Poucos presidentes chegaram a esta altura do campeonato para disputar uma reeleição com tanta rejeição como Dilma. O PT já perdeu. Mas talvez não exista ninguém para ganhar. Esse é o grande problema nessa eleição: a oposição ainda não mostrou sua cara. O alerta consta na coluna de Demétrio Magnoli de hoje, e deveria ser lida com muito carinho e atenção por todos os tucanos.
Digo tucanos pois, apesar de Eduardo Campos e Marina Silva tentarem de tudo para se vender como “terceira via” fora da polarização PT e PSDB, há, como reconhece Demétrio, um vício de origem: Campos era companheiro do lulopetismo até “ontem”, e tenta focar suas críticas apenas no governo Dilma, ignorando que “Lula é Dilma” e “Dilma é Lula”. Marina passou a vida toda no PT e foi ministra de Lula. Oposição? Nova forma de fazer política? Fechando parceria com o PT no Rio? Conta outra!
Restaria, então, ao PSDB assumir o papel de verdadeira oposição ao modelo que está ali, e que engloba Lula e Dilma. Mas onde está a narrativa de oposição para derrubar os mitos criados pelo lulopetismo? Choque de gestão é muito pouco. Cortar ministérios, ainda que louvável e necessário, é muito pouco. Trocar Mantega por Armínio Fraga, ok, isso não é muito pouco, mas não basta. É preciso muito mais!
O PT sempre foi bom em criar narrativas, ainda que falsas. Conseguiu desconstruir até o legado positivo de FHC, sem que o PSDB saísse em sua defesa. Foi contra o Plano Real e todas as reformas que melhoraram o país, mas isso nunca foi devidamente explorado pelos tucanos. E conseguiu, acima de tudo, criar a ilusão de que o PSDB governava apenas para a elite, sendo o próprio Plano Real a maior conquista dos pobres nas últimas duas décadas. Conquista hoje ameaçada pelo PT.
Já o PSDB parece incapaz de criar uma narrativa que conte aos eleitores mais simples o que o PT representa de fato. E seria uma narrativa verdadeira! Por exemplo: o PT, como o próprio ex-presidente Lula já assumiu, ajudou a enriquecer os grandes empresários como nunca antes neste país. O Bolsa Empresário via BNDES faz o Bolsa Família parecer apenas migalhas para a compra de votos dos pobres. Terá Aécio coragem de bater nessa tecla, mesmo que incomodando parceiros tradicionais? Acrescenta Demétrio:
Nos três mandatos do lulopetismo, o governo promoveu o consumo de bens privados, descuidando-se da geração de bens públicos. Os manifestantes de junho de 2013 foram rotulados pelo PT como “despolitizados” por apontarem essa contradição, levantando as bandeiras da educação e da saúde (“escolas e hospitais padrão Fifa”). No fundo, as multidões que ocuparam as ruas até serem expulsas pelos vândalos e depredadores estavam tomando uma posição sobre as funções do Estado. Terá Aécio a lucidez de reacender esse debate, do qual o PSDB foge sempre que o PT menciona a palavra “privatização”?
O sistema político do país vive um longo outono, putrefazendo-se diante de todos. A “solução” oferecida pelo PT é uma reforma política que acentuaria seus piores aspectos, junto com a rendição do Congresso à pressão dos “conselhos participativos”. Mas a raiz da crise crônica está fora do sistema político: encontra-se na própria administração pública, aberta de par em par à colonização pelos partidos políticos. Aécio promete operar uma cirurgia puramente simbólica, reduzindo o número de ministérios. Terá ele a ousadia de, desafiando o conjunto da elite política, propor um corte profundo, radical, no número de cargos públicos de livre indicação?
O PSDB pode preferir sonhar com uma vitória por W.O., como se a própria incompetência petista, a economia em frangalhos ou fatores exógenos ajudassem a derrotar o PT e jogar o governo no colo tucano. Mas não funciona assim a realidade. Como conclui Demétrio, o PSDB precisa criar uma narrativa política coerente se quiser triunfar. É preciso derrubar os mitos inventados pelo PT, sem poupar o “Padim Ciço”. É necessário expor a verdadeira face petista a todos!
Rodrigo Constantino
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