Em primeiro lugar: meus pêsames aos familiares das vítimas de mais um atentado nos Estados Unidos. Essas tragédias – que, ao contrário do que muitos pensam, não são exclusividade americana -, sempre chocam. Nos forçam a conviver com a simples existência do Mal, que vem do nada ceifar vidas com uma banalidade ímpar e revoltante.
O que já me leva ao primeiro ponto: a incrível necessidade de sociólogos, psicólogos e afins buscarem sempre uma explicação para fenômenos assim. É a cultura da violência, a abundância de armas, os videogames de luta, a desigualdade social, o capitalismo etc. Baboseiras e mais baboseiras em troca do muitas vezes inexplicável.
Dito isso, o caso recente do ataque de Aaron Alexis chama a atenção. Mais pela reação do que pelo caso em si. Justamente porque o autor dos disparos não se encaixa em um perfil “adequado”, digamos assim, para a grande imprensa explorar essas “mazelas” citadas. Comentei, com base nisso, em meu canal do Facebook mais cedo:
Parece que a reação ao atentado de ontem nos EUA já perdeu intensidade. Pode ser impressão minha, mas é como percebo as coisas hoje. Perguntar não ofende: seria porque o atirador era negro e budista? Isso pode dar um nó na cabeça da imprensa progressista. Será que se ele fosse branco e católico a coisa estaria “fading out” de forma tão acelerada? Fica a dúvida…
O comentário gerou um bom debate, com muita gente concordando que havia algo estranho no ar. Eu pensava em desenvolver melhor meu ponto de vista em um artigo, mas o diretor do Instituto Liberal, Alexandre Borges, antecipou-se e, como se costuma dizer por aí, “matou a pau”. Seu texto ficou excelente, e mostra bem o duplo padrão e a politização das reportagens sobre casos assim. Diz ele logo de cara:
O caso é exemplar como prova de que qualquer notícia que não reforce a narrativa dos jornalistas é descartada e que entre o interesse público e a agenda política a segunda sempre vencerá.
Nessa outra passagem, Borges toca na ferida narcísica e oportunista de Obama:
Quando Trayvon Martin foi morto por George Zimmerman, Barack Obama deu um discurso em que sugeriu que Martin poderia ser seu filho. E Aaron Alexis, não poderia também? Ou Barack Obama só adota seletivamente os negros que se encaixam na sua narrativa política?
O caso Zimmerman foi explorado pelo próprio presidente americano e pela grande imprensa de forma realmente abjeta. Já comentei sobre ele aqui. Chama a atenção que um negro morto por um hispânico em legítima defesa tenha se transformado em uma celeuma nacional sobre racismo, enquanto milhares de assassinatos de negros por outros negros sejam apenas “estatística”.
Outro aspecto que sempre surge após esses atentados é o debate sobre o desarmamento. O lobby contra as armas é forte e organizado. Ignora que países como a Suíça e Israel possuem ainda mais armas per capita, e são menos violentos. Ignora ainda que os estados americanos que proíbem ou dificultam a venda de armas são mais violentos.
Por fim, como argumenta Borges no artigo, ignora que as “zonas livres de armas” têm se transformado em um convite ao crime. O que parece fazer todo sentido: quando se sabe a priori que as armas estão vetadas para os cidadãos de bem, qualquer um com má intenção se sentirá mais confortável para atuar nesses locais. Winsconsin foi politicamente incorreto, mas nem por isso ilógico, ao expor essa placa na entrada do estado:
Eis o que temos após essa nova tragédia nos Estados Unidos: os “especialistas” de sempre buscando bodes expiatórios para culpar pela desgraça, como o vídeogame; ilações sobre a venda de armas por trás dessas ocorrências; e, após a constatação de se tratar de um negro e budista praticante, a perda acelerada de interesse pelo assunto, seguida pela constatação de que era um “perturbado mental” que ouvia vozes.
Em suma, Aaron Alexis não podia ser filho de Obama, ao contrário de Trayvon Martin, e, ao não se encaixar no perfil que atende aos anseios de vitimização da imprensa esquerdista, deve logo perder espaço para outros assuntos da pauta. Conclui Borges:
Como Aaron Alexis é negro, budista, atirou com pistolas de mão numa “gun free zone”, sua história simplesmente não interessa e tem tudo para ser rapidamente esquecida.