Muitos leitores me pedem para escrever em apoio de uma possível candidatura de Jair Bolsonaro (PP-RJ) à presidência da República. Em parte, isso se deve ao texto em que destaquei sua importância no Congresso, ao atuar como o “exército de um homem só”, e também ao esforço que venho empreendendo em uma união tática contra o PT, sendo a prioridade nacional justamente evitar a desgraça bolivariana.
Por isso mesmo gostaria de evitar o “fogo amigo”, mas creio não ter mais como fugir disso. É que muitos já estão indevidamente me tomando como um grande fã de Bolsonaro, como se ele representasse na política o grosso daquilo que eu defendo, como se fosse uma dádiva sua candidatura. Não! Eu definitivamente não tenho esse ponto de vista. Vou tentar explicar os motivos.
O principal deles está na pesquisa que Leandro Narloch fez para seu mais novo Guia Politicamente Incorreto, perguntando aos deputados se acreditavam em uma lista de declarações sem citar a origem. Divulguei justamente esse capítulo do livro em primeira mão aqui no blog. Bem, a origem era Mussolini, e Bolsonaro foi o segundo deputado que mais concordou com o fascista.
É verdade que todos os demais que concordaram eram de esquerda, o que comprovava a tese de “fascismo de esquerda” que Narloch desejava testar. Mas esse representante da direita estava lá, aplaudindo afirmações bastante autoritárias e estatizantes. Precisamos lidar com esse resultado de forma honesta.
Bolsonaro tem seu papel, que é justamente o de combater com estridência a maré vermelha, os comunistas e socialistas que vestiram novas embalagens, mas continuam com o mesmo objetivo. O fato de ele não aparentar ter pretensões majoritárias até o momento fez com que ele pudesse radicalizar nesse nicho, atuando quase isolado (daí minha analogia com o exército de um homem só).
Mas presidência é outra história. Exige acordo com a base aliada, tolerância, algum jogo de cintura, saber contemporizar, respeitar opiniões divergentes, ou seja, tudo aquilo que o PT não sabe fazer. Bolsonaro saberia? Pouco provável. Seu tom não é o de um conciliador ou agregador, mas o de resistência, de alguém que existe politicamente para ser um obstáculo a um mal maior, não para liderar o país na direção correta.
Cada macaco no seu galho. Acho que muitos, desesperados com o risco bolivariano (compreensível), estão confundindo as coisas. Valorizo a família, condeno os excessos do movimento gay, preocupo-me com a degradação de valores morais em nossa sociedade, e tudo isso me trouxe mais para perto do conservadorismo “de boa estirpe”, aquele de linhagem britânica, desconfiado de utopias e revoluções e mais fiel a certas tradições e valores.
Mas vai uma longa distância entre isso e abraçar políticos com viés mais autoritário que enxergam no estado a locomotiva para “fazer o bem”. Eu quero evitar o mal, o que é bem diferente! Continuo sendo um liberal, defensor de uma Grande Sociedade Aberta, e se condeno certas tendências estranhas, faço isso dentro do debate cultural. Não quero que o estado se intrometa demais nos assuntos morais, o que seria catastrófico e ameaçador para nossas liberdades individuais. Eis uma confusão que muito “liberal” ou libertário tem feito em relação aos meus alertas.
Que Bolsonaro continue fazendo seu importante trabalho no Congresso, representando uma voz isolada ali, mas não na sociedade. O homem é uma barreira humana contra os vermelhos, uma enorme pedra no sapato dos socialistas. Mas isso não faz dele alguém adequado para voos mais altos, para assumir a liderança do país inteiro. Isso exige um perfil mais tolerante e de mente mais aberta. Enfim, alguém mais liberal.
Vamos derrotar o PT nas urnas. O Brasil não vai ser a próxima Venezuela. Assim espero, e para isso eu luto. Mas faremos isso solidificando nossa democracia e nossas instituições republicanas, e não pedindo a volta dos militares (último caso, apenas na iminência de uma guerra civil ou uma “venezuelização”). Eleger para presidente alguém que enaltece o regime militar todo não é minha praia. Algo bem diferente é elogiar seu papel no esforço de contextualizar 1964 e, principalmente, lembrar que os comunistas não desejavam democracia coisa alguma. Isso é meritório.
Sei que esse texto vai decepcionar muitos leitores, mas sou fiel a apenas um mestre: minha consciência, minha honestidade intelectual. Não ando em bandos, não procuro patota, não sou parte de seitas. Sou um liberal. Por isso mesmo posso bater de frente com muitos liberais quando acho que estão equivocados, sendo “acusado” de conservador por eles, e por isso posso respeitar mais um social-democrata esclarecido e civilizado do que muito libertário dogmático. Eu defendo o que considero certo.
E não considero certo ter Jair Bolsonaro na presidência. Meu voto é outro. Pode não ser em um liberal legítimo, pois essa alternativa infelizmente não há. Mas será em quem mais se aproxima desse meu ideal. Espero sinceramente que o PT não consiga despertar no povo a crença de que apenas com autoritarismo vamos derrotá-lo. Se for esse o caso, então o PT já venceu, e o Brasil perdeu…
Rodrigo Constantino