Sigamos na série “Brasileiro é otário?”, pois nada como mostrar casos do cotidiano para expor as mazelas do intervencionismo estatal, do protecionismo comercial, dos obstáculos à livre concorrência erguidos pelo governo, e dos enormes impostos brasileiros.
Muitos já sabem que o consumo de vinho tem crescido a taxas elevadas há anos. O brasileiro descobriu os segredos de Baco! O filósofo Pondé chegou a ironizar a “breguice” da classe média bebedora de vinhos chilenos que lotam os aeroportos em busca do turismo da moda. Ataque estético à parte, o vinho chileno tem ótimo custo / benefício, é fato. Mas…
Se o benefício é o mesmo em todo lugar, o custo nem tanto. Vamos comparar um vinho médio do tradicional produtor Concha y Toro, o maior do país. Nem peguei seu astro, o Almaviva, pois aí seria covardia demais. Fiquemos com um vinho acessível a maior parte dos leitores: um Gran Reserva Carmenere 2010. Bom vinho, em minha humilde opinião.
Na Wine.com.br ele sai pela bagatela de R$ 70. Não é molezinha. Para um seguidor de Baco que consuma uma garrafinha apenas por semana, para não ir à bancarrota, seu gasto anual seria de R$ 3.640 (R$ 70 x 52 semanas). É uma boa grana, e precisamos começar a fazer contas anuais, como fazem os americanos, para ter uma dimensão melhor da coisa.
E o americano? Bom, sempre lembrando que ele é bem mais rico (para ser mais preciso, umas quatro vezes mais rico na média)*, ele encontra na Happy Wine o mesmíssimo vinho, até da mesma safra, por menos de US$ 15. Convertendo isso ao câmbio já bem desvalorizado dos últimos dias, de R$ 2,40 para arredondar, temos menos de R$ 36 por garrafa, ou praticamente a metade do valor que o brasileiro “esperto” paga.
Isso, em contas anuais para o mesmo patamar de consumo (uma garrafa por semana), dá R$ 1.870. O americano economizaria R$ 1.770, aproximadamente, em relação ao brasileiro. Ambos teriam desfrutado do mesmo benefício nesse período, mas que diferença no custo! O americano pode consumir a mesma quantia de vinho, e ainda dá para trocar de iPhone a cada ano, e uns trocados. Sem esquecer de que ele é quatro vezes mais rico!
E então, acha que o brasileiro é malandro? Não satisfeito, o governo tentou partir para mais protecionismo em 2012. Ele queria garantir mais mercado ainda para os produtores nacionais de vinho, elevando os impostos dos demais. À época, gravei esse vídeo propondo um boicote ao vinho nacional:
httpv://www.youtube.com/watch?v=g1NwfdodXvs
É complicado ser brasileiro. Temos que pagar mais caro por tudo! O caso de hoje foi apenas mais um entre tantos. Lembrando que o produto comparado caiu no gosto popular dos brasileiros, e tem origem chilena, ou seja, um país latino-americano, aqui pertinho. Mas seu vinho chega pela metade do preço lá em Miami, para o consumo de um povo quatro vezes mais rico. Brasileiro “esperto” paga, então, oito vezes mais pelo mesmo produto, ajustando pela renda. Obrigado, governo brasileiro!
* Segundo o CIA World FactBook, a renda per capita americana era US$ 50.700 em 2012, contra US$ 12.100 do brasileiro.
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