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A morte de nossa indústria explicada pelo diferencial de inflação e o câmbio

A indústria do Brasil está em crise, incapaz de competir em pé de igualdade com o resto do mundo. Vários são os motivos para isso, todos convergindo para o problema estrutural conhecido como “Custo Brasil”. Ou seja, temos uma carga tributária absurda e complexa, uma infraestrutura caótica, leis trabalhistas obsoletas e rígidas demais, mão de obra pouco qualificada, excessiva burocracia, elevada taxa de juros, etc. A lista é longa.

Em vez de fazer as reformas estruturais que poderiam mitigar tais males, o governo preferiu tapar o sol com a peneira, distribuir subsídios por meio do BNDES, conceder privilégios pontuais para cada setor, reduzir na marra a taxa de juros, decretar queda na tarifa de energia elétrica, adotar barreiras protecionistas, etc.

Além disso, estimulou a demanda com gastos e crédito públicos sem a contrapartida na oferta, ou seja, sem conseguir atrair investimentos. Claro que não funcionou. A demanda teve de ser atendida por mais importação e houve pressão sobre o preço dos insumos. O resultado está aí: elevada inflação e indústria em queda.

Há várias formas de mostrar o fenômeno da perda de competitividade de nossa indústria ao longo dos últimos anos, sob gestão do PT. Abaixo, escolhi uma que, creio, retrata bem o desespero de nossos empresários. Trata-se do diferencial de inflação em cada país, principalmente entre Brasil e Estados Unidos. Isso dá uma boa ideia de como o Brasil ficou mais caro em termos relativos. Vejam:

Inflação mundi Inflação ao consumidor desde 2003 (base 100). Fonte: Bloomberg

Reparem que países como Austrália, Estados Unidos e Canadá apresentaram uma inflação moderada no período, enquanto o Brasil despontou do grupo. Austrália também se beneficiou do crescimento chinês, por ter abundância de recursos naturais, e o mesmo vale para o Canadá. Mas isso não se transformou em mais inflação nesses países, ao contrário do que ocorreu no Brasil. Eis outra forma de ver a mesma coisa:

Inflação (IPC) acumulada desde 2003. Fonte: Bloomberg Inflação (IPC) acumulada desde 2003. Fonte: Bloomberg

Enquanto nossa inflação acumulada desde 2003 ultrapassa 85%, a inflação americana no mesmo período sequer chegou a 30%. Ou seja, tivemos uma perda de poder aquisitivo de nossa moeda bem maior. Se isso tivesse se refletido em uma forte desvalorização cambial, ou seja, em uma perda de valor do real frente ao dólar, o problema seria mitigado em parte. Não foi o que aconteceu, como podemos ver:

Real x Dólar. Fonte: Bloomberg Real x Dólar. Fonte: Bloomberg

O dólar valia mais de R$ 3 no começo da gestão petista, e hoje vale pouco mais de R$ 2,20. Ou seja, o real se valorizou no período, enquanto nossa inflação disparava em relação aos Estados Unidos. Para empresas que têm custo em real e precisam competir em um mundo globalizado, com produtos tradables, tal combinação é fatal.

Seu custo aumentava de forma acelerada com a alta inflação, e seu produto ficava cada vez mais caro em dólar para o resto do mundo. Isso para não falar que esse índice de inflação nosso está defasado, pois há vários preços represados pelo governo de forma insustentável.

O governo decidiu intervir no câmbio, justamente para não deixar a inflação subir ainda mais. Com isso, a taxa de câmbio ficou fora de lugar, com o real apreciado demais, e o Brasil fica ainda mais caro frente ao resto do mundo. Some-se a essa conjuntura todos os problemas estruturais, que não foram endereçados pelo governo, e temos um quadro terrível para nossa indústria.

Não tem como fugir dessa realidade. Ou o Brasil faz as reformas estruturais para tornar nossa indústria mais competitiva de verdade, sem depender o tempo todo de benesses estatais, reduz os gastos públicos de verdade, e deixa os preços livres na economia, inclusive a taxa de câmbio; ou o país ficará cada vez mais caro e sem condições de enfrentar a concorrência de um mundo globalizado.

Rodrigo Constantino

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