predominante no país.
Como resumiu o fundador do Instituto Liberal, que tenho o orgulho de presidir:
Pretender que a empresa tenha uma ‘função social’ outra que produzir melhor e mais barato o que os consumidores desejam é não só um paradoxo: é uma farsa. – Donald Stewart Jr.