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Casal Kirchner já foi “abutre”: a doce hipocrisia da esquerda caviar

Fonte: Estadão

Deu no Estadão:

Há poucas semanas, em pleno conflito judiciário, a presidente Cristina Kirchner criticou os holdouts (fundos de investimentos que não participaram das renegociações de dívida) por tentarem conseguir elevados lucros com os títulos da dívida pública argentina que anos atrás haviam comprado a baixo preço, quando estavam desvalorizados pelo calote de 2001. “Eles querem lucro de 1.600%!”, exclamou a presidente na ocasião. Visivelmente irritada, criticou a ofensiva que os holdouts fazem nos tribunais em Nova York para conseguir o embargo de bens do Estado argentino nos EUA ou o pagamento da totalidade da dívida.

“Abutres” é a denominação que o governo da presidente Cristina aplica aos holdouts, aos quais acusa de conspirar contra a Argentina. 

No entanto, o modus operandi dos “abutres” é similar ao que o próprio casal Néstor e Cristina Kirchner aplicou na Patagônia durante a ditadura militar (1976-83), quando enriqueceu graças a execuções hipotecárias.

Recém-formados como advogados em La Plata, os Kirchners em 1976 instalaram-se em Rio Gallegos, capital da Província de Santa Cruz, como assessores jurídicos da agência financeira Finsud, que realizava cobranças extrajudiciárias. 

O jovem advogado, quando ficava sabendo que um proprietário deixava de pagar a parcela mensal de crédito, ia até sua casa e lhe explicava que tinha poucas opções. Uma delas era resignar-se a ter a casa leiloada e ficar sem nada. A outra, a de vendê-la ao próprio Kirchner por um preço significantemente inferior ao valor real.

[…]

Segundo diversas investigações jornalísticas, em apenas cinco anos, entre 1977 e 1982, o jovem casal comprou 22 propriedades. “Compraram as casas daquelas pessoas que não podiam pagar”, explicou anos atrás o ex-deputado Javier Bielle, da União Cívica Radical de Santa Cruz.

Além disso, o avô de Kirchner era conhecido como “agiota” na região. Ou seja, pimenta no olho dos outros é refresco. A esquerda tenta monopolizar as virtudes, adotar um discurso demagógico, condenar nos outros aquilo que ela mesmo pratica.

O discurso de esquerda costuma variar de acordo com a ocasião. Um especulador bilionário como George Soros pode, de repente, ser o ícone das boas intenções “progressistas” quando assina gordos cheques para ONGs esquerdistas. Não há preocupação alguma com a coerência. Faça o que eu digo, não o que eu faço.

Agora, prestes a mais um calote, o governo da Argentina prefere acusar os “abutres”, ignorando que cavou o próprio buraco. Kirchner diz que não se trata de calote, mas como disse Alexandre Schwartsman:

Existem três situações: o devedor tem o dinheiro e não quer pagar; quer pagar mas não tem o dinheiro; ou ele quer pagar, tem o dinheiro e a Justiça não deixa. Independentemente das motivações, o credor não está recebendo, então é um calote. Não importa se foi porque a mãe ficou doente, se houve problema no banco: se não foi pago, é calote. Podem até chamar de Juan, de Ernani, mas para mim é calote.

Discussão semântica à parte, eis o que importa aqui: uma vez mais a esquerda latino-americana, que gosta de posar de abnegada e vítima, é desmascarada. Isso sem esquecer que o verdadeiro abutre nessa história toda não é o especulador que quer seu investimento de volta, e sim o governo que destrói as finanças de um país inteiro.

Rodrigo Constantino

 

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