Que os esquerdistas não têm vergonha na cara, muitos já sabem. Mas para tudo deve haver algum limite. E este foi, sem dúvida, ultrapassado por Wilson Cano, professor do Instituto de Economia da Unicamp. Em entrevista ao Valor, o economista afirma que o país está sem rumo por não ter uma política industrial, e que tudo isso é culpa… do neoliberalismo!
Esqueçam o nacional-desenvolvimentismo do governo Dilma, o controle de preços, o intervencionismo econômico, o aumento dos gastos públicos e do crédito dos bancos estatais, a destruição da Petrobras, o tripé macroeconômico ameaçado, etc. Nada disso está no cerne de nossos problemas. O culpado é ele mesmo, o neoliberalismo, com suas privatizações, com a abertura comercial. Diz o gênio:
Os erros advindos do neoliberalismo são as reformas do Consenso de Washington – desregulamentação financeira, abertura comercial, s reformas da relação capital-trabalho, reforma da previdência social, privatização e encolhimento do aparelho do Estado. Essas coisas, que motivaram palmas e elogios na mídia durante muito tempo a muitos empresários, cobram um preço muito pesado para o futuro. Nos livramos das estatais e nos livramos também da possibilidade de atuar diretamente no comando da política econômica de vários setores-chave. Se hoje estamos com problemas de logística, de comunicações, de energia, em parte se deve a isso. Simplesmente se entregou a coisa ao setor privado, achando que ele iria resolver os problemas. O setor privado se move com uma perspectiva de uma taxa de lucro. Quando essa taxa estremece, ele recua. Além disso, infraestrutura exige pesado financiamento de longo prazo, portanto, imobilização de recursos por muito tempo. É muito complexo deixar exclusivamente na mão do setor privado.
Só posso chegar a uma única conclusão: eu e Cano vivemos em países diferentes. Com o perdão pelo trocadilho barato, mas o homem acredita que o país entrou pelo cano pelo liberalismo que nunca teve! É absurdo demais, coisa de gente que realmente habita um mundo à parte, em que a ideologia equivocada precisa sobreviver custe o que custar, ainda que o preço seja ignorar os fatos.
Um economista que afirma que o nosso estado “se retirou da economia” sofre de sérios problemas mentais – ou de desonestidade intelectual. Que tipo de lente alguém precisa usar para enxergar o mundo de forma tão enviesada e invertida? O Brasil, um dos países mais fechados e protecionistas do mundo, virou de repente ícone da abertura comercial, e ela que nos ferrou? A Petrobras deve ir mal porque foi privatizada, com certeza! O estado, que se mete em cada mínimo detalhe da economia e arrecada quase 40% do PIB, afastou-se da economia. A logística, exatamente o setor que continuou sob forte domínio estatal, está em péssimo estado por culpa do mercado? E Valeska Popuzuda é a maior filósofa do Brasil!
Tudo isso seria cômico demais, não fosse tão trágico. Afinal, o economista é professor, ou seja, repete essas baboseiras para os pobres alunos, muitos incapazes ainda de perceber o absurdo de suas declarações. E o jornal Valor ainda lhe dá um grande espaço para que seus leitores tomem conhecimento dessa embasada e bem fundamentada crítica ao neoliberalismo, o fantasma criado pela mitologia canhota de nosso país, que jamais nos deu o ar de sua graça.
Por fim, temos uma presidente que se “formou” em economia justamente na Unicamp, com professores como esse. Socorro!
Rodrigo Constantino