Confesso ao leitor: já “colei” na escola. Era algo raríssimo, que posso contar nos dedos de uma mão (incluindo a faculdade). Ainda assim, nas pouquíssimas vezes que tentei “colar”, o fiz inseguro, sentindo-me mal por isso. Os psicanalistas poderiam diagnosticar um “supereu” enorme, aquele “outro” imparcial que fica de olho em nós, julgando, algo como aquele santinho que aparece nos desenhos animados contra o diabinho do outro lado.
O fato é que considerava – e ainda considero – a “cola” uma coisa errada. Nunca agi com naturalidade, como se ela fosse a coisa mais básica de uma escola, algo que apenas os otários se recusariam a praticar. Sou daqueles chatos que dá importância às pequenas coisas. Não ficaria com alguns trocados extras em um troco errado, e acho que quem faz concessões porque o delito é trivial, acaba abrindo as comportas da imoralidade.
Digo tudo isso pois o artigo de Gustavo Ioschpe na Veja desta semana lavou a minha alma – e a de muitos outros “caretas” e “certinhos” por aí. Nosso especialista em educação condena justamente a “cola”, e não alivia a barra daqueles que a julgam banal: é o caminho do relativismo ético e moral que vai permear toda a sociedade depois.
O mais interessante é que seu artigo vem logo depois de uma ótima reportagem sobre a Nova Zelândia e suas lições para o Brasil. Entre as principais, justamente a questão ética, dos princípios, do rigor com os menores delitos. O texto tem tudo a ver com o tema que venho abordando aqui, sobre o fato de que uma nação de “malandros” conseguiu criar apenas um país de otários. Segue um trecho, mas recomendo a leitura na íntegra:
Por isso lanço a campanha: abaixo a cola na escola! Ensinemos nossos filhos que “colar” não é louvável, não é instrumento básico de sobrevivência, não é coisa de quem tem “flexibilidade” e “jeitinho” para se dar bem na vida amanhã, e sim algo errado, desleal, ponto. A ética importa, mesmo nas pequenas coisas.
Rodrigo Constantino
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