Já comentei aqui as rusgas entre Marco Aurélio Garcia e Ricardo Ferraço, após entrevista deste às páginas amarelas da Veja, acusando o primeiro de “chanceler de fato” do governo Dilma. Hoje foi a vez de o advogado Fernando Tibúrcio Peña colaborar com o “debate” em artigo publicado no GLOBO. No fundo, trata-se de um belo corretivo aplicado com sutileza em Garcia, que tentou vencer o debate no grito, sem ter razão.
Marco Aurélio Garcia, professor aposentado pela Unicamp, é um dos principais representantes do pensamento revolucionário de Gramsci no Brasil. Pode-se dizer que é mesmo o ideólogo gramsciano no Palácio. Apenas para refrescar a memória dos leitores, essa é a linha comunista que pretendia substituir as táticas mais belicosas de Lênin no Ocidente, para chegar ao mesmo destino – ditadura do “proletário” – pelas vias democráticas, subvertendo todas as instituições.
Ápice da cara de pau, Garcia alegou que seu crítico não definira o conceito de bolivarianismo e que vivia preso na época da Guerra Fria, mas são os próprios bolivarianos que pretendem resgatar “o que se perdeu na Guerra Fria”, ou seja, o socialismo, ainda que numa versão “do século 21”. Tibúrcio Peña, então, resolveu ilustrar o que seria bolivarianismo com exemplos práticos, para ajudar o professor Garcia em sua compreensão da coisa:
Quando vi a presidente Dilma Rousseff assinar o decreto que disciplina a criação dos conselhos populares, tive a impressão de que houve sim, muito diferente do que diz o professor Marco Aurélio, uma certa influência bolivariana. Sei que o diabo andou por ali, mas não saberia dizer com segurança que cara tem o diabo.
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Então, decidi sistematizar as características que moldam o bolivarianismo, como parte de uma atrevida experimentação com o fim de estabelecer as bases para um futuro conceito. As mais evidentes talvez sejam a dificuldade dos seus líderes para se desapegarem do poder e a formação de uma nova elite nos seus respectivos países.
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Hoje, além do presidente venezuelano Nicolás Maduro, discípulo de Hugo Chávez, outros três presidentes latino-americanos se autoproclamam bolivarianos: Evo Morales, Rafael Correa e Daniel Ortega. Manuel Zelaya, o caudilho hondurenho que o Brasil acolheu em sua embaixada em Tegucigalpa, outro bolivariano confesso, não é mais presidente (em que pese o intento frustrado de sua mulher, Xiomara, para tentar ressuscitar o zelaísmo). Foi apeado do poder por um golpe de Estado que teve como estopim as suas manobras para alcançar um segundo mandato, uma iniciativa tão aterradora para a Constituição de seu país, a ponto de sujeitar Zelaya a perder a cidadania hondurenha.
O autor continua elencando as práticas autoritárias dos outros, todas convergindo para o mesmo fim: perpetuação no poder custe o que custar, ainda que transformando a democracia apenas em um simulacro, uma farsa. E conclui: “Personagens de uma América Latina populista. Companheiros dos convescotes do Foro de São Paulo. Amigos do professor.”
Se, ainda assim, o professor Garcia tiver dificuldades para compreender o que é bolivarianismo e por que a proposta de “participação popular” do PT produz tantos calafrios nos legítimos democratas, então basta resumir ainda mais em uma equação extremamente simples: bolivarianismo = modelo venezuelano atual = miséria total, violência descontrolada e autoritarismo. Ou, ainda mais curto e grosso: bolivarianismo = ditadura esquerdista.
Rodrigo Constantino