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Black Bloc é glamourizado em cinema

Quem já leu Esquerda Caviar sabe que o fenômeno não está restrito ao Brasil. Pelo contrário: pululam esses tipos em Hollywood. Pois saibam que Wagner Moura chegou tarde. Já tem filme estrangeiro enaltecendo o Black Bloc. É o caso de “The East”, que no Brasil virou “O Sistema”. Eis a sinopse:

A funcionária de uma empresa de inteligência tem como tarefa se infiltrar em um misterioso grupo anarquista, conhecido por atacar grandes corporações. No entanto, sua lealdade é testada quando ela começa a apresentar sentimentos pelo líder do grupo.

A trama é manjada. Moça idealista que trabalha para empresa de espionagem e acaba desenvolvendo sentimentos pelo grupo anarquista, ao descobrir seu lado humano (comem, por exemplo, com camisas-de-força, um dando comida com a boca para o outro ao lado, para mostrarem que não são egoístas).

Rapaz rico que perde os país em acidente de barco, herda uma fortuna, começa a ser tratado de forma diferente por todos e descobre que gosta disso. Resolve, então, queimar a casa, abandonar a grana e virar líder de seita revolucionária (sempre penso que seria melhor para o mundo se essa gente deitasse num divã ou tentasse expiar a culpa de formas mais prosaicas).

Filhinha de papai milionário se rebela pois a empresa do pai contamina um rio, afetando a vida de pessoas inocentes, e entra para o grupo anarquista para se vingar do pai.

Médico que tomou um remédio contra a malária e teve efeitos colaterais que constavam no alerta apenas na lateral escondida da bula, passa a ter tremedeira que afeta sua carreira, perde a irmã por causa do mesmo remédio, e resolve entrar no grupo para se vingar do laboratório farmacêutico.

E por aí vai. As corporações são retratadas no filme como cruéis, insensíveis, que só querem lucrar e não ligam para mais nada. Nem passa pela cabeça deles que vender remédio ruim, que vai gerar milhares de doentes ou causar até morte, não costuma ser bom negócio para a empresa como um todo. Não vem ao caso. A fórmula é simples: corporação é ruim, jovens são idealistas e querem salvar o mundo.

Para provar que não há visão maniqueísta, o líder do grupo vai longe demais. Ele passa a amar mais a Humanidade do que o próximo. Os demais não aceitam seus métodos até o fim, não acham que vale tudo para derrotar o “sistema”. Eis o único dilema do filme: é válido apelar para a violência, sacrificar inocentes para fazer justiça com as próprias mãos? Ou isso torna os revolucionários tão ruins quanto as corporações que querem destruir no “olho por olho, dente por dente”?

Estragando um pouco o final para quem ainda não viu, a espiã resolve mudar de lado, adere aos revolucionários, mas sem aceitar o estilo do líder. Ela vai salvar o mundo só com o seu poder de persuasão. Se ela ao menos mostrar para todos os outros espiões que as corporações são malvadas, todos vão acordar e mudar de lado, e o sistema será colocado em xeque. É lindo! O romantismo idealista ainda vende bem.

O nome do filme é sugestivo. Qual sistema é podre, mata bichos no mar só para ter petróleo disponível para aquecer a casa de seres humanos egoístas, tem laboratórios que vendem remédios podres só para lucrar um pouco mais, despeja veneno em rios, etc.? O sistema capitalista ocidental, claro! Logo, o grupo “The East” vai detonar com o modus vivendi da turma do “The West”.

Detalhe: o filme é parceria americana e britânica, e foi orçado em US$ 6,5 milhões. Não é obra do Irã ou da Venezuela. O Black Bloc quer destruir o “sistema” mais livre e próspero que existe no mundo. E acaba enaltecido pelos bárbaros que vivem nesse mesmo sistema, desfrutando de todas as suas vantagens. Quem precisa de inimigos externos?

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