É o que diz à Folha Paulo Leme, economista que comanda o banco de investimento Goldman Sachs no Brasil. Paulo é filho do saudoso professor Og Leme, um dos fundadores e principais expoentes do Instituto Liberal, que tenho agora a honra de presidir. Seguem alguns trechos da entrevista, pois o alerta é fundamental e vai ao encontro do que tenho exposto em meus artigos:
A política fiscal está muito expansionista, o que aumenta a inflação e contribui para o deficit em conta-corrente. Em vez de gastar com hospitais, escolas, transporte público, o governo está gastando em salários, aposentadorias.
Esse modelo está levando a uma despoupança doméstica, que está sendo financiada por investidores estrangeiros.
Se você toma empréstimos no exterior ou atrai investimento direto estrangeiro e, com isso, investe em indústrias ou atividades que geram receitas em dólares no futuro, o pagamento dos juros dessa dívida está garantido.
No nosso caso, não, os empréstimos foram queimados com turismo da Disneylândia, malas cheias de bens vindas de Nova York ou Miami. Essa conta vai chegar.
E o que acontecerá?
Quando tivermos que pagar esse serviço da dívida, não teremos a receita dos investimentos porque ela foi consumida. Você vai ter que desacelerar a economia, reduzir o consumo e os salários reais, que são fonte da inflação, e isso ocorre através do aumento do desemprego.
Por último, você tem que desvalorizar o real, tornar a economia mais competitiva. Creio que, em 12 meses, o câmbio estará perto de R$ 2,50 e, em dois anos, de R$ 2,75.
[…]
Quando de fato o Fed (banco central americano) resolver subir a taxa de juros, o mercado já terá antecipado isso, o que poderá levar a uma queda dos investimentos ou da capacidade das empresas brasileiras, que estão endividadas em dólar, de rolar sua dívida externa.
[…]
A gente decidiu aumentar a participação dos funcionários do setor público, que é muito onerosa. O salário mínimo tem uma consequência fiscal e sobre a inflação. São escolhas. Não temos feito as melhores escolhas.
É isso: o modelo dos 3Cs (Consumo, Crédito & Commodities) se esgotou, mas o governo parece ainda não ter notado. Insiste no modelo ultrapassado, o que coloca em risco nosso futuro. Durante a fase da bonança, os brasileiros se endividaram ou usaram suas economias para viajar para a Disney, aproveitando a moeda valorizada. Agora, a conta está chegando. Cigarras irresponsáveis esquecem que o verão não é eterno. Quando chega o inverno…