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Conhecimento e poder: a teoria da informação e a revolução capitalista
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Entropia: É uma medida do grau de desorganização que pode levar a falência de um sistema (entropia negativa). No âmbito da administração significa um sistema que já não se adapta ao ambiente empresarial atualizado.

Eis a terceira opção de significado para o termo no dicionário, e a que nos interessa aqui. Em Knowledge and Power: The Information Theory of Capitalism and How it is Revolutionizing our World , George Gilder faz uma eloquente defesa da fundamental importância da entropia para o progresso. É da “desorganização” aparentemente caótica dos mercados que vem todo o avanço de que desfrutamos nas sociedades capitalistas.

Os “milagres” proibidos na física determinística não são apenas rotina na economia, mas sim a mais importante característica dos eventos econômicos. Gilder foi o autor vivo mais citado por Ronald Reagan, um dos expoentes da supply-side theory, que rebate o foco obsessivo dos keynesianos pela demanda agregada. Ele sabe do que está falando.

Quanto mais livre for uma economia, mais a diversidade de conhecimento humano se manifestará. Por outro lado, o poder político se origina de processos de cima para baixo, com instituições e regulações criadas pela elite intelectual e econômica – sempre tentando reduzir a diversidade e impor a ordem.

Segundo Gilder, a economia não é apenas um mecanismo de incentivos, mas sim de informação. A chave para o crescimento não é adquirir bens pela busca de recompensas monetárias, mas a expansão da riqueza pelo processo de aprendizagem e descoberta. Crucial no processo de acúmulo de conhecimento surpresa (não antecipado) é a possibilidade de fracasso e bancarrota.

As teorias de desequilíbrio e desordem, de informação e ruído (“noise”), seriam os conceitos básicos para a boa compreensão da economia. A informação relevante é sempre surpresa. Não pode ser antecipada pelos agentes. Não está disponível no mercado ainda. O insight mais importante da teoria da informação para uso econômico é que a informação é medida pelo grau que ela teve de inesperada.

Falemos de um dos principais produtos modernos, que revolucionou nossas vidas. Quando Steve Jobs concebeu em sua mente a ideia do iPhone, ele precisou “codificar” isso em forma física para transmitir ao mercado. Isso requer design, engenharia, produção, marketing e distribuição. Tudo envolvendo milhões de agentes. É uma empreitada densa e complexa com informação em cada etapa.

Mas eis o crucial: para que possa surgir alguém como Jobs e seu produto revolucionário, duas coisas são necessárias: ampla liberdade econômica, para permitir as rupturas, o desequilíbrio e a inovação não premeditada; e sólidas instituições políticas.

Se Jobs tivesse que perder muito tempo com as regras arbitrárias do jogo, com moedas instáveis, com políticas erráticas, direito de propriedade incerto, ele provavelmente não teria condições de focar em sua habilidade específica da mesma forma. O ruído institucional atrapalharia as informações relevantes do mercado.

Para Gilder, portanto, é preciso haver um casamento entre sólidas instituições, que não emergem espontaneamente do próprio mercado, e ampla liberdade econômica. A peça-chave do progresso é o empreendedor e sua criatividade.

O papel do governo, então, não deveria ser estimular a demanda agregada, manipular taxa de juros ou câmbio, produzir déficit fiscal para ativar economia, selecionar campeões nacionais, nada disso; deveria ser a preservação de um ambiente favorável à inovação e ao empreendedorismo.

Os economistas deveriam abandonar essa obsessão por modelos de equilíbrio e compreender que economia é desequilíbrio, desordem, enquanto a política, as instituições, essas é que devem gozar de estabilidade e previsibilidade. Não se planeja a criatividade empreendedora; ela é justamente marcada pelo fator surpresa, sempre inesperada. Como diz Gilder:

A entropia é uma medida de surpresa, desordem, acaso, ruído, desequilíbrio, e complexidade. É uma medida de liberdade de escolha. Seus frutos econômicos são criatividade e lucro. Seus opostos são previsibilidade, ordem, baixa complexidade, determinismo, equilíbrio e tirania.

O que deve ser previsível é o império das leis, a estabilidade da moeda, as regras do jogo, a defesa do direito de propriedade, a regulação. Enfim, o papel que cabe ao governo, à política. Para Gilder, ao contrário do que pensam alguns libertários, como Rothbard, tais instituições não nascem espontaneamente. Precisam ser construídas, preservadas por elites corajosas, prudentes e sábias. Algumas vezes precisam ser defendidas até mesmo com o uso do aparato militar.

Em outras palavras, o lado da ordem deve ser preservado com boas políticas, com tradição de valores culturais sólidos, com confiança nas regras do jogo. Não seriam conquistas espontâneas. O lado da desordem deve ser a espontaneidade do livre mercado, com suas rupturas inovadoras provenientes da criatividade dos empreendedores. O autor conclui:

A teoria da informação nos diz que a ordem não é espontânea, a informação não é perfeita, os campos de jogos não são do mesmo nível; os direitos de propriedade e os direitos humanos não são automáticos. Eles devem ser respeitados e assegurados pela cultura, religião e política.

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