O Brasil, às vezes sou forçado a concordar, sofre de complexo de vira-latas. Adora importar manias do “estrangeiro”, especialmente dos americanos. Importa manias, mas não importa o que há de melhor na cultura de lá: o respeito pelas liberdades individuais e pela meritocracia.
Enfim, agora virou moda a tal da Black Friday por aqui, ou “Sexta Negra”, já que “Black Friday é o cacete”, como diria Ancelmo Gois (e nada mais complexo de vira-lata do que essa infantil rejeição aos “estrangeirismos”, capisce?).
Só tem um problema: no Brasil, há malandro demais para otário de menos. Por conta disso, vários varejistas sobem os preços na véspera para anunciar um corte de até 60% na sexta-feira e enganar os desatentos. Vai aí uma TV pela metade do dobro?
A todos esses “malandros”, gostaria de recomendar o ótimo livro do diplomata francês Alain Peyrefitte, A Sociedade de Confiança, que o Instituto Liberal tem à venda por módicos R$ 10 (e não apenas na Black Friday, como também na Blue Monday, na Green Tuesday, na Yellow Wednesday, e na Brown Thursday).
Um país sem confiança nas trocas comerciais e nas regras do jogo é um com o custo de transação bem maior, o que prejudica muito a produtividade.
A sociedade de desconfiança é uma sociedade temerosa, ganha-perde: uma sociedade onde a vida em comum é um jogo cujo resultado é nulo, ou até negativo (“se tu ganhas, eu perco”); sociedade propícia à luta de classes, ao mal-viver nacional e internacional, à inveja social, ao fechamento, à agressividade da vigilância mútua.
Pelo que soube, já constam mais de 1.700 reclamações de clientes indignados com essa malandragem das promoções “jabuticaba”, aquelas que só existem por aqui. Até quando vamos ser tão malandros a ponto de parecermos tão otários?
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