
O professor da UFRJ Haroldo Mattos de Lemos publicou um artigo hoje no GLOBO em resposta ao meu texto “Algemas verdes”, uma resenha do livro do ex-presidente da República Tcheca Václav Klaus. Acredito que mereça uma resposta, pois o próprio autor reconhece logo no começo que há maus profissionais entre os ambientalistas, como em qualquer outra área, ou por ignorância, ou por má-fé.
Separar o joio do trigo é crucial, portanto. O professor se diz decepcionado com meu “preconceito”, mas creio se tratar de um mal-entendido. Ataquei o ambientalismo justamente como seita, ou seja, aqueles que usam o meio-ambiente, ou mais especificamente o ecoterrorismo, para atacar sempre o modelo capitalista de livre mercado e demandar sempre mais intervenção estatal.
Julguei ter deixado claro em meu texto que era desses, e apenas desses que eu falava. Escrevi bem no começo para não deixar dúvidas: “São os ambientalistas, uma seita que mascara profundo desprezo pelo avanço capitalista e tenta monopolizar a legítima preocupação com o meio ambiente”. Ou seja, nem todo aquele que se preocupa com o meio-ambiente é um “ambientalista”, no sentido que Klaus deu ao termo e eu aproveitei.
Não dá para negar que o movimento ambientalista como tal virou uma seita ideológica. Há todos os indícios disso, como apontei no texto. Ainda citei seu “profeta” Al Gore para deixar bem claro de que tipo de gente estava falando. Não de capitalistas sinceros que se preocupam com o impacto das atividades humanas no meio-ambiente, e sim daqueles que encontraram refúgio no ambientalismo para condenar o capitalismo.
O professor frisou que há quase uma unanimidade sobre o aquecimento global, mas esse não é, nem de perto, o principal ponto para os céticos. O debate começa mesmo quando surgem as propostas para lidar com a “grande ameaça”. Haroldo cita Nicholas Stern, mas seu relatório de 2006, usado por muitos como parâmetro para debate, foi alvo de várias críticas, inclusive de Klaus. Entre elas, o ex-presidente tcheco disse:
O relatório Stern basicamente considera “a taxa de desconto social” como próxima de zero. Essa hipótese “exagera de maneira absurda os impactos no futuro distante e racionaliza cortes profundos nas emissões e em todo o consumo do presente”. […] Uma taxa de desconto social igual a zero (ou que se aproxime de zero) faz o futuro parecer tão importante quanto o presente. Ouso dizer que tudo depende de entendermos ou não o absurdo dessa afirmação. Se não percebemos o quanto essa afirmação é absurda, então não faz sentido debater o assunto a sério, já que isso não levará a lugar algum.
Basta pensar em todas as previsões feitas no passado acerca de um futuro muito distante para cairmos na gargalhada com os erros absurdos. Tratar uma estimativa altamente incerta para um século à frente como algo concreto, como se fosse hoje, é um erro inadmissível. Infelizmente, muita gente bem-intencioada o comete.
Outro ponto importante é que mesmo o aquecimento em si pode não ser esse risco todo. Como lembra Klaus, com base em um autor cujo livro li e recomendo: “Indur M. Goklany (2007, 167) mostra que, de 1979 a 2002, 8.589 pessoas morreram devido ao calor excessivo, enquanto que houve 16.313 mortes devido ao frio excessivo. Aparentemente, um pequeno aumento na temperatura só melhoraria a situação, muito embora a mudança na temperatura seja um fator para apenas 0, 056% de todas as mortes”.
Contra uma estimativa distante totalmente incerta, Stern e seus seguidores demandam ações hoje que teriam custos altíssimos justamente para os países mais pobres. O apelo de precaução não pode ignorar um conceito tão básico como o custo de oportunidade. Isso seria algo que apenas os maus economistas fariam. Seria como demandar dos mais pobres pesados investimentos com recursos bastante escassos alegando que o custo da inação será provavelmente alto para seus netos. Não levar em conta suas necessidades prioritárias hoje é algo que julgo completamente equivocado.
Haroldo pensa que minhas palavras foram como pedras, e que eu devo um pedido de desculpas. Não tenho problema em assumir erros ou pedir desculpas, quando julgo procedente. Não é o caso. Se o professor não faz parte dessa seita que descrevi, não tem por que se sentir atacado. A carapuça não precisa lhe servir.
Com quem não encara o clima como uma nova religião e está disposto a debater seriamente custos e benefícios, levando em conta nossa profunda ignorância diante de fenômeno tão complexo e, principalmente, com o futuro que nos aguarda, não tenho nenhum tipo de problema. Ao contrário: considero um aliado no bom debate civilizado e necessário.
Não acho que podemos afirmar que esses compõem a regra, e não a exceção, quando se trata do movimento ambientalista em geral, repleto de “melancias”, aqueles que são verdes por fora, mas vermelhos por dentro.
Rodrigo Constantino
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