Deu no Valor:
Os bancos privados querem que o governo ofereça garantias adicionais para a liberação de novo empréstimo de R$ 3,5 bilhões que vai socorrer o setor elétrico.
O governo espera que, até sexta-feira, os bancos aceitem a proposta do governo e façam um empréstimo adicional. Em maio, um grupo de bancos já havia desembolsado R$ 11,2 bilhões à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Além do dinheiro do grupo de bancos, o governo também determinou a participação do BNDES, que entrará com outros R$ 3 bilhões. O Valor apurou que o banco de fomento não queria participar da operação.
Segundo fonte ligada às negociações, com os R$ 6,5 bilhões, seria equalizado o problema de fluxo de caixa das distribuidoras e, portanto, não haverá novos empréstimos para o setor neste e no próximo ano.
“Não teremos mais empréstimo em 2014”, ressaltou a fonte, destacando que as instituições financeiras ainda estão avaliando o pleito do governo. […]
A avaliação de executivos dos bancos privados é que as condições do setor só se deterioraram recentemente, por isso mais garantias seriam necessárias agora. O governo, porém, durante a última reunião com os bancos, tentou mostrar o contrário, afirmando que o pior já havia ficado para trás.
Ainda no Valor:
A Eletrobras informou ontem à noite, por meio de um comunicado ao mercado, que fechou captação de empréstimo de R$ 6,5 bilhões junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal. A operação terá garantia da União e os recursos serão destinados, segundo a estatal, à conclusão de metas de seu plano diretor de negócios.
A Caixa Econômica Federal entrará com R$ 2,5 bilhões e o Banco do Brasil, com outros R$ 4 bilhões. Os recursos serão desembolsados em até três parcelas até 2015. O montante será pago em oito anos, com dois anos de carência, ao custo anual de 119,5% do CDI e taxa de estruturação de 0,75%. O empréstimo não está relacionado ao pacote de ajuda às distribuidoras de energia, também no valor de R$ 6,5 bilhões.
Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, bancos privados vinham negociando há cerca de um mês a concessão de empréstimo para a Eletrobras, mas desistiram da operação devido à falta de garantias. “O desenho final de garantias não satisfez”, disse um executivo de uma das instituições que participaram das conversas.
Resumo da ópera: o governo intervém de forma arbitrária e populista no setor elétrico para colher alguns dividendos políticos. Dilma vai inclusive à televisão anunciar com fanfarra a redução das tarifas na marra. As medidas do governo desorganizam o setor todo, e os investimentos recuam. O risco de apagão é enorme, só mitigado pelo fato de que a economia parou.
O governo, então, resolve usar seus bancos estatais para impor uma ajuda financeira que os bancos privados rejeitam, por julgá-la arriscada demais. O critério das decisões da Caixa, do Banco do Brasil e do BNDES é estritamente político, não econômico. Seguem ordens do governo federal, que mira nas eleições. Pouco importa o risco que isso representa em suas carteiras de empréstimos.
Compreender essa novela no setor elétrico é suficiente para jamais defender novamente um estado intervencionista e empresário. Por que os bancos privados, tão gananciosos e ávidos por lucros, recusam-se a emprestar nessas condições? Porque não rasgam dinheiro e medem bem seus riscos, uma vez que o próprio capital dos acionistas está na reta.
O mesmo não ocorre quando se trata do governo, o maior banqueiro do país, com metade do total do crédito nacional. Não há escrutínio de sócios preocupados com o retorno dos investimentos, com o risco de perdas, nada disso. Há, isso sim, políticos de olho nas eleições sacrificando as estatais em prol desse único objetivo. É um convite ao populismo irresponsável.
É verdade que mesmo sob o controle estatal é possível ter uma gestão menos irresponsável, como o PSDB já demonstrou, colocando um quadro mais técnico nas empresas e mantendo razoável independência. Mas o risco estará sempre presente, à espreita, pois a tentação é muito grande.
Basta um partido populista e arrogante como o PT chegar ao poder e essas estatais se transformam automaticamente em braços partidários. Só há uma solução estrutural e de longo prazo: privatize já!
Rodrigo Constantino
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